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"Eu entendi agora. Sempre aconteceu assim. O amor era um sacrifício no altar do poder."

[...]

Duas horas se tornaram dois segundos nos olhos de Wooyoung.

Se perguntassem a ele o que tinha acontecido depois que usou seu último fio de força para se livrar de Chanyeol e abrir os portões do ringue de ferro dentro daquele clube imundo, ele não saberia dizer. Mas, em memória ao que tinha acontecido, haviam marcas por todo seu corpo das suas ações.

Sangue.

Havia muito sangue.

Em suas roupas, em suas unhas, em sua pele. Desde o momento no qual ele atravessou a gaiola, algo em si estalou. Uma força misteriosa, inconsciente e desconhecida movida pelo desespero e medo, ansiedade e adrenalina trabalhando juntos para empurrar Viktor para longe do corpo de San. Apenas fragmentos do que tinha acontecido estavam claros na sua mente depois que seu sangue esfriou e toda a adrenalina foi substituída pela sensação letárgica. Wooyoung lembrava vagamente de ter avançado, mas em seguida o cenário mudava e ele estava com a cabeça de San entre seus joelhos, sem se importar com o que acontecia ao redor enquanto mantinha-o firmemente apoiado, movido não só pela emoção, mas pela memória dos anos de cursos de primeiros socorros, o conhecimento de que ele precisava evitar mais danos, conservar um possível trauma cervical e imobilizar os membros machucados. A cena, então, mudava e Wooyoung não estava mais no ringue, não haviam mais gritos, euforia, onde estavam as pessoas? Wooyoung não sabia dizer como tinha saído dali. Wooyoung não sabia com que força conseguiu ficar de pé, como a imagem na sua mente onde ele estava em uma ambulância a caminho do hospital estava tão calma, mesmo quando o monitor dentro do veículo ligado a San começou a gritar "ele está morrendo" zombando de si, assim que a equipe de socorristas tentaram reanimar o lutador.

Duas horas que pareciam flashes de segundos, menos que um batimento inocente de uma asa de borboleta. Mas, não fazia diferença. Poderiam ter se passado horas, dias, meses, nada importava a não ser os dois segundos roubados de Wooyoung enquanto ele assistia tudo como espectador principal, o momento em que o corpo de San caiu no chão, aquele último olhar que atravessou seu corpo. Foi ali que a alma de Wooyoung pareceu ter sido arrancada e tudo então se transformou em uma experiência fora de corpo. O fisioterapeuta não sentiu-se presente em nenhum momento, como se estivesse sentado na frente de uma enorme TV, vendo seu corpo físico reagir ao exterior, mas sua alma fora de cena. Nem mesmo o som estridente da ambulância, o som do monitor longo, frio e cruel, ou a imagem tão feia e devastadora do seu lutador inconsciente na maca enquanto era transportado tiveram efeito sobre Wooyoung.

Ele parecia mais uma boneca. Oca e sem reação. Nem mesmo doía. O choque levou suas memórias, seus sentidos e sua emoção. Wooyoung não estava presente ali. Ele não sabia como tinha andado, falado e agido nas últimas horas, quem eram as pessoas que estavam ali agora no saguão do hospital, quem tinha ligado, como tinham chegado e honestamente, nem seus passos, firmes contra um chão sólido ele estava sentindo. O calor do seu corpo parecia distante, sua mente em desfoque e seus ouvidos como se estivessem submersos na água onde não dava pra ouvir nada. E ele estava um caos.

Especialmente, com o contraste branco e estéril do hospital, o branco destacando ainda mais suas roupas e rosto sujos de sangue, sua mão enfaixada precariamente. Por que minha mão está enfaixada?

As luzes queimavam suas retinas a muito tempo sem piscar, mas Wooyoung não se importou em desviar o olhar e buscar abrigo longe das luzes fortes. Ele contou. Um, dois, três... Até chegar no um minuto e acrescentar a mais uma hora que seria apagada da sua mente.

ROCKY; woosanOnde histórias criam vida. Descubra agora