Desunião familiar

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‒ Puta merda, toma cuidado! ‒ elevou o tom, temendo que esbarrasse nos próprios dedinhos e o tropeço fizesse eles rolarem até os últimos degraus.

Sim, era um alívio saber que não botava muita fé na coordenação motora de Seung Ho. Mal sabia como o rapaz tinha uma carteira de motorista.

Cora entrelaçou as mãos no pescoço de Seung, temendo que seu corpo decidisse subitamente parar de funcionar e ela desencontrasse as costas dele.

A família não suportaria mais um acidente em menos de 24h ‒ além de ser humilhante os dois se estabacarem juntos, dentro da própria casa da garota.

Na curva da escada, os pés do rapaz titubearam, vacilando no carpete comprido.

Cora se agitou, tateando em busca de algum apoio que evitasse sua futura ‒ e totalmente traumática ‒ queda.

‒ Se você me deixasse enxergar, facilitaria as coisas ‒ repreendeu, fazendo a garota dar um sorriso constrangido e perceber que as mãos foram parar nos olhos de Seung.

‒ Ainda bem que você sabe que eu não costumo facilitar as coisas para você ‒ levou a mão para a orelha, puxando a cartilagem.

‒ Quase nunca ‒ rosnou entredentes, tirando uma mão que sustentava as coxas dela e a usando para abanar Cora ‒ Quer parar de me testar?

Espantou como se fosse uma mosca varejeira ‒ fazendo um bico se formar em seus lábios secos.

Ela sentiu os joelhos balançarem e um sopro repentino passar por suas feridas, não mais expostas. Ela odiava ter sido socorrida imediatamente por ele.

Era quase frustrante ter alguém bom em tudo por perto.

Cora podia jurar que aquela escadaria nunca pareceu tão grande, quanto naquele instante. O tempo com Seung parecia passar de uma forma diferente.

Estranha com o som das respirações ofegantes de ambos, emitiu um fraco sonido com a garganta.

‒ Então, o que ele disse? ‒ arrancou uma espiadela incompreensiva dele ‒ Yun. Como ele reagiu sobre minha irmã?

‒ Bom... ‒ a frase se perdeu no ar, forçando a mente de Cora a imaginar as mãos que a seguravam, passando pelos fios sedosos escuros ‒ Ele não reagiu.

Ah, não o culpo. No lugar dele também ficaria sem reação ‒ soprou uma risada enfraquecida, sem achar graça ‒ Se um dia chegassem em mim e me contassem que minha namorada corria o risco de não acordar mais...

‒ Sua namorada, Rara? ‒ indagou com um tom provocante. O mesmo tom que acompanhava seu sorrir ladino.

Travou a mandíbula.

A forma que a chamou ainda mexia com seu sistema nervoso. Torcia para as batidas no peito não vacilarem.

‒ Por acaso também seria sua, espertalhão? ‒ perguntou com teor irônico, segurando a vontade de dar um tabefe em sua nuca.

Foi uma grande prova de autocontrole. Estando ali, com a pele quente tão próxima e a nuca a mostra, tão convidativa.

Os dedos de Cora chegavam a coçar.

‒ O Junni... ‒ interrompeu com um suspiro ‒ Não teve como reagir porque ele meio que...Não sabe. Não sabe sobre Christa.

‒ Como assim? ‒ piscou, sem ter certeza de que havia escutado certo ‒ Não sabe sobre ela? E quando ele descobrir por meio de outro...

‒ Calma lá, ele não sabe ainda ‒ ressaltou, mordiscando o lábio inferior com certa apreensão.

‒ Ainda...

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora