Meu precioso

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O olhar de Christa intensificou-se, adotando um ar insistente. Praticamente sufocava Cora com a força da encarada.

Curiosamente, assim que o nome Seung escapou por sua boca, Cora sentiu uma brisa intrusa invadir seu corpo ‒ as maçãs do rosto esquentaram, da maneira mais irônica cabível dentro daquela conversa.

Tentou forçar sua boca a abrir para que pudesse soltar, no mínimo, um gemido em protesto. No entanto...

Talvez nem precisasse dizer nada, não depois de deixar nítido e exposto em sua face ‒ vermelha como um pimentão.

‒ Danadinha ‒ arquejou as sobrancelhas, movimentando com alto índice de safadeza. Aquela simples ação dava a entender o que se passava na cabeça da mais velha ‒ Sempre neguei quando repetiam que você seria a próxima Sandra Dee

‒ O que? Quem disse isso primeiro? ‒ e quem achou o comentário inteligente suficiente para repeti-lo? Completou com certo desgosto em pensamento.

Christa agitou a mão, como se estivesse afastando uma mosca varejeira incômoda. Se aproximando da irmã, teve certeza que ela não daria detalhes.

A mais velha era boa em guardar suas fontes. Podia contar a fofoca, mas jamais ‒ repetindo, jamais mesmo ‒ Revelava de onde tirara aquilo.

‒ Calma! Disse que repetiam, nunca cheguei a dizer se concordava ou não. Pelo contrário, nunca dei ouvidos ‒ garantiu com franqueza, sem nenhum indício de mentira por trás do sorrir sapeca.

Cora sentiu as mãos quentes em seus ombros, afagando carinhosamente a região. Admitiu ser reconfortante saber que Christa discordava que parecesse com uma atriz com cabelos perfeitos ‒, e uma fragrância de rosas ‒ dos anos mil novecentos e bolinha.

Perguntou-se se a irmã havia esquecido que não era mais virgem desde Derek ‒ seu primeiro namorado oficial, o primeiro de todo ensino médio que conseguiu ver como homem.

E ele a viu como mulher. Cora se sentiu uma mulher ali, ao seu lado, em baixo dele, por cima, de todas as formas possíveis.

Prestes a ser tomada pelo alívio, Christa consegue estragar tudo e romper o momento confortável entre as duas.

‒ Sempre achei que você era uma versão mais tímida da Sandy ‒ desceu as mãos pelos antebraços, retornando em um carinho. Mal parecia que acabou de dar um banho de água fria ‒ Faltava apenas um John Travolta bater na sua porta para despertar a fumante sexy de calças de couro que há dentro de você.

O rosto de Cora se contorceu apenas de escutar as palavras calça e couro na mesma frase. Não superaria o ocorrido da cabine tão cedo.

Ela realmente foi abençoada com uma imaginação fértil.

Com um longo revirar de olhos, segurou um bufar irritadiço.

Quando tudo parecia bem, Christa tinha a tendência de envolver homens e pênis e testosterona em geral nas conversas. O que para qualquer garota com hormônios no século 21, não seria um problema.

Mas Cora não se enquadrava nesse século, muito menos no que o seu gênero considerava atraente. Com charme suficiente para provocar e descer as calcinhas mais próximas.

‒ Deu minha hora de dormir. Que pena! ‒ afugentou os dedos da irmã, fugindo do toque em direção as escadas com passos rápidos ‒ Vamos terminar o assunto por aqui. Talvez possamos continuar outra hora, antes da minha Sandy interior voltar.

As pernas de Cora quase se embolaram na curva da escada, mas foi necessário e ‒ segundos depois ‒ reconheceu ter sido o próprio reflexo corporal, reagindo a...

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora