Alguma coisa não está certa.
Parou no meio do caminho, interrompendo os passos para se aproximar de uma loja qualquer. Brevemente reparou em uma coleção de contos infantis antigo, próximo de um bracelete e outros acessórios usados.
Inclinou-se para frente. Um pequeno risco apareceu em sua testa, analisando meticulosamente o reflexo, percorrendo desde a gravata, até o topete penteado.
Pela primeira vez pôde dizer que pegou um pente e teve o mínimo de trabalho para deixar os fios espetados organizados. Já era incrível o que um pouco de água e uma passada de mãos eram capazes de fazer no cabelo masculino.
Para não dizer injusto, afinal, como Cora precisava estar sempre com uma chapinha disponível, fora as idas ao cabeleireiro e a quantidade exorbitante de produtos para nutrir e manter o cabelo forte.
Parecia certo. Ao menos era para ser, mas a impressão de ter algo errado apenas tornava-se mais presente.
Assim que encontrou o par de olhos claros se afundou na intensidade. O ar de mistério a sufocava, de repente um estranho a encarava de volta.
Sentiu falta do esverdeado de suas próprias íris.
Respirou fundo.
‒ Ela deve estar por aqui ‒ balançou a cabeça, dispensando esses pensamentos incômodos. Retirou o celular do bolso do terno, chegando até o grande M e clicando na conversa ‒ Não pode ser.
Murmurou surpreso.
Cerrou a visão no pequeno número, voltando ao início do endereço e relendo até ser capaz de assimilar. 83 com a Park.
‒ Ponto de referência... ‒ engoliu em seco. Percorreu com o olhar pela área, parando bem no letreiro apagado ‒ Locadora. Achei que esses negócios tinham sido extintos.
De acordo com as mensagens trocadas, que não foram muitas, Conrad estava no lugar marcado. É difícil acreditar, mas Monet conseguia ser mais misteriosa ainda por mensagem.
Não conseguia decifrar suas expressões, porque não as via.
M:
Caro C, trate de usar sua melhor muda de roupas para esta noite.
Foi a última mensagem, antes de o rapaz perguntar se poderia usar uma das roupas de sua mãe para a tal ocasião.
Claro que apenas usou o artifício da ironia porque não sabia definir se a mensagem dela tinha sido séria ou não. Mesmo que esse não fosse o caso, Conrad decidiu arriscar e veio com um traje completo.
Paletó, calças, blusa social branca. Tudo encontrado diretamente no armário de seu pai, na parte escondida do armário ‒ cheia de tralhas acumulativas e blusas desbotadas que ele se negava a jogar fora por conter valor sentimental.
Nesse quesito lembrava um pouco Christa. Durante muitos anos da sua infância, Cora jurava que a mais velha escondia o leão de Narnia em seu guarda-roupa.
‒ Procurando algo em especial?
Uma voz melódica o acordou, piscando rapidamente.
A mulher mantinha a porta aberta com apenas uma mão, mantendo a cabeça de fora. Os dentes brancos destacavam o brilho do olhar amendoado, sendo convidativos.
Arraso. Era a palavra mais viável para descrevê-la.
‒ Sim, na verdade... ‒ acho que já achei o que procurava, ficou tentado a responder, mas lembrou-se que estava acompanhado de outra pessoa ‒ Estou procurando uma garota.
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Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADA
Roman pour AdolescentsCora tem grandes problemas, mas Seung Ho, definitivamente, não merece ficar entre eles. O que mais a frustra não é a atração inexplicável pelo amigo, mas sim a maneira como sua irmã desperdiça a vida correndo atrás de homens que não prestam. Ela não...