Enfim um irmão

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No cair da noite sentiu os músculos retesarem, dando espasmos

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No cair da noite sentiu os músculos retesarem, dando espasmos. Praticamente implorava para mudar de posição.

Sabia mais ou menos que horas eram pelo nível de escuridão. Mesmo com os olhos fechados notava o breu.

Por um longo momento concentrou-se no som de seu respirar forte. Se arrastava, abafado pela máscara de plástico encaixada na região da boca.

Era possível sentir sufocar usando a droga de uma máquina respiratória? Nunca soube de nenhum caso.

Meio transtornada, esticou os braços para baixo, sentindo um pequeno algo a trazer de volta. Um pequeno fio puxou sua veia.

Conteve o gemido dolorido de escapar, pressionando as costas contra o travesseiro. Nem a maciez aliviava o ardor inexplicável ‒ como de pastas amentoladas, mas em sua pior versão possível.

O soro entrava no braço queimando pela pressão, o furo não comprimia pelo fio Gostaria de arrancá-lo urgentemente.

A idéia tentadora se dissipou em sua mente quando um movimento estranho na cama roubou sua atenção.

Mexeu os dedos dos pés, verificando se não era a perna criando vida própria. Para seu espanto, outra pessoa dividia a mesma cama.

Com as pálpebras coladas forçou os cílios até desgrudarem aos poucos. Através deles pôde vislumbrar uma silhueta, um borrão que tomou forma.

Cora deixou um sopro surpreso escapar.

Os fios escuros de Seung Ho caiam pela testa, escondendo o semblante adormecido. As linhas amostra eram suaves, traços de um esboço, percorrendo o maxilar até o formato das bochechas.

A expressão marcante enfim parecia serena, mesmo que não estivesse em uma posição confortável. Deitava por cima dos braços, pressionando o rosto contra o lençol, enquanto o corpo encurvava, passando uma sensação de desconforto somente de olhar.

Na manhã seguinte teria um belo desvio de coluna.

Cora acompanhou o movimento sutil dos fios, hipnotizada. Subiam brevemente pela respiração, seguindo o ritmo das costas largas, subindo e descendo e repetindo tudo.

Com ele ali, ao lado, sabia de uma coisa. Não se sentira só, levando embora a sensação de abandono dos anos passados.

Anos distante das pessoas que amava. Mal sabia ela que Seung seria uma dessas pessoas, marcantes como trechos de livros.

Não soube dizer quanto tempo ficou admirando o rapaz adormecido. Ou a forma sobrenatural que a fraca iluminação das luzes externas do centro médico, destacavam os melhores pontos do rosto.

Apenas caiu no sono, dessa vez sem a sensação de queimação insuportável. O calor dentro do peito tornou aquilo suportável.

. . .

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora