Eu sei que você sabe

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‒ Dá só um segundinho ‒ pediu falsamente educado. Distanciou-se do corpo caído sem forças, ficando frente ao espelho ‒ Pelo visto alguém conseguiu amassar meu terno.

Conrad estalou a língua no céu da boca, passando as mãos pelos fios desgrenhados em uma tentativa de parecer que não foi atacado ‒ no caso que não atacou alguém.

Era incrível ter tido sua primeira briga dentro do banheiro. Para melhorar, conseguiu atacá-lo estando sóbrio, sem nenhum pingo de álcool na corrente sanguínea.

Seus olhos se arregalaram num estalo.

Merda. Seung ainda está aí?

Puxou o aparelho do bolso rapidamente. Por sorte, o ícone da chamada em andamento piscava na tela acesa, dando uma breve sensação de alívio.

Bem breve. Dissipando-se quando escutou uma voz feminina ao fundo.

Tadinho, está perdido?

Conrad cruzou as sobrancelhas, sentindo os membros do corpo, enrijecerem. Que porra estava acontecendo?

Acho que a Picasso tá aqui. Oi, loira.

‒ O que? ‒ encarou a escuridão, vendo o próprio reflexo pelo celular.

Não ouviu a voz do rapaz de novo, apenas um som de algo quebrando antes da chamada encerrar.

Uma sensação estranha surgiu na boca do estômago. Seja lá o que rolou, o que escutou não podia ser algo bom. Sequer conhecia a voz da mulher do outro lado da linha.

Maldita loira.

De repente uma risada ecoou pelas paredes úmidas do banheiro. A mesma risada amarga de antes.

‒ Está achando engraçado? ‒ perguntou sem desviar o foco do espelho. O azul e seus olhos escureceram, diante da própria imagem ‒ Imagino que apanhar seja divertido para você.

O homem não respondeu. Conrad quase agradeceu por enfim ter se calado, mas a gratidão foi tomada por um susto.

Os dedos suados envolveram seu tornozelo. O aperto despertou um alerta atrasado, não dando tempo suficiente para reagir quando a testa bateu contra o mármore frio da pia.

Ele quase caiu ‒ impedido pelos reflexos do corpo que ‒, com a ponta avermelhada dos dedos, agarrou instintivamente o material gélido.

A tontura ameaçou tomar conta, o deixando desnorteado. Apoiou os antebraços ali mesmo, encarando pelo reflexo do espelho o filha da puta, já levantado.

‒ Seu namoradinho parece bem ocupado ‒ sacudiu as mãos sujas na blusa, encurtando os passos entre os dois. O bafo quente batia contra sua nuca, cheirando a cachorro molhado ‒ Fiquei preocupado atoa. A garçonete é sua amiguinha e você não passa de um boiola.

Esse cara era toda a escória da terra em um lugar só.

Conrad limpou o canto da boca com uma passada de dedo. Não conseguiu disfarçar a risada seca.

‒ Até seus sapatinhos são de mariquinha ‒ soltou uma gargalhada forçada, pressionando o pescoço com a mão enquanto o alongava. Apenas segurou o contato visual de Conrad através do espelho.

O semblante do rapaz escureceu, levando a risada e a tornando apenas uma memória do quão bom ator conseguiria ser.

‒ O que é pior? Ser gay por se preocupar com seus amigos... ‒ divagou, fazendo suspense enquanto tornava para o porco em forma de homem. Endireitou a postura, puxando os ombros para trás conforme se aproximava ‒ Ou receber um sorriso e achar que querem te dar?

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora