Escutando a porta abrir, automaticamente se abaixou e arrastou até grudar na mesma parede que a janela. Temia respirar alto demais, então tratou de tampar a boca.
Pôde focar no som dos passos pesados de Seung Ho, desviando das pilhas de coisas e de roupas. Um verdadeiro campo minado.
O som dos resmungos alcançou seus ouvidos.
‒ Onde essa garota se meteu? ‒ perguntou em voz alta, puxando os cabelos para trás em um gesto agoniado ‒ Não acredito que ela fez isso...
Os passos apertaram, virando uma corrida apressada.
O cheiro de sua colônia roçou na ponta do nariz de Cora, obrigando seu coração a reagir de forma indesejada. A cabeça do rapaz apareceu, atravessando a abertura com um semblante indecifrável.
Podia não conseguir vê-lo com clareza, mas sentia o vapor quente escapando de dentro de suas narinas.
‒ Você não é mais criança! ‒ rosnou, soltando um longo suspiro ‒ Que merda! E o meu sorvete, Cora?!
Bateu a mão no batente, fechando a janela com força antes de adentrar com pressa. Deixou a barra limpa para Cora que ‒ com um alívio gigantesco ‒ sentiu que conseguia respirar.
Ela ergueu o corpo, dando alguns passos para longe da janela.
‒ Ala! É a nova mocinha da vizinha?! ‒ gritos levaram a garota a olhar para trás, trincando o maxilar ao se deparar com o moleque do jornal.
Aquele era a pior criança que Cora teve que conviver durante toda sua vida. E olha que ela foi criada com Christa.
Sempre se perguntava como uma criatura daquela tinha a responsabilidade de encostar os dedinhos imundos nas correspondências dos outros.
‒ Mocinha vira seu pai, quando bota a calcinha da sua mãe! ‒ rebateu, sentindo um triunfo e uma satisfação sobrenatural ao reparar na testa enrugada do menino.
Cora parou, escutando em alta voz o nível da frase que disparara para um moleque. Um pirralho de doze anos.
‒ O que deu em você, hm? ‒ passou as mãos no rosto ‒ Ele sequer chegou a puberdade!
De repente, sua atenção recaiu para a roupa que usava. Ou seria a falta dela?
Sem se dar conta, suas mãos roçavam na barra da camisa, tentadas a puxarem para cima ‒ o que serviu como impasse foi a frase do garoto.
Não estava longe de ser uma mocinha. Acho que a estampa de capivara não favorecia a versão menos feminina de Cora.
Quando aquele par de gominhos alinhados se revelou diante de seus olhos, sentiu uma falta de ar ‒ mas não igual a de antes.
Era mais forte e vinha com um espasmo de excitação.
Ela era um puta de um...
Não! Não era nada!
Cora Orsini, sua safada! Quanta safadeza cabe em sua cabecinha virgem, hein?
Se repreendeu, batendo na testa quantas vezes fosse preciso para que conseguisse se mancar.
Nunca imaginou dizer uma frase tão infantil de uma forma tão espontânea. Cora geralmente pensava nos absurdos que falava.
No entanto, soara tão natural e tão...
‒ Puta que pariu!
Em um passo em falso, sua vida passou diante dos seus olhos e, assim como sentia as telhas queimando a sola do pé, agora sentia as folhas do arbusto entrando no nariz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADA
Novela JuvenilCora tem grandes problemas, mas Seung Ho, definitivamente, não merece ficar entre eles. O que mais a frustra não é a atração inexplicável pelo amigo, mas sim a maneira como sua irmã desperdiça a vida correndo atrás de homens que não prestam. Ela não...