Sintomas

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Conrad sentiu o peso do sondar intenso de Junni.

Metade de sua vida era sugada para dentro das íris marrons. Conrad não ficou para trás e sustentou a encarada.

Postura. Mantenha a postura.

Repetia como um mantra. Forçava a mente a ignorar os punhos cerrados e a mandíbula apertada do cunhado ‒ do contrário, cederia e cogitaria se afastar para não machucar seu rostinho bonito.

‒ Engraçado perguntar, considerando que você estava aqui dentro primeiro ‒ enfatizou, dando um meio sorriso de ameaça. Sem mostrar os dentes ‒ Como fala minha língua, imagino que possa me responder.

Deu uma pausa longa.

Conrad aguardou pacientemente, sem esquecer-se de erguer uma sobrancelha zombeteira. Nada melhor que um incentivo para deixá-lo irritado.

Junni a essa altura deveria ter motivos suficientes para socar Conrad. O primeiro deles é estar com sua namorada, trancados, no banheiro.

De resto, nem precisava listar porque era nítido. Ele mesmo se socaria se pudesse, mas somente em seu estado feminino.

O rapaz reduziu a distância. Puramente por reflexo, Conrad deu alguns passos a frente, tratando de ficar entre um Junni furioso e uma Christa sem vida.

Yun Junni disparou seus olhos ávidos para Conrad. Um desconhecido, não passava de um estranho que surgiu do nada e intrometeu-se em uma história que não lhe pertence.

‒ Quem é você? ‒ indagou, pausando em cada palavra para que entendesse claramente ‒ Discordei de Seung desde a primeira vez que te vi. Não tem a mínima possibilidade de ser íntimo de Ashley.

‒ Posso não ser íntimo dos Nirvin como você, mas posso garantir que não costumo pegar garotas comprometidas ‒ tratou de aumentar o sorriso cretino, inclinando-se um pouco para frente ao sussurrar, baixo o suficiente para que apenas os dois escutassem ‒ Sorte a minha que Chris está liberada.

Bastou a frase terminar para acender um brilho desconhecido no fundo dos olhos de Junni. Ele enrugou o nariz a ponto de liberar uma fumaça raivosa.

Conrad o via como um dragão, preparando-se para cuspir fogo e fazer churrasquinho do seu corpinho.

‒ Ele é gay.

De repente, uma voz interrompeu o jogo mortal de encarada. Ela não parecia contente, mas também não expressava muita coisa. Era indecifrável.

Conrad se deparou com o vazio no rosto da irmã, sentindo uma parte pesar pela culpa da forma que agiu. Estava mesmo marcando território?

Christa repousou sob Conrad, retesando as sobrancelhas em um pedido silencioso. Sem discutir, reconheceu precisar dar o espaço que queria, andando para o lado.

Logo ela sibilou um obrigada, dando a entender que tinha tudo sob controle quando tornou-se para Yun Junni.

O rapaz piscou algumas vezes, deixando uma risada fraca e incrédula escapar dos lábios.

‒ Jura? Não tem uma desculpa bem elaborada e menos clichê do que essa? ‒ adotou uma ironia ácida, fugindo de seu comum centrado e sério. Dificilmente perdia a linha ‒ Esperava mais originalidade vinda da estudante premiada de Paris.

Quando envolvia a garota que amava, dificilmente mantinha a cabeça no lugar. Era impressionante o que podíamos fazer quando amamos.

‒ Ele é um amigo e é gay. O próprio arco-íris em pessoa. Falo isso porque o conheço e não te contei justamente porque... ‒ parou um pouco, respirando fundo ‒ Ele não se abriu ainda e sou a única que sabe.

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora