Os tênis pesados de Seung batiam contra o chão da quadra, arranhando e deixando um rastro de sons arrastados. Ecoou pelo ambiente, chegando até Cora como uma ameaça.
Ela tentou correr pra direção oposta, mas quando reconheceu não ser possível decidiu usar outra técnica de emergência.
Correr o máximo que conseguisse e impedir que a alcançasse.
‒ Acho que saímos do basquete e fomos para o pega pega ‒ disse, mantendo o ritmo apesar das meias largas felpudas.
Sentiu a nuca aquecer pelo sorriso sarcástico. Segurou a vontade de olhá-lo por cima do ombro, focando na cesta a sua frente.
‒ A grande Cora Orsini cansou? ‒ indagou com o tom rouco provocante habitual. Pôde jurar que os lábios se esticaram mais.
‒ Estou apenas começando! Minhas últimas duas cestas não foram pouca coisa ‒ declarou em plenos pulmões, tomada pela empolgação. Não desistiria ‒ E você? Por acaso cansou?
Replicou a pergunta, lançando uma olhadela para o rapaz.
Dois podiam jogar esse jogo. Seung era bom quando o assunto era sarcasmo, mas Cora não ficava de fora da implicância.p
‒ De correr atrás de você? Nunca ‒ desdenhou com uma risada. A voz ficava perto cada vez que falava.
Impediu que o coração cedesse a provocação barata.
Cora ignorou o comentário. Optou por não se prender muito a ele, principalmente quando tratava de uma mentira.
Caso fosse mesmo verdade, por que não esteve presente quando mais precisou? Por que sumiu por meses, depois de abandoná-la no baile e beijar sua amiga, tempos depois?
Surgiu como um brilho de luz na escuridão. Christa tinha viajado e ficou sozinha por longas semanas, mal viu os dias passarem, não comia e ‒ quando dormia ‒ torcia para não abrir os olhos.
Tendo uma irmã sempre ansiou pelo dia que ficaria sozinha, com o quarto só para ela, a atenção dos pais e, enfim, seu espaço. Mas não foi assim que aconteceu.
Parece que, quando Ashley se foi, levou tudo com ela. Christa, Junni, Seung...Não passavam de borrões em sua memória.
‒ Prepare-se para ser humilhado pelos ursos! ‒ parou por instantes, mirando a atenção e traçando um caminho imaginário até o aro. O cálculo foi interrompido braços grandes e firmes que se fecharam ao seu lado, mexendo quando se mexia para manter uma barreira ‒ Cuidado, eu sei rugir!
‒ Estou me tremendo! Então a garotinha ficou perigosa? ‒ fingiu terror na voz, mantendo a posição e se negando a sair.
Cora tentou fugir do muro de braçadas que a envolviam, mas não conseguiu impedir que aquilo a desconcentrasse e atrapalhasse sua desejada jogada.
Os ombros se chocaram contra os dele, ocorrendo um atrito de pele com pele algumas vezes. Um número suficiente de vezes para enlouquecê-la.
Seung buscou manter-se de um lado para o outro. A tática dava certo, até os cotovelos da garota baterem na boca do estômago.
‒ Falta ‒ a fala saiu fraca pela falta de ar, seu fôlego foi tomado de seus pulmões. Tentou não encolher, pondo as mãos na área atingida ‒ Cadê o juiz quando precisam dele?
Cora tentou não rir.
Aproveitou a ausência de uma testemunha e disparou para frente como um foguete. Acreditava que, se continuasse assim, assumiria o posto de foguete dourado.
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Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADA
JugendliteraturCora tem grandes problemas, mas Seung Ho, definitivamente, não merece ficar entre eles. O que mais a frustra não é a atração inexplicável pelo amigo, mas sim a maneira como sua irmã desperdiça a vida correndo atrás de homens que não prestam. Ela não...