Copiloto incrível

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‒ Já olhou as fotos que eu te mandei?

A voz da irmã guardava animação, quase tremendo pelo entusiasmo de estar bem longe de casa. Queria poder sentir o mínimo de empolgação agora.

Por ela.

‒ Aquela no Palácio de Versalles ou em cima da torre Eiffel? ‒ perguntou sem ânimo, num muxoxo.

No entanto, era difícil quando foi abandonada pelas únicas pessoas que se importavam com seu bem estar.

Não, bobinha! Só vou conseguir visitar o Palácio no próximo verão ‒ a risada cortou com o farfalhar do vento ao fundo ‒ Aquele era o Boulevard Haussman. Você se apaixonaria assim que entrasse na primeira loja.

‒ Jura? ‒ falou com certo cinismo, fazendo certo esforço carregando o bolo de roupas para longe.

Empilhou as últimas caixas de casacos velhos. A maioria era de quando eram crianças e como o tempo estava mudando, decidiu dar um novo começo para eles.

Estava decidida a fazer algumas pessoas felizes. Detestava se sentir inútil e obsoleta, como um brinquedinho quebrado.

Talvez doando algumas lembranças boas, coisas melhores possam surgir na sua vidinha mundana.

Era uma irmã horrível. Deveria ficar orgulhosa de Christa ter conquistado uma bolsa e ter a oportunidade de ampliar seus horizontes.

Tudo parecia um fardo desde que entrou naquele maldito avião. Era errado sentir obrigação de ficar contente por ela, porque deveria apenas estar contente.

‒ Espera, pode repetir? ‒ parou por um instante, aproximando-se das pilastras de papelão e desviando delas até alcançar o celular na cama ‒ O que disse mesmo?

Sobre o Boulevard? Eu sei que ele não é tão icônico quanto o Palácio, muitos discordariam da minha escolha...

‒ Não! ‒ coçou a garganta, sentindo a área secar subitamente. Reduziu a voz, voltando ao tom normal ‒ A respeito do verão.

O silêncio tomou a ligação pela primeira vez. Durante longos minutos de turismo e de excursão por celular, Christa ficar quieta só pode significar um mau sinal.

Cora hesitou antes de continuar e, dando um estalo com a língua, conseguiu continuar.

‒ Pensei que depois do período de adaptação voltaria na primavera ‒ vacilou um pouco, percebendo o quão desesperada soou. Não ter uma resposta a fazia se sentir mais ridícula, gastando saliva com o nada ‒ Pelo visto pensei errado.

Riu fracamente.

O que ela esperaria? Que Christa se contentaria com o mínimo da cidade luz e voaria para casa antes do natal para passar com a família?

Odiava sentir saudades. Odiava mais ainda demonstrar dependência, quando a mais velha nitidamente não fazia questão do mundo que deixou para trás.

Não existe período de adaptação pra mim, eu vou...Ficar aqui durante o verão. O próximo e alguns outros depois desse ‒ tirou o curativo de uma vez.

O ponto te interrogação em cima de Cora transformou-se em um vazio dentro do estômago. Ela não voltaria.

‒ E quando pretende nos visitar? ‒ perguntou, ouvindo um barulho desconhecido farfalhando contra a saída de som da irmã. Não soube identificar se era a voz de outra pessoa ou se as árvores começaram a tagarelar pela força do vento.

Em Paris tudo é possível.

Cidade ladra de irmãs!

‒ Ou esqueceu que tem família? ‒ a voz oscilou, denunciando as lágrimas que se formavam nos olhos.

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora