Sem roupas

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Calma aí! ‒ o grito de Cora soou esganiçado, fazendo com que o tom se aproximasse com sua voz feminina ‒ Não é o que está parecendo, cara!

Impediu que sentisse autopiedade.

A frase se transformara em algo cômico, pelo número de vezes que a repetiu ao longo do dia.

Pulou para o canto, desviando da terceira almofada arremessada. Essa é a pior guerra de travesseiros da história.

Nenhuma menininha de trancinhas teria o mesmo ódio nos olhos que Seung. Era assustador.

Cara é a parte do seu corpo que meu punho vai esfolar ‒ rosnou com as sobrancelhas tensionadas, enquanto agarrava outro objeto felpudo.

Pelo visto, tudo piorou.

Mantinham esse joguinho desde que tirou a camisa e ‒ despretensiosamente ‒ jogou no rosto de Seung que, por alguma razão misteriosa, estava na sua cama.

O lugar MENOS provável que estaria. Em seu quarto ‒ o lugar que passou pela janela e agiu como algum invasor tarado.

Não era de se admirar que tivesse uma reação exagerada.

Dessa vez sua arma ‒ ou vítima ‒ era uma centopéia verde. Havia números em cada patinha e Cora se lembrou do bichinho que a ajudou a conhecer os números, antes mesmo de ela bater contra a parede de Christa.

O barulhinho do sino interno da lagarta fez com que o peito de Cora doesse penosamente.

‒ Isso não se faz com brinquedo de criança nenhuma ‒ protestou enfurecida, ignorando o fato de que ela era a criança ‒ Seria bem mais fácil se você largasse sua base e desse o golpe final!

Subiu os cantos do lábio em um sorrir simplista.

A face de Seung retesou, dando uma sensação de vitória e bravura inesperada em Cora. Deixou o seu valente protetor sem resposta.

Cora ousou um pouco mais, avançando casualmente na direção do rapaz defensivo.

‒ Ou acha que o seu punho prefere marcar um encontro particular com a minha cara? ‒ indagou sarcasticamente, gesticulando com a mão ‒ que ainda segurava a perna do coelhinho ‒ para a própria face.

‒ Você acha que preciso mesmo... ‒ sua frase morreu no ar e, de repente, seu semblante suavizou. Tomado por um sentimento indecifrável, apontou com a cabeça ‒ Onde você arrumou isso?

Cora parou, seguindo a atenção até se deparar com o coelho em sua mão.

As orelhas estavam apontadas uma para cada lado e suas partes rosadas se desbotaram, a ponto de chegar a um creme apagado.

‒ No mesmo lugar que você tirou a dona pernas ‒ rebateu, mencionando com mágoa o incidente anterior da lagarta ‒ Só olhar ao redor e...

‒ Tudo que eu vejo está bem na minha frente ‒ cortou, aproximando-se com o osso de sua mandíbula proeminente. Segurava-se para não avançar como um cão raivoso ‒ E o que eu vejo não era para estar aqui comigo. O que eu vejo acabou de entrar por um buraco na parede e agisse como se fosse dono do lugar.

Cora fechou a boca, se calando. Não havia nenhum argumento em mente que pudesse usar, até porque, a situação virava do avesso toda vez que ela tentava achar uma resposta.

Talvez ela só precise ficar calada e escutar, para variar.

Ou esperar o famoso Jab de Seung. O mesmo que deixou marcas em cada jogador de basquete que roubou de Junni nas finais escolares.

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora