Subiu rapidamente, ignorando a ardência dos joelhos que se espalhava conforme pressionava os pés nas escadas. E, tão rápido quanto, voltou para o quarto e bateu a porta.
Aquele gesto arrancou um suspiro carregado de seus pulmões. Era quase um alívio estar ali, trancada ‒ a porta ali era seu escudo da dura realidade.
‒ O que tem na cabeça dela? ‒ perguntou em voz alta, sentindo o nó da garganta descer para o estômago.
Desperdiçou sua chance dos sonhos. O estudo numa das escolas mais prestigiadas da Europa que, dificilmente, aceitam pessoas do exterior. Pessoas diferentes do qual eles estão acostumados.
Este ano desejavam dar oportunidade ‒ abrindo as portas da instituição ‒ para pequenos sonhadores, não como Christa. Não.
Ela era uma grande idealizadora e criadora de sonhos.
Os tornava realidade usando sua determinação e foco, mesmo que esse último seja facilmente dispersado por rostinhos bonitos e sorrisos com covinhas.
Sentiu a maçaneta fria invadir o calor da palma da mão, úmida, sem forças para fechar a porta. Antes precisou empurrá-la com o corpo.
Respirou fundo. Ainda estava presa no estado de incredulidade, processando toda a situação e tentando entendê-la.
Apoiou a testa na madeira envernizada.
Christa amava Yun Junni.
Era a coisa mais certa na sua vida. E, bem, talvez não seja mais ‒ mesmo que seja difícil assimilar, coisas mudavam. Pessoas também.
Como se não bastasse a tal falada "tragédia" ‒ palavras da própria diretora ‒, ainda passara uma vergonha declarada na frente de ninguém mais ninguém menos que, Seung Ho.
Como subira apressadamente, sequer sabia se ainda estavam lá em baixo. Decorrente do silêncio, talvez todos tenham ido embora.
Ou apenas se deslocado para um cômodo, a fim de esconder a decisão que iriam tomar a respeito daquela situação.
Não conseguiu se segurar. O próprio pai destratando a pessoa mais importante e a que mais ajudou sua filha, no verbo passado.
‒ Mesmo assim com que direito ele achou...Aquele velho resmungão... ‒ grunhiu, dando as costas para a porta e apoiando os membros tensos ‒ Chris, tinha que cair no charme de um francezinho qualquer?
Ponderou com uma súbita azia subindo pela garganta. A idéia de ter um cunhado chegava a dar urticária, mas era algo mais certo do que não ter nenhum.
Cora deixou o corpo cair e as pernas cederem aos chãos. Os membros pareciam frágeis e até os pequenos arranhões na região da perna não pareciam meros riscos, comparados com a queimação que dominava o estômago.
A garota sabia que, se o sentimento ainda prevalecesse, a irmã não teria se relacionado com outro. Muito menos alguém que a guiasse para o lado escuro da força.
E se amor não bastasse?
Não foi fácil receberem a notícia de que não a teriam mais ali, vivendo com eles. Imagine para o namorado que ‒ sem digerir a notícia ‒ precisou lidar com um término, menos de uma semana depois.
Na mesma semana, a vida de Christa mudou por completo. E Cora sabia, desde o momento que a escutou pular de alegria, que aquela felicidade teria um preço.
Deixara tudo para trás, em prol do futuro. Deixará Junni, pois sabia que não seria forte o suficiente para lidar com os estudos e uma relação a distância ‒ fadada a insignificância e ao fracasso.
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Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADA
Ficção AdolescenteCora tem grandes problemas, mas Seung Ho, definitivamente, não merece ficar entre eles. O que mais a frustra não é a atração inexplicável pelo amigo, mas sim a maneira como sua irmã desperdiça a vida correndo atrás de homens que não prestam. Ela não...