Cora abriu o armário grosseiramente.
O semblante permanecia fechado desde a tarde passada e, como uma pessoa em perfeito estado de chateação, descontara nos objetos mais próximos.
Sua vítima foi a caneta tinteiro que estourou na sua boca ‒ no meio de uma palestra do professor Boa Visão sobre o impacto de um bom posicionamento de marca.
Depois outra caneta, que haviam lhe emprestado e, ela deixara cair, em um número de vezes que não era considerado mais humano.
‒ Bosta! ‒ praguejou, sentindo a ponta de metal se arrastar por sua bochecha assim que abriu ‒ Mereci isso.
Aceitou o golpe a contragosto, no fundo a parte mais racional de si querendo tomar vários desses. Um só não bastava.
A lataria do armário quase amassara pela força que arreganhou. Só faltava bater com a mesma força que bateu sua geladeira hoje cedo.
Dando um longo suspiro, soltou o fichário pesado pelo número de anotações. A apostila foi lançada no meio de seu pacote de lenços usados.
Pensando bem, sequer anotou tantas coisas. Eram mais rabiscos e pensamentos confusos do que, qualquer coisa, relacionado a marcas estrategistas.
‒ Coral, você anda tendo tendências masoquistas frequentes ‒ a voz irritantemente implicante perfurou seus tímpanos.
Cora, aproveitando que estava de costas, revirou os olhos fortemente.
Ashley como uma boa Nirvin sabia as piores horas para aparecer. Tinha uma espécie de sexto sentido para a coisa, desde o primeiro semestre.
Percebeu isso na quarta semana e a essa altura estavam na metade do terceiro semestre, caminhando para o quarto ‒ e último.
‒ Puxa, nunca comentei com você? Se tiver algum chicote para me emprestar serei eternamente grata ‒ enfatizo com gratidão forçada, seguido de um grande sorriso tão forçado quanto ‒ Te mando meu correio para entrega.
Fechou o armário, tornando-se para a garota somente por alguns segundos. Limitou o contato visual, sempre o fazia.
Era uma regra para não cair em seu perfil egocêntrico e amante das atenções.
Tempo suficiente para reparar em seus cabelos feitos, diferentes do despojado da lanchonete ‒ o dia que saira com Brad.
A saia marcava suas coxas, descendo em babados nas pontas, acompanhada de uma blusa social com os primeiros botões abertos, revelando parte de sua pele negra que brilhava na luz do corredor. Devia ser pelo creme hidratante que sempre a escutava se gabando.
Seu papai patrocinou a marca e ela acabou ganhando alguns mimos por isso. Não a culpava a empresa, esperta é ela.
‒ Não vai conseguir se chicotear sozinha. Posso oferecer uma mão inimiga, nesse caso ‒ a boca farta e delineada deu lugar a um sorriso provocante.
Cora espiou ela pelo canto do olho, tratando de tomar distância.
Para pescar um peixe grande é necessário começar pelos pequenininhos. Ashley era uma barracuda na faculdade, mas todos sabem que, ao lado do pai...
Transformava-se em presa fácil, manipulada pelas vontades do progenitor.
‒ Está com medinho?! ‒ disparou atrás de garota, não gostando nem um pouco de ter a visão de suas costas ‒ Posso dizer o problema com você?!
Parou, nem chegando ao meio do vasto corredor. Em questão de dez passos estaria saindo da área, se quisesse.
Um casal de braços enroscados que passara prendeu os olhos descaradamente no cenário, compartilhando cochichos.
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Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADA
Teen FictionCora tem grandes problemas, mas Seung Ho, definitivamente, não merece ficar entre eles. O que mais a frustra não é a atração inexplicável pelo amigo, mas sim a maneira como sua irmã desperdiça a vida correndo atrás de homens que não prestam. Ela não...