Quem é esse daí?

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‒ Quem é ela? ‒ suspirou, acompanhando a garota até que a sineta tocasse, anunciando sua saída.

‒ Colega de Audrey ‒ Brad tratou de responder, entregando uma xícara grande de café para uma moça e sua filha ‒ Evitem beber uma jarra inteira de café, vão acabar não dormindo hoje.

Piscou, encarnando a simpatia em pessoa.

Ele era estupidamente bom nisso, elogiou em silêncio. Jamais deixaria que esse pensamento escapasse de sua boca.

‒ Preciso de café na veia ‒ respondeu a moça de olhos azuis e cabelos curtos escuros.

‒ E eu preciso que alguém dê um sumiço na Paris antes da apresentação ‒ resmungou, deixando a cabeça tombar para o lado.

Cora cruzou as sobrancelhas. Elas são estranhamente familiares.

Que deja-vu!

Balançou a cabeça, afugentando esses pensamentos e se distanciando das mulheres.

‒ Então está me dizendo que ela e Audrey fazem o mesmo curso? ‒ indagou, cogitando a possibilidade.

Até poderia, afinal, o Campus é grande.

Mas, caso estivesse no mesmo curso que o seu, teria percebido. Não teria se esquecido do rosto dela, muito menos do que sentiu ao vê-lo.

A não ser que...

Cora encarou seu reflexo no xarope de bordo, uma delícia na colher e, uma maior ainda, acompanhado de panquecas massudas.

Claro.

Ela não era ela e, sim, ele.

Seja lá o que sentiria vendo a garota no outro corpo, nada se compararia com o o que sentiu nesse.

Parece que tudo está mais forte. Mais difícil de controlar e de racionalizar, como se tudo não passasse de uma grande ressaca.

E era quase impossível ver as futuras consequências de qualquer decisão que tomasse ‒ coisa que não se enquadrava no perfil de Cora.

‒ Não ‒ enfim respondeu, retornando da cozinha e apoiando os cotovelos na bancada. Fez um biquinho, pensativo ‒ Acho que ela faz artes modernas e contemporâneas atuais, mas pode ter mudado desde o verão passado.

Deu de ombros, pouco se importando.

‒ Nunca se sabe, né? Esses jovens ‒ balançou a cabeça, falando como um perfeito tio de meia idade ‒ Bem, espero que goste da refeição!

Cumprimentou com o boné, puxando a aba para frente e se retirando para atender outras pessoas.

Cora parou, mas seu coração não.

Jogou o corpo para trás, encostando na cadeira com nenhuma força em seus membros.

Era inexplicável a sensação, só precisava encontrá-la mais uma vez.

Não era porque gostava dela, não podia ser. Era só...

Porque agiu feito um babaca. Mesmo que tenha sido um mau entendido no final, desde que a viu tinha segundas intenções em mente.

Achou que puxar assunto a faria querer sentar em seu colo? Faça-me o favor, Orsini.

Você já foi melhor.

Agora não passa de...Um cara.

Um dos inúmeros que sua irmã namoraria.

A idéia desagradável resultou num bolo na garganta. Forçou para engoli-lo, no entanto não melhorou até que gritasse.

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora