Imaginação fértil

13 4 0
                                    

‒ Acho que é isso ‒ disse uma última vez, simulando retirar um chapéu imaginário da cabeça enquanto curvava o corpo para frente ‒ O senhor foi uma companhia agradavelmente insuportável.

Seung deixou escapar um sorrir divertido. O mesmo brilho engraçado transpareceu em suas íris.

Não importa o quão idiota fosse nunca se cansaria de quando Cora assumia a posição de aristocrata pomposo. Se despediam assim, todas as vezes, como forma de diminuir a saudade.

Seung detestava despedidas. Desde os instantes em que escreveu a droga de um bilhete, colou no armário ‒ que guardava a coleção de porcelana da sua Halmeonim¹‒, antes de seguir para a porta, arrastando uma mala e, com ela, o medo do desconhecido.

No entanto, enquanto naquela época temia sobre o que o esperava do outro lado do mundo, agora, com ela bem ali, na sua frente, desejava não estar em outro lugar.

‒ Queria dizer o mesmo, mas a essa altura ambos sabemos muito bem que você é só insuportável para mim ‒ replicou o movimento, lançando uma piscadela sedutora. Quando retomou a postura, deparou-se com a coisa mais bonita que sequer poderia imaginar.

O sorriso de Cora. Um genuíno, não falso ou forçado. Era ela, apenas ela e, por ser ela, algo dentro do peito do rapaz reagiu espontaneamente.

O sorrir brilhoso ofuscava qualquer luz dos postes da rua. Não importava quantas vezes o visse, sabia que nunca ficaria preparado.

Que seu coração sempre fosse pular inquieto, não importa quantas vezes respirasse e tentasse mentalizar outras coisas que não fossem Cora.

‒ Não se faça de difícil. Profissionais apóiam a idéia de que compras são uma terapia ‒ jogou os tênis por cima do ombro, segurando pelos cadarços enquanto a mão livre ficava na cintura ‒ Ainda mais compras com alguém tão querido e importante.

‒ Até onde eu sei, Jennifer Lawrence recusou o meu convite ‒ fingiu pensar, dando de ombros indiferentemente, por fim ‒ Não me lembro de encontrá-la em nenhuma das lojas.

As sobrancelhas de Cora arquearam. O simples movimento que deixava um vazio na boca do estômago de Seung.

Sentia falta. Por mais que ainda fosse ela, seu rosto estava começando a tornar-se um véu branco, sumindo.

‒ Na próxima sugiro procurar em um dos provadores. Conselho de amiga ‒ gesticulou com as mãos brevemente, subindo os degraus sem perder contato visual.

‒ Talvez o termo amiga não lhe pertença mais ‒ insinuou, dando um último aceno antes de virar as costas e a rua ‒ Lindsay não aprovaria.

Cora soprou uma mexa fujona, ignorando o comentário com louvor. Seung agradeceu em seu interior por não ter olhado aquilo.

O simples gesto o desconcertava. Como bem entendia, estava perdidamente perdido nessa garota e dificilmente se acharia.

Acreditava que somente se encontraria quando sua boca encontrasse a dela. Se fechando em um, antes de travarem uma disputa para, no final, os dois lados cederem.

Cora lidou bem com a fala de Seung, afinal, não passava de uma brincadeirinha inofensiva. Típico do seu estilo humorístico, pouco questionável.

Isto é, antes da lembrança dos olhos sedentos e descarados da atendente, percorrendo o corpo de Seung como se observasse além de toda roupa.

‒ Estamos bem grandinhos para recebermos aprovações de quem quer que seja ‒ retrucou, a voz soando um pouco mais brusca do que pretendia.

Certo, caso não tenha ficado nítido que sentiu ciúmes antes, entregou tudo de bandeja com essa única frase.

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora