É puro músculo

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Uma silhueta não muito estranha surgiu, mas antes que tomasse forma foi escondida por outra mais nítida. Com curvas e um loiro desgastado.

Conrad sentiu os membros enrijecerem assim que a voz aguda feminina o alcançou.

‒ Por acaso quer ajuda? ‒ inclinou a cabeça, perigosamente próxima de um Seung semi-desacordado ‒ Parece estar tendo um péssimo dia. Se precisar consigo melhorar ele.

Quase riu, desacreditado pela audácia da mulher. Uma mera desconhecida que não sabia o seu lugar.

Seung, por sua vez, tentou levantar a cabeça, em vão. Estava pesada como chumbo e tudo ao redor dava voltas, o obrigando a manter os olhos fechados para não vomitar.

‒ Consegue me dizer seu nome? ‒ Conrad vislumbrou os dedos finos se aproximando, prestes a tocar no cabelo do rapaz. Ele não conseguiu segurar e, quando se deu conta, estava logo atrás dela.

‒ Acho que ele parece um pouco ocupado, não acha? ‒ intrometeu-se com um sorriso atrevido. Seus dedos seguravam o pulso frágil, evitando apertá-lo como se fosse quebrar ‒ Que tal deixar ele comigo?

A garota, meio transtornada, avistou Conrad de soslaio. Assim que seus olhos castanhos ‒ quase pretos ‒ encontraram o azul, pareceu derreter.

Os lábios finos entreabriram, mas demorou para um som sair.

‒ Quem é você? ‒ indagou com a sobrancelha arqueada. A postura forte ameaçou ceder quando notou a intensidade do sondar sob seu rosto ‒ Olha...Ele não ta muito legal.

‒ Deu pra perceber ‒ a libertou de qualquer jeito, tendo apenas Seung Ho em seu campo de visão. Apenas ele importava, nem tentou disfarçar quando agachou-se, tão próximo que o bafo quente de álcool lhe dava náuseas ‒ Eu me viro com ele. Valeu por...

Perdeu a voz, também se perdendo no semblante tensionado. Mesmo inconsciente, as linhas mostravam-se marcantes, revelando uma ruga na testa.

Os dedos de Conrad traçaram um caminho imaginário pela mandíbula contraída. Quase pulou quando muxoxos incompreensíveis escaparam pela boca bem desenhada.

Se Oli era bonita raivosa, Seung até mesmo bêbado conseguia manter-se no pódio de mais atraente. Era a personificação do pecado, pura tentação.

A voz da garota foi abafada pelos seus pensamentos. Precisou soltar um pequeno murmúrio incompreendido para que repetisse.

‒ Eu perguntei porquê me agradece? ‒ meio desconfiada, sem entender. Conrad segurou a vontade de revirar os olhos.

‒ Por você não ter feito o que pensava em fazer antes que eu chegasse e impedisse. Acho que você não conseguiria melhorar o dia dele nem se quisesse ‒ amenizou as palavras com um meio sorriso compassivo. Nele guardava o ardor estranho que se embolava nas entranhas e subia amargamente pela garganta.

Aquele era o gosto do ciúmes.

Seung não era seu e odiava essa idéia. Odiava saber que outros facilmente podiam chegar até ele e fazerem o que quiserem, se o mesmo permitisse.

Foi esse mesmo pensamento que impulsionou Conrad de dizer as próximas palavras, sem perder o sorrisinho.

‒ Então valeu por ser uma companhia momentânea para o meu namorado ‒ enfatizou o título, dando um breve aceno de cabeça em dispensa ‒ Já está liberada.

As bochechas da desconhecida mergulharam em profunda vermelhidão. Quase pôde ver o bolo de vergonha se formar na garganta, engolindo com dificuldade.

‒ Não pensei que... ‒ ameaçou mirar Seung Ho novamente, mas Conrad se dispôs a ficar na frente. Ela tratou de abaixar o olhar, ainda constrangida ‒ Que seja então.

Aquele sapato vermelho [✔] - ATUALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora