Capítulo 35

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- Eu me recuso a preparar um velório para aquele homem. - Daniel dizia a Spencer após o homem repassar notícias da pequena investigação que fez.

Não havia ninguém, nenhuma testemunha, Sophia Mendes a babá de Daniel na época faleceu a mais de 8 anos. O médico que assinou a atestado de orbito de Antonella foi como já era de conhecimento de Nathalie, já estava morto. Não se surpreendeu por saber disso, claro que aquele homem estava envolvido, assim como Tim também deveria saber. Claro que deveria de alguma forma estar envolvido, ele tinha aquela foto.

Daniel sentia a necessidade de manchar o sobrenome de seu pai como forma de vingança. Era um desejo intenso, mas ele sabia que agir dessa maneira só traria danos a si mesmo e a sua família. Parecia que cada detalhe havia sido meticulosamente planejado. A única esperança de comprovar toda a história residia em Clarissa, não importava onde ela estivesse. Ela era a única pessoa capaz de trazer à tona a verdade oculta.

- O que é isso? - eles escutam um alto som vindo da sala. Era o piano. O som alto e frenético perfeitamente harmônico ecoava por toda a residência. Eles seguem até lá onde  observam Nathalie tocar. Havia anos que ela não emitia o som de uma única nota. E ali estava ela, descarregando todo seu ódio, frustração naquele instrumento do qual ela aprendeu a tocar antes mesmo de falar.

O pesar paira no ar, enquanto as notas ressoam poderosamente pelas paredes da mansão, criando um vibrante e rancoroso espetáculo sonoro.

Cada toque das teclas do piano é uma explosão de emoção contida. Nathalie, com suas mãos ágeis e delicadas, permite que sua alma se expresse através da música. Que sua dor atravessem as notas. Seus dedos dançam sobre o teclado com uma destreza impressionante, como se buscasse libertar-se das amarras invisíveis e mentiras que a sufocaram por tanto tempo.

O som, flui em uma harmonia perfeita, e melancólica mesclando notas agudas e graves em uma sinfonia de catarse. Cada acorde ressoa com uma força avassaladora, como se cada tecla pressionada fosse uma forma de liberar todo o ódio e frustração acumulados ao longo dos anos.

Seu rosto reflete uma combinação de dor e alívio, em concentração. Cada movimento de suas mãos é um mergulho nas profundezas de sua própria existência, permitindo que suas emoções transbordem livremente através da música, era tão palpável que aqueles que escutavam sentia toda sua angústia. 

Toda dor.

A sala é preenchida ainda mais com a música, que se espalha por cada canto da residência, ecoando por corredores e alcançando até os lugares mais remotos. É como se as paredes absorvessem as notas, transformando-se em testemunhas silenciosas daquela catarse sonora.

Enquanto Nathalie continua a tocar, suas memórias e experiências se entrelaçam com as melodias que ela extrai do piano. Cada nota se torna um fio condutor de sua história, carregando consigo a intensidade de suas emoções que pesava sobre ela a estrangulando.

Ela desabava.

Nathalie coloca sua alma exposta através das teclas do piano. A música sempre foi sua voz, seu refúgio e sua forma de expressão mais profunda. No som alto e frenético, do qual ela obtivera por anos, ela se deixa levar até a última nota. Seu rosto é tomado por lágrimas que fluem sem que ela perceba. O espetáculo avassalador, carregado de emoções, envolveu não apenas os funcionários da casa, mas também o irmão Daniel e Reid, que se encontrava ao seu lado. Era como testemunhar o momento exato em que um belo vaso se despedaça em inúmeros pedaços, irreparáveis e minuciosos.

As lágrimas fluíam livremente dos olhos de Daniel, refletindo a tristeza profunda e a sensação de perda insuperável. Era como se a intensidade do momento transcendesse as palavras, e todos compartilhavam um sentimento de desolação diante do que estava acontecendo. A cena era de partir o coração. 

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