Capítulo 32

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Spencer se enrolava na cama de um lado ao outro, tudo ali era desconfortável, desde a decoração neutra do quarto de hospedes, o colchão pateticamente fofo,  A fresta teimosa de luz da lua que se infiltrava pelas cortinas, mesmo que discreta, chamava sua atenção e interrompia qualquer tentativa de relaxamento. O contraste entre a luz e a escuridão parecia enfatizar ainda mais sua solidão e inquietação. Não estava em sua casa, e o cheiro adocicado do ambiente o lembrava disso assim que fechava os olhos. E pior, a figura de Nathalie em sua mente o fazia sentir mais solitário e lamentável naquele quarto, e apesar do aquecedor ligado sentia o frio ao seu lado da cama.

Ao verificar o relógio e constatar que já passava das duas da manhã, Spencer tomou a decisão de se levantar e sair para dar uma volta. Ele estava ciente de que não conseguiria dormir naquela noite e sentia a necessidade de escapar do confinamento do quarto. Cuidadosamente, ele percorreu o corredor, evitando qualquer ruído que pudesse perturbar os demais que, naquele horário, estavam dormindo.

Ao descer as escadas, pelas portas de vidro ele observa fora, era uma bela noite, a lua se exibia no céu escuro com as poucas estrelas que a cidade grande lhe permitia ser avistada. Ele abre a porta sentindo a grama amparada em seu pé e um leve vento o atingir, ele fecha os olhos erguendo a cabeça ao céu, enquanto a calmaria da noite o rodeava.

- Está uma noite gostosa, não é? - ele se assusta com o comentário abrindo os olhos e virando para o lado, onde vê Nathalie sentada a beira da piscina com os pés imensos em água. Ele olha ao redor como se esperasse avistar mais alguém e em instinto para não ser pego desprevenido outra vez. - Não consegue dormir também?

- É estranho não dormir em casa. - Responde caminhando até ela.

- Pensei que dormisse direto longe de casa.

- Bem sim, mas...é diferente. - Confessa se sentando ao lado dela mantendo uma distância razoável, mas não mergulha os pés na água que ele supõe está fria.

- Entendi, o problema é ser aqui. - Ela volta a atenção a água.

- Por que não está dormindo? Algo a aflige? - pergunta e ela o encara por alguns segundos como se perguntasse a ele o mesmo, ele prende o olhar ao dela temendo percorrer o olhar pelo robe escuro mal posicionado que revelava parte de sua pele. Ela olha acima dessa vez encarando a lua e ele pensa ter visto um vislumbre de um sorriso. - Sério, o que a incomoda?

Ela sente vontade em dizer que saber que ele estava em um quarto tão próximo a tirou o sono, que era tudo que ela conseguia pensar. Que de todas suas aflições ele era a maior.

- A inauguração do Instituto, está cada vez mais próximo. Agora que está quase tudo pronto, deixa muito mais real. E se eu fracassar? Como eu fracassei com todo o resto? - ela não esperava uma resposta ou um consolo, não era mentira, era um desabafo.

- Você está colocando toda sua energia, seu amor nisso. E tudo para o bem de diversos jovens. O que você está fazendo é lindo. Você não vai falhar, eu tenho certeza disso.

- Como?

- Porque eu acredito em você, de verdade. – Revela e sua voz calma a atinge como um golpe.

- Acho que essa é primeira vez que decidi e executei algo grande e importante sem a influência de alguém, por mim mesma. É por isso que tenho medo.

- Não é porque sempre teve alguém decidindo por você que te torna incapaz, se esse é de fato a primeira vez que toma as rédeas da sua vida Nathalie, faça sem medo. Você vai saber lidar. Eu acredito em você, nossos filhos acreditam em você. Só falta você acreditar em si.

Ele tinha razão e ela sabia disso, confessar tudo aquilo era extremante difícil, confessar que sempre foi usada e manipulada, que se apoiava na opinião dos outros, de seu pai, de Smulders e até mesmo de seu irmão era humilhante até, reconhecer que passou a vida sendo fantoche dos outros, mesmo fingindo que não.

Hold OnOnde histórias criam vida. Descubra agora