Capítulo 38

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Philip encarava a parede branca do seu quarto a tanto tempo que já havia perdido a noção da hora.

Cansou de lidar com seus projetos naquele dia. Queria levantar e ir até Diana e ver se ela queria jogar uma partida de xadrez ou Uno.

Queria contar a ela como foi seu dia. Queria rir com ela como sempre fizeram. No entanto eles estavam mais distantes morando na mesma casa, do que ele estava distante de Jace do outro lado do Oceano.

Analisava como foi que chegaram ali, naquela situação. Claro que foi quando ele decidiu ir atrás do pai biológico, quando a ideia surgiu e pediu ajuda a Jace, o rapaz foi o primeiro a preparar uma grande investigação. Que já não foi tão difícil quando descobriram que Mintg  tinha tal conhecimento por frequentar a residência Wintherspon no período da adolescência de Nathalie. O executivo era legal, um tanto arrogante, mas ainda legal, e era engraçado ver o tio Theo com ciúmes dele.

Tudo começou ali, e piorou quando encontraram Reid a contra gosto de Diana. Talvez Philip tivesse uma parcela de culpa em tudo que aconteceu desde então; talvez tenha sido egoísta, sem considerar a mãe, Diana e até mesmo o pai Chris.

Se Jace estivesse ali, provavelmente lhe daria um soco no braço, dizendo que tantas dores de cabeça eram o preço de ser excessivamente bondoso e assumir a culpa pelos erros dos outros.

Imaginou que, se Jace estivesse presente, pararia de encarar a parede e o irmão o chatearia para jogar videogame. Veria Jace perdendo como sempre, insistindo numa revanche, como era de praxe.

Se ele não estivesse brigado com a irmã e Jace não estivesse morando com seus tios. Ele estaria rindo com os dois, invés de encarar a parede branca.

Diana devia está pela casa ou se apossando do apartamento de Reid. Se tinha algo bom ali era que eles estavam se aproximando.

Já a única outra coisa boa, era sua mãe. Por ela, ele estava feliz. Depois de muito tempo ela estava empenhada em um grande projeto. O amor da vida dela, o sonho dela se tornava realidade a cada dia.

Crescer com uma mãe pianista não foi convencional. Mas ela era feliz, lembrava-se de vê-la sorrir, dançar. O ruim foi ver esse brilho se apagar. Pior foi vê-la se entregar ao álcool e os meses internado. Foi bom vê-la de volta mas nunca a como antes. E agora depois de tantos meses, ela estava feliz, ele via isso. Por fim essa mudança foi boa para ela.

A aposentadoria dela, o divórcio, o alcoolismo e internação. Sempre foi assunto recorrente em suas sessões de terapia, ele soube lidar com isso. Se tinha algo que Philip sabia ser, era compreensível.

E sabia que foi tudo isso que o levou a querer descobrir sobre o pai biológico. Foi essa série de acontecimentos que o fez agir de forma egoísta. Sentia esse peso em si, a consciência do próprio egoísmo.

E quando veio a troca de cidade, de escola. Os conflitos da mãe e o pai, os conflitos de Diana e Reid, a prisão do pai. Ele lidou com isso também. Porque mais do que compreensível e compassível, Philip sabia ser resiliente.

Mas em todas essas situações, ele sempre teve Diana e Jace ao seu lado.

E quando os dois estavam tão distantes dele - um por sua escolha e outro não - Ele não conseguia lidar.

E Philip sabia lidar com tudo.

Sempre soube.

Só nunca aprendeu a lidar com a falta de seus irmãos.

- Querido? Está tudo bem? - ele desvia o olhar da parede - finalmente - para a mãe.

- Acho que estou num momento de total enfado.

Hold OnOnde histórias criam vida. Descubra agora