Para o seu bem

818 69 4
                                        

Anos atrás

- Estou animada para ouvir o que você compôs. – A professora fala sentada ao lado. Nathalie se posiciona sentada ereta em frente ao piano, coloca a partitura a sua frente. Seus dedos avançam sobre as teclas do instrumento e a melodia melancólica ecoa. Nathalie tocava com tanto sentimento que se perdeu em meio ao som. A música refletia seus sentimentos, paixões, medos e desejos. Mas principalmente a dor e tristeza que a consumia nas últimas semanas. Ao terminar ela escuta rasos aplausos da professora e volta a realidade.

- Está perfeita, triste, mas perfeita. – Ela vibra sorridente. - Estou orgulhosa de você, sei que tens muitíssima chance de entrar na Juilliard School. – Nathalie sente um desconforto, era o nervosismo, pois tinham tantas expectativas em cima dela. Julliard era o sonho de qualquer um que queria se tornar um grande músico. Mas era tão temida, aceitava apenas os melhores candidatos em um processo bem rigoroso. E ela não tinha certeza se queria tanto.

- Obrigada.

- Eu só acho que você está um pouquinho acima do peso. – Nathalie se controla para não revirar os olhos lá vem ela novamente com seu discurso sobre pianistas gordos. – Temos 3 meses ainda. Marque uma consulta com sua nutricionista e faço uma nova dieta, precisa perder peso, olhe esse rosto. – A mulher passa as mãos à frente da face dela sem tocá-la. – E não pense que eu não notei essa panchinha. – Sussurra e Nathalie coloca mão sobre a barriga. Talvez tivesse engordado mesmo, passou os dias descontando as frustrações em chocolates. Mas não achava que fosse tão notável, se bem que a mulher parecia perceber se alguém ganhasse uma grama a mais

Fazia semanas que Reid foi embora. Ele como havia dito, nunca mais voltou, nunca mais a procurou, foi embora sem olhar para trás. Não poderia culpá-lo. Não havia como. Ela foi a grande culpada. Falou mentiras como verdades. E ele acreditou. Destruiu o coração do jovem homem, mas destroçou o seu junto. Até onde sabia o rapaz havia aceitado a proposta de emprego. Não entenderia nem sabia ao certo como funcionaria, mas naquele momento ele já deveria estar trabalhando para o FBI.

Horas depois ela se arrumava para o jantar com seu pai e a família Smulders, a contragosto participaria. Fazia tempo que não via Christopher e definitivamente não queria vê-lo mais uma vez. Ela troca de vestido duas vezes, ambos insistiam em ficarem justos. Talvez finalmente tenha chegado na idade em desenvolver o corpo, seus hormônios finalmente estariam colaborando para se tornar uma grande gostosa. Ela ri sozinha dos próprios pensamentos.

Se olha no espelho observando o próprio corpo, notou uma pequena saliência no abdômen. Ela se dá conta que sua menstruação não vinha a um tempo. Se assusta por um momento com a possibilidade de estar.... grávida? Novamente afasta esses pensamentos, seus ciclos menstruais era irregular, e segundo sua ginecologista era normal nessa idade. Por fim deixando as paranoias de lado, e opta por um vestido mais solto.

Durante o jantar Nathalie se limitou a conversar, principalmente ao amigo. Fingia não escutar as insinuações do pai e dos senhores Smulders sobre como adorariam verem os filhos juntos. Foi na apresentação do prato principal que o cheiro invadiu suas narinas fazendo com que seu estômago embrulhasse. Ela pede licença se levantando e se dirige ao lavabo mais próximo onde vomitou tudo que acabou de comer.

- Você está bem? – Christopher pergunta na porta enquanto Nathalie lavava as mãos. – Disseram que estava enjoada.

- Fiquei enjoada com sua presença. – Responde áspera.

- Olha, eu te prometi que sumiria da sua vida, eu também não queria vir mas meus pais insistiram e me coagiram com chantagem emocional.

- Tanto faz. Pode avisá-los que não estou bem? Subirei para meu quarto.

- Claro.

...........................................

Residência Garner.

- Prontinho ele dormiu. Vem vou te servir um café. – A Sra. Garner acabara de colocar o filho recém-nascido para dormir.

- Ele é tão pequenininho, mas as bochechas são enormes. – Elas riem.

- Sim. – Suspira. – Ele é a melhor coisa que me aconteceu.

- Imagino. – Sorri se sentando a bancada. – Como soube que estava grávida?

- Ah, sempre quis ser mãe, Júlio e eu tentamos por bastante tempo sem sucesso infelizmente. Mas tudo tem sua hora. Eu sempre estava fazendo teste, qualquer enjoo bobo eu achava que estava grávida. – Relembra rindo enquanto preparava o café e servia uns biscoitos a garota. – Mas quando eu estava grávida dele mesmo mal tive esses sintomas comuns de gravidez. Acho que vai de cada mulher.

- E como foi? Digo, ter uma criança crescendo dentro de você? As vezes parece assustador.

- Talvez, mas não achei. Acho que é uma das melhores sensações que uma mulher pode ter. Mas por que destas perguntas?

- Nada, curiosidade. – Responde suspeita.

- Nathalie, está querendo me contar algo? – a mulher conhecia a garota muito bem.

- Não sei. – Fica cabisbaixa.

- Oh minha menina. – A mulher vai até ela erguendo seu queixo. – Pode confiar em mim.

- E se eu estiver? – pergunta baixa enigmática e envergonhada.

- Grávida? – seu tom era de espanto. – Você acha que tem motivos para desconfiar disso?

- Talvez. – Responde somente.

- Vem, não é bom ficar alimentado esse tipo de dúvida.

A mulher vai até o quarto e mexe em algumas gavetas minutos depois ela encontra o que procurava e entrega a Nathalie um teste de gravidez. Nathalie pega receosa.

- E como faz isso?

.........................

- Nathalie já deu o tempo.

- Eu não consigo ver. Não quero ver. Ver para mim. – Pede entregando o teste de olhos fechados para a mulher. Ela abre os olhos e observa a reação da mais velha. "Negativo, negativo por favor"

- Positivo. – Fala sem rodeios.

- Mentira. – Pega o teste da mão dela e olha. Dois riscos marcavam. – Não. Vou fazer outro.

- Calma, primeiro de tudo você tem que ter calma. – Ela toca nos ombros da menina.

- Meu pai vai me matar! – ela se desespera. – Meu Deus.

- Nathalie, o teste não é seguro 100% é melhor fazer um teste de sangue, e se você estiver mesmo não tem que começar o pré-natal o quanto antes.

- Não. Claire, você não entende qualquer exame que eu fizer ele vai saber. Eu não quero que ele saiba. Por favor, não.

- Calma, calma. – Ela abraça a menina tentando acalmá-la. Tem que pensar direito, uma barriga de grávida não se esconde. Tem que contar, ter uma conversa sei que ele vai entender e te apoiar

- Eu não posso.... - Ela chora sob o abraça da mais velha.

- Você não está pensando em aborto, né?

- Nunca! – ela se surpreende com tanta segurança. Realmente não passou por sua cabeça em abortar. - Ele nunca está em casa, mal me vê. Eu vou adiar isso o máximo que eu puder.

- E o colégio? Seus professores, amigos, os funcionários da casa? Nathalie, não se esconde uma gravidez. E precisará passar por acompanhamento, pré-natal para a saúde do bebê e o seu.

Bebê. Essa palavra assustava tanto.

- Estou com medo. – Confessa. – Meu pai não vai aceitar isso.

- Eu vou te ajudar, está bem? Pode contar comigo. – Reconforta.
.................

4 semanas depois.

Nathalie ainda assustada estava se acostumando com a ideia de ser mãe. Uma gravidez na adolescência nunca é algo desejado, porém também não deveria de ser tão horrível.

A ideia era confortável, pensar que não está mais sozinha, que colocará uma vida ao mundo era absurdamente encantador, e ainda por cima do homem que ama.
O que a perturbava era pensar em contar para seu pai, hora ou outra não teria mais para onde esconder. Suas roupas largas, o distanciamento de conhecidos não adiantaria de nada em poucas semanas.

Hold OnOnde histórias criam vida. Descubra agora