Acordo com o barulho do celular. Sento na cama e pego o aparelho que está sobre o criado mudo. Era minha irmã ligando. Esfrego o rosto e puxo o ícone de telefone verde para cima, aceitando a chamada, deixo no viva voz e ouço a voz da Cloe sair do telefone.
- Ian! - ela parecia muito animada.
- É hoje que você volta né? - já vai decolar?
- Sim e sim, estou arrumando minhas coisas, comprei algumas lembrancinhas pra você do parque.
- Ah que fofo! Que bom que lembrou de mim!
- Eu sempre lembro de você, bobinho!
- A que horas mais ou menos, você deve chegar?
Olho para o relógio, eram 8:33.
- Umas onze horas, por aí.
- Então tá certo, vou preparar alguma coisa pra quando você chegar. Ok?
- Oba! Ok! Claro! - ela ri no telefone.
- Baixou a Karen, foi? - dou risada junto com ela.
- Não! - ela continua rindo - Bom, eu vou terminar de arrumar tudo pra ir. Tchau maninho, te vejo em breve!
- Tchau Cloe.
Ela desliga o telefone e o coloco de volta no criado mudo. Levanto e começo a arrumar a cama, dobro os lençóis e organizo os travesseiros, tudo alinhado, pego uma outra roupa e vou para o banheiro. Ligo o chuveiro e tomo um banho morno. Começo a relembrar a noite de ontem, eu tenho que marcar com a Luise, para assistir toda a gravação. Também lembro do quão perto fiquei dela. Na próxima vez que tiver a oportunidade, eu beijo ela.
De banho tomado, pego a toalha e me enxugo, visto a roupa que escolhi e desço para a cozinha. Balanço a garrafa, o café tinha acabado. Coloco água no fogo e espero que esquente. Enquanto espero, mando uma mensagem para Luise.
Eu: Oi. Pode se encontrar comigo hoje pra assistir as gravações?
Luise: Posso sim, que horas?
Eu: 14:30
Luise: Viu.Coloco o celular sobre a mesa e volto para o fogão. A água já estava quente, então começo a fazer o café. Quando está pronto, lavo a garrafa e ponho o café novo, colocando um pouco no meu copo também. Pego algumas torradas e passo manteiga. Coloco na torradeira e espero que fiquem prontas. Como as torradas com café puro e pego as chaves do carro.
Dirijo até o mercado, pensando no que preparar pra minha irmã. Penso que uma torta de frango será perfeito, até porque eu também estava com vontade de comer. Compro todos ingredientes necessários e vou a uma feira para pegar temperos frescos. Passo na floricultura e compro um lírio-do-vale para minha irmã. Em seguida volto pra casa.
Já em casa, coloco tudo sobre o balcão e lavo as mãos e começo a preparar o peito de frango. Em uma panela adiciono o óleo, temperos picados e água, coloco o peito de frango dentro e coloco no fogo. Enquanto cozinha, pego o kit de limpeza e começo a fazer uma pequena faxina na casa. Quando termino olho o frango, e vejo que já está bem cozido. Retiro a panela do fogo e desfio o frango e separo. Por fim, preparo a massa, unto a forma e coloco a massa nela, ligo o forno e coloco a forma lá dentro. Ativo um timer para me avisar do tempo para assar.
Subo para o quarto da minha irmã e arrumo a cama, coloco o lírio-do-vale sobre a cômoda. Tenho certeza que ela vai adorar. Vou para meu quarto e pego a mochila que contém os equipamentos, pego o laptop e faço o upload dos arquivos de gravação. Então desço e vou para sala assistir a algum programa aleatório.
São 10:36, e o timer começa a tocar, pego um palito e testo para conferir se tá assado. Desligo o forno e retiro a torta. Corto um pedaço e coloco no prato para mim. Estava uma delícia.
Cozinhar é algo que aprendi com a minha mãe, desde cedo ela me deu dicas e me mostrou como fazer várias receitas, desde doces até salgados, das mais simples como ovo frito até mais complicado como o baiacu. Eu já tinha tentado ensinar a Cloe, mas ela sempre acabava queimando algo.
Olho para o relógio novamente, eram 10:57. Daqui a pouco a Cloe tá chegando. Penso em uma sobremesa rápida faço um mousse de chocolate meio amargo. Coloco na geladeira e espero minha irmã.
Ouço alguém no interfone, olho pela câmera e vejo uma garota de cabelos castanhos curtos, com uma mala na mão e uma bolsa grande na outra. Vou até a porta e abro pra ela.
- Ian!!!
Ela joga os braços ao redor do meu pescoço me abraçando com força.
- Cloe! Certeza que você ficou mais alta!
- Naaah! Tomara!
Pego a mala dela e entramos. Ela se joga no sofá, completamente cansada, mas com um sorriso largo no rosto.
- Sim! Você me prometeu uma coisa gostosa para comer! Estou faminta!
- Hmm acabei comendo tudo...
- O quê?
- Estou brincando! - dou risada e vou para cozinha.
- Não brinca comigo assim! - ela faz um biquinho e solto outra risada.
Pego a forma no forno e coloco sobre o balcão, ela vem até mim com olhos arregalados e felizes. Corto um pedaço e ela traz um prato. Dou o pedaço pra ela e pego os talheres. Ela senta na mesa e começa a comer. Pego outro pedaço para mim e como também.
- Uau! - ela come com avidez - Isso tá maravilhoso!
Sorrio pra ela.
- Como foi lá?
Ela para e engole.
- Foi incrível! Me diverti a berça!
Cloe me conta todas as suas aventuras, e me mostra as fotos que tirou lá no parque. Ela parecia radiante.
- A July quando desceu o tobogã... - ela me conta contendo o riso - Acabou virando e desceu de barriga!
Rimos juntos até a barriga doer.
Ela me conta algumas outras histórias, depois sobe para o quarto pra tomar banho e hidratar o cabelo.
Também subo para meu quarto e abro o laptop. Havia uma notificação pendente. Era uma nova notícia. Uma nova criança especial tinha desaparecido.Mais uma criança... Leio um pouco mais, tinha sido o circo que tínhamos ido ontem. Nós não percebemos a situação. Tinha sido na saída, Tomas Allen... Era o nome do garoto, era mais um que se juntava a já grande lista. Isso precisa parar agora!
Rapidamente mando uma mensagem para a Luise.
Eu: Mais uma criança sumiu.
Luise: Eu vi. Temos que começar a agir.
Eu: Nós vamos descobrir quem está fazendo isso!
Luise: Sim, e vamos acabar com tudo isso.
Eu: Te aguardo as 14 horas.
Luise: Beleza.Levo o laptop pra sala de estar, começo a ler os relatórios anteriores e vejo como temos prosseguido na missão, e como poderíamos melhorar. Cloe aparece com uma touca na cabeça. Ela vê que estou trabalhando e se senta silenciosamente no outro sofá. O interfone toca, me levanto.
- Deixa que eu abro, pode continuar aí. - Cloe se levanta e vai abrir a porta.
Alguns segundos depois, a Cloe volta conversando com a Luise.
- Pois é! Hidratação de abacate é a minha preferida, deixa meu cabelo muito mais bonito!
- Gostei da dica, vou tentar qualquer dia.
- Aqui está ele!
- Oiii!
- Oi...- olho pra Luise e me surpreendo com seu visual, dou uma olhada rápida e sorrio apontando para um sofá.
Mas é impossível não notar, ela usa calça jogger preta com sua clássica corrente prata da cintura para o bolso, um cropped também preto e tênis roxo escuro, seu colar ganhou um destaque, revelando a fina linha da sua clavícula, todo esse look mostra a curva que seu corpo faz. Olho para trás dela, para não correr o risco de uma delas perceber minha encarada.
- Bom, eu vou lá lavar meu cabelo, tenho certeza que a hidratação já fez efeito! Tchauzinho!
- Tchau Cloe! - Luise sorri.
- Ahm - limpo a garganta - Então?
- Então o quê?
- Vamos começar?
- Sim! Vamos!
Ela pega sua mochila e o laptop. Coloca sobre o braço o sofá e começa a digitar.
- Aqui! - ela diz virando a tela para mim.
- Ok, vamos lá.
Pegamos os fones e começamos a assistir. Revemos a entrada e passamos a apresentação. No final, a Luise tinha captado algo com os brincos.
- Ali! - falo e pauso a gravação - Está vendo?
Ela procura com atenção e aponta também.
- Sim! Tô vendo! Como é que dá zoom?
- Assim. - mostro a tecla e ela aprende.
- É o garoto e a mãe!
- Antes de desaparecer.
Aperto o botão de play e continuamos a ver. O garoto olha para trás e acena, olha para a mãe e vai na direção que acenou. Mas nesse momento alguém aparece e não conseguimos ver para onde o garoto vai.
- Esse filho da mãe entrou bem na frente! - Luise esbraveja.
- Tudo bem, agora que sabemos mais ou menos o momento, podemos olhar nas outras gravações.
Conecto a gravação das lentes da Luise e assistimos ao mesmo trecho. Vemos que a criança corre para onde tinha acenado, e a mesma cabeça aparece.
- De novo?!
- Sem problemas, temos outras gravações, se conectarmos à minha lente... - conecto e começamos a assistir mais uma.
Não vejo o momento que o menino acena, mas vemos ele correr para o outro lado, passando na frente de mim e da Luise e chegando até a rua. Mas então vamos para o carro. Pauso a gravação, novamente.
- Que bom que o cara chato não atrapalhou de novo!
- Ainda bem. - sorrio.
- Mas ainda não vimos para onde ele foi e quem encontrou.
- Temos ainda a gravação do meu relógio.
- Vamos lá! Espero que ninguém surja na frente.
- É melhor a gente comer alguma coisa.
- Ah, tá bom.
- Vem.
Levanto e vou para a cozinha com a Luise.
- Sente-se. - aponto para os bancos na frente do balcão.
Pego a torta e frango e coloco um pedaço para mim e outro para ela, coloco sobre o balcão e ponho os talheres.
- Hummmm... Parece bom!
- Espero que goste.
Sento do lado dela e começamos a comer.
- Hmmm... Nossa, Ian! - ela enche a boca e come com avidez - Isso tá muito bom!!
- Valeu.
- Você que fez?
- Sim! - sorrio.
Ao terminar, ela tinha um pedaço pequeno de torta no lábio inferior, por impulso, pressiono de leve o dedão no seu lábio retirando a torta. Então percebo. Eu sempre fiz isso com a Cloe desde que era criança, mas... Com a Luise foi totalmente diferente. Senti o forte desejo de beijar ela novamente. Olho no fundo dos olhos dela e retiro a mão devagar.
- Oii! Não vi que estavam aqui! - Cloe aparece com uma toalha enrolada no cabelo - Pausa pra o lanche.- É sim! - Luise abre um sorriso.
- Mas já vamos voltar ao trabalho. - digo sorrindo - Tem mousse de chocolate meio amargo.
- Oba! - ela vai até o freezer.
Levantamos e respiramos. Droga Cloe. Eu amo minha irmã, mas ela fez uma cagada agora.
Chegamos na sala e voltamos ao laptop.
- Agora é a gravação do relógio, né? - Luise pergunta.
- Exatamente! - coloco o vídeo para rodar, ainda sentindo a pele do seu lábio no meu dedo.
Vemos o garoto já perto da rua abraçando o nada, ele caminha pela segurando o nada e entra em outra rua.
- Ian... - Luise olha para mim - O que você ia dizendo naquele dia sobre a imaginação das crianças?

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Muito bom, amigo
Science FictionLuise e Ian sempre foram bons amigos. Nada mais que isso. Após relacionamentos fracassados, ele busca apenas boas noites, e Luise sequer procura alguém. Mas um bom amigo é para todas as horas, não é mesmo? Este livro está conectado com: Não quero ni...