Ian.
Desde pequeno sou conhecido por ter cara fechada. Não tem nada a ver com o que houve com meus pais, com a forma como cresci, mas não é algo que eu tente mudar. Quando Josh trouxe eu e a Cloe para a agência, eu já era assim, apesar disso consegui fazer amigos pra vida toda. Cientistas dizem que uma amizade que dura sete anos, é para sempre. Mas não precisei disso para constatar. Quando encontrei um garoto vampiro de cabelo branco e o outro com veias pegando fogo, sabia que não estava sozinho. Acho que o fato de nós três estamos no fundo do poço nos aproximou, nunca vou dizer na cara deles, mas são quase meus irmãos.
Quando Josh trouxe suas filhas, tomamos um choque, primeiro pelo fato do Josh ter uma filha. Sabemos que ele é um cara reservado, mas o fato de ter tido uma mulher e filhas surpreendeu. Em todo nosso tempo com ele, que é muito, nunca o vimos conversar com uma mulher, que não fosse no tom profissional.
Apesar disso, nós três acabamos nos apegando às trigêmeas , Karen, a mais velha, é a mais problemática e também a mais rebelde, e a mais esfomeada também; Maggie, é a filha do meio, sempre meiga e fofa, sempre obediente e carinhosa, mas nosso namoro acabou após ela tentar me matar do nada; e temos a Luise, a filha mais nova, que nos surpreende por ser mais responsável consigo mesma e com os outros, dá exemplo pra as outras duas. As três são apegadas a família, e a nós também.
Namorei com a Maggie por dois meses, e até hoje me surpreendo do Josh não ter arrancado um fígado ou um rim de mim. Sinceramente não vejo graça na Karen, ela é engraçada e é divertida, mas nada nela me atrai. Luise era a mesma história, eu não tinha interesse nela, mas agora, os lábios dela me chamam atenção, é difícil não reparar a forma como seu corpo se move quando ela anda.
Cheguei a tocar naquele corpo e roçar meus lábios nos dela, não sei como me contive. Mas além de ela ser irmã da minha ex, ser filha do meu patrão, ainda estamos em uma missão. Tenho consciência disso enquanto caminhamos para o refeitório com um saltitante Nathan.
Tenho consciência de cada um desses pontos, mas jogo tudo fora apenas ao sentir seu aroma.
- Eu amo sopa... Sopa de frango! Eu amo sopa... Sopa de frango... - Nathan cantarola e Luise se junta a ele.
- Canta com a gente, tio White! - Nathan sorri, eu não gosto de ficar cantando, já tinha que fazer isso na aula, mas eu a forma como ele pede me faz ceder. Sei muito bem que isso vai render pelo menos duas horas da Luise falando sobre isso, mas ainda assim me junto.
- Eu amo sopa... - começo com a voz baixa.
- Sopa de frango! - Luise completa, e pelo sorriso que ela dá, já sei que vou estar ferrado.
- Queremos... - Nathan estende a mão para a atendente do refeitório - Três. - ele faz o número três com a mão - Três pratos de sopa, por favor. - a mulher sorri e vai para dentro pegar os pratos.
- Você é tão fofo! - Luise penteia seu cabelo com as mãos.
- Aqui está! - a atendente coloca os pratos sobre o balcão - Três! - ela faz o número três com a mão - Três pratos de sopa.
- Obrigado! - Nathan exclama.
- Obrigado. - sussurro para a senhora, e Luise também agradece.
Pego dois dos pratos e Luise pega o terceiro. Pela primeira vez em dias nos sentamos em uma das mesas junto com o resto do pessoal. Nathan sopra sua sopa, esperando que esfrie.
- Você deve pegar do canto, Nathan. - com a colher, recolho um pouco da sopa e coloco na boca, saboreando o tempero e os legumes, assim como o frango - Aqui na beirada está mais frio. Entendeu?
- Sim! - ele imita o meu movimento e sorri - Yummm está muito gostoso!
- Está mesmo. - Luise arqueia a sobrancelha.
Terminamos e então levamos o Nathan para sua mãe. Ao vê-la, ele corre ao seu encontro e pula em seus braços. A mãe o abraça e beija o topo da cabeça.
- Ele já está alimentado, senhora Ocher. - Luise avisa sorrindo.
- Muito obrigada! A vocês dois!
Ela se despede e sai.
- Também está na hora da gente ir.
- Sim, vou pegar minhas coisas.
Sinto que era o momento da gente conversar sobre o que tem acontecido. Não sei como a Luise pensa, mas imagino que o fato de eu ter tentado tanta coisa deve ter deixado ela confusa, ou talvez culpada. De qualquer forma, pode afetar a missão e preciso tirar isso a limpo. Não me arrependo do que fiz, na verdade, me arrependo do que não fiz. Aproveito para pegar meu celular e espero ela no carro. Está conversa não seria lá muito fácil.
- Eu realmente amo aquele garoto! - Luise chega e abre a porta do carro, entrando, se sentando e pondo o cinto - Mas não sei se ele se encaixa no padrão, temos que ver outras crianças.
Seguro firme o volante, e então ligo o carro, dou marcha ré para sair dali.
- Ainda temos que analisar, mas não faz mal ver outras crianças.
- Amanhã temos visita domiciliar o dia todo!
Já na pista resolvo tomar coragem.
- Preciso falar algo com você.
- Tudo bem.
- É algo sério.
- Tá bom...
- Você está melhor? Não se sente resfriada, né? - começo com o mais importante.
- Acho que vou ficar bem. Obrigada.
Balanço a cabeça afirmando.
- Quer falar sobre o que de verdade? - ela notou que estou contornando - É sobre...
- A Cloe.
Percebo que talvez não seja uma boa ideia tocar nesse assunto, pelo menos agora, principalmente no calor do momento, e ainda pode acontecer novamente.
- O que tem a Cloe? - suas sobrancelhas se juntam, acredito que ela percebeu que não é o assunto que eu queria tratar, mas também resolveu ignorar.
- Quer me apresentar o namorado dela. - digo um pouco descontente.
- É sério? - ela tem um sorriso surpreso.
- É sim, quer marcar dia e tudo. Eu concordei em encontrar com ele, ela me contou toda a história dos dois.
- Então você concordou? Que progresso!
- Não era algo que eu queria, pra mim ela ainda é muito nova.
- Quantos anos a Maggie tinha quando vocês namoraram?- ela me confronta com um sorriso travesso.
- É a minha irmã! Não parece certo! - sorrio, mas suspiro exasperado.
- Precisa aceitar que sua irmã cresceu.
- É difícil.
- Mas não impossível.
Fico em silêncio pensando no assunto. A ideia da Cloe crescer... Hak e Kieran já brincaram comigo quando ela mais nova, eles nunca tentaram nada com ela, mas riam do meu ciúme.
- O que você vai fazer?
- Espancar o cara. - digo sem expressão ao mudar a marcha.
- Ian...
- Ter uma conversa amigável...?- faço uma careta.
- Não precisa doar falso. Só... Diz pra ele não machucar sua irmã, senão, aí sim você promete espancar ele.
- Gostei da ideia.
- Nem tudo tem que ser a base da violência.
- Mas você adora uma boa briga.
- Que calúnia! - ela põe a mão no peito como se estivesse chocada.
- Admite que se eu chamar o cara pra uns briga, você é a primeira a sentar pra assistir com um balde de pipoca.
Ela ri e nega, mas no fundo, nós dois sabemos que é verdade. Chego na frente da casa dela e nos despedimos.
Ao voltar para casa penso se é uma boa ideia passar no bar. Não costumo ficar bêbado facilmente, mas não quero arriscar já que no dia seguinte tenho que visitar um monte de gente. Me contento em apenas tomar um banho e ir dormir.

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Muito bom, amigo
Science FictionLuise e Ian sempre foram bons amigos. Nada mais que isso. Após relacionamentos fracassados, ele busca apenas boas noites, e Luise sequer procura alguém. Mas um bom amigo é para todas as horas, não é mesmo? Este livro está conectado com: Não quero ni...