E mais uma vez estamos nas ruas caminhando, trocamos de roupas, arrumamos os cabelos. Tudo para procurar nosso alvo: um ônibus.
Chegamos em um ponto de ônibus e nós nos sentamos. Nossos insetos robôs estão bem guardados, apenas esperando o momento certo de agir.
Olho ao redor e meus olhos caem em Luise que parece um pouco ansiosa. Reparo em como suas madeixas balançam com o vento frio. Contenho a vontade de tocar nele. Lembro de como senti o cheiro do seu xampu e tento não fazer isso de novo.
- O que foi? - ela olha diretamente para mim.
Ela certamente percebeu que estou a encarando.
- O ônibus está vindo. - aponto com o queixo e me levanto.
Agradeço mentalmente ao motorista por ter surgido agora.
- Vamos? - faço um gesto com a mão.
Ela franze a sobrancelha, mas se levanta assim que o ônibus para. Seguimos para a entrada e faço o pagamento, após um bip, posso seguir e me sentar.
Decido esperar até a Luise vir e ela se senta na janela. Há um risco de ela enjoar mesmo com a viajem sendo curta.
Minha parceira fecha os olhos e admiro como seus cílios são longos e marcantes. E os lábios... preciso olhar pra outra coisa.
Tento me focar no que há além da janela, algumas árvores, pessoas caminhando, carros passando, prédios gigantes, os lábios da Luise... Droga, isso tá ficando cada vez mais difícil.
O ônibus para e outro passageiro entra. Aproveito a deixa para soltar os pequenos espiões. A anti gravidade e o ímã estão ligados, então assim que estão livres eles se fixam no teto.
Na próxima parada, toco o braço da Luise que já está com o rosto de outra cor. Ela acorda um pouco zonza e cambaleando, mas saímos do ônibus com sucesso.
Andamos um pouco e ajudo a minha amiga de cara verde a se sentar no banco.
- Quer alguma coisa? - pergunto um pouco preocupado.
- Não...
Chego mais perto e deixo que ela se apoie em mim.
- Se quiser vomitar... posso achar um banheiro.
- Tá tudo bem... - ela suspira - Só preciso respirar um pouco.
- Ok.
Sinto um certo nervosismo ao ter seu corpo assim tão perto do meu, também sinto seu calor. Ficamos um tempo assim, as pessoas vem e vão, até que ela levanta a cabeça parecendo um pouco melhor.
- Vamos para casa? - viro seu rosto para mim.
- Por favor!
Ajudo a pobrezinha a chegar no carro, que deixei mais cedo aqui perto.
Dirijo de volta para sua casa.
- Finalmente chegamos.
- Você pode ir descansar se quiser, vou deixar os insetos bem escondidos nós locais e quando você estiver melhor, a gente continua.
- Tudo bem...
- Cloe? - abro a porta e chamo pela minha irmã - Você está aí?
- Aqui na sala.
Passo na cozinha e tomo um copo de água.
- Só te vi ontem de manhã! Como você está?
- Morto. - respondo soltando o ar.
- Senti saudades!
- Eu também.
Sento ao seu lado e vejo que ela está vendo um filme, muito provavelmente é romântico.
- Me passa um pouco dessa pipoca. - peço.
- Onde você dormiu? - ela me entrega a tigela.
- Nem dormi, na verdade.
- Tadinho de você.
- Eu sei... - solto um bocejo - Que filme é esse?
- Esposa de mentirinha. - ela diz com empolgação.
- De novo? Você já não assistiu...
- ...Tipo um zilhão de vezes? - ela completa - Sim! E tô eu aqui assistindo mais uma vez.
- Você adora esse filme.
- Eu amo esse filme! - ela olha pra mim - Você tá com uma cara de sono... Por que não sobe para sua cama?
- Quero assistir.
- Mesmo? - ela me encara - Você vai é dormir aqui e acordar com dor nas costas, isso sim.
- Não vou não.
Mas não consigo nem chegar na parte em que o Danny conhece a Palmer.Acordo estirado sobre o sofá e com meu cobertor. A televisão já está desligada e a Cloe não está aqui. Me levanto e alongo as costas que estrala no mesmo instante.
Apesar da dor nas costas, me sinto revigorado. Procuro meu telefone e encontro sobre o outro sofá. Já é quase cinco horas da manhã. Eu realmente dormi demais. A casa está escura, mas com a luz do telefone eu subo até meu quarto.
Vou ao meu banheiro e tiro as roupas. Ligo o chuveiro e em meio ao banho, solto outro bocejo curto.
Procuro meus moletons e me visto. Também pego meias e vou até a cozinha. Está muito cedo, mas mesmo assim mando uma mensagem para a Luise, quero saber se ela está melhor.
Preparo café puro e panquecas. Enquanto como o meu café, assisto a um episódio de Doctor who. Eu costumava assistir durante a infância, e se tornou minha série de ficção científica favorita. Ela também traz muitas lembranças do meu país, é nostálgico de um jeito bom.
Enquanto coloco os pratos na lava-louças, meu telefone vibra, indicando que recebi uma mensagem da Luise.
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Muito bom, amigo
Science FictionLuise e Ian sempre foram bons amigos. Nada mais que isso. Após relacionamentos fracassados, ele busca apenas boas noites, e Luise sequer procura alguém. Mas um bom amigo é para todas as horas, não é mesmo? Este livro está conectado com: Não quero ni...