Luise e eu temos um plano para descobrir mais sobre os sequestradores. E começa com uma entrevista de emprego falsa para entrar em uma instituição verdadeira que cuida de crianças especiais.
A instituição em si é obra da nossa agência, como uma forma de localizar e ajudar crianças que tenham dons. Eu e a Cloe costumávamos ser atendidos em um lugar assim na infância. Conversamos com os organizadores que aceitaram nos ajudar, e aqui estamos nós.
Luise foi a primeira a ser chamada. As perguntas que devem estar fazendo estão longe de uma entrevista tradicional. Mas, para que problemas sejam evitados, ela tem que passar um tempo na sala batendo um papo com eles. Não iríamos ter cargos importantes, tudo o que precisamos é analisar bem para descobrir qual é a próxima criança, descobrir como elas estão sendo raptadas, e evitar que esta criança e as próximas sejam levadas.
Depois de cerca de meia hora, ou mais, Luise sai sorrindo da sala.
— Como foi lá? — pergunto — Acha que vai conseguir entrar?
— Com um currículo daquele? — rimos e ela se senta.
— Eu sou muito bom em fazer currículos falsos.
— Nossa, Ian! Que incrível habilidade! — ela diz sorrindo.
— Ian White. — a voz feminina sai da porta.
— Bom, é minha vez.
— Boa sorte.
Pisco pra ela e entro na sala.
— Bom dia, senhor White.
— Bom dia, senhora Jones.
Estela sorri e entrego meu currículo. Ela lê um pouco e olha pra mim com um olhar divertido.
— Este currículo é verdadeiro?
— Não. — sorrio.
— Hmmm... É que domador de cavalos não parece ser muito útil em um hospital.
— Eu tenho várias habilidades. Já imaginou se um cavalo invade o hospital?
— Fotógrafo de pets?
— Todo mundo adora foto de gato.
— Hak ou Kieran?
— Nenhum dos dois. — ela inclina a cabeça — Luise fez para mim.
— Ok... Nunca imaginei isso. — ela gargalha — Este aqui é bom. Técnico em enfermagem.
— Gosto de cuidar das pessoas. — sorrio — Essa parte é verdadeira — acrescento.
— Eu sei. — Estela coloca o papel sobre a mesa e se levanta — Muito trabalho hein? — ela agora fala da missão.
— Sim, e muito difícil também.
— Café? — confirmo com a cabeça — Mas saindo do lado profissional, estou animada para conhecer uma das filhas do Ryan Carter!
— Você nunca as viu?
— Bem, sim. Quando as elas entraram na agência, foram apresentadas, mas nunca tive a oportunidade de conversar com elas.
— Que milagre você não surtou na sala.
— Eu sou uma boa profissional.— ela fica com uma expressão séria — Mas sim, foi muito difícil. Não quero que ela pense que sou uma louca!
Rimos muito e bebemos café. Ela é uma das pessoas que tem um cargo de peso na agência, pois está já trabalha há muitos e muitos anos. Ela foi uma das melhores alunas do Josh. Não há um link emocional como com o Kieran, Hak ou eu. Mas depois de se tornar médica, pôde trabalhar no próprio hospital da agência, tendo um cargo de liderança no mesmo.
— O que achou dela? — pergunto me referindo a Estela.
— Ela é bem educada, um pouco tímida também, mas incrivelmente linda! — ela pausa para beber café — E os olhos! É uma das poucas pessoas que vejo, além de você, que tem olhos lilases. E sem querer ofender, Ian, os dela são muito mais bonitos.
— Me ofendeu! — brinco.
— Como ela é como agente? É a primeira vez que vou ver ela atuar.
— Ela é bem concentrada e se esforça na missão.
— Estou bem animada.
— Eu imagino!
— Hmmm... Agora tenho que dizer que, acabou nossa entrevista, você foi muito bem, e vamos te ligar.
— Vai ligar mesmo né?
Ela olha para o lado e depois ri.
— É claro. Preciso acertar alguns detalhes. E quando for para integrar a equipe eu ligo.
— Obrigada, Estela. Tenha um bom dia.
— Você também.
Saio da sala e encontro Luise ainda sentada nas cadeiras da sala de espera.
— Vamos comer?
— Tá bom. — ela me olha com curiosidade — Como foi a entrevista falsa?
Andamos para fora do hospital e vamos para o carro.
— Domador de cavalos?! — lanço a pergunta enquanto manobro para fora do estacionamento.
— Não sei de nada...
— É claro que sabe!
— Não lembro disso.
— Fotógrafo de pets?! — dirijo até uma lanchonete.
— Se eu não lembro, eu não fiz.
— Agora acho que provadora de feijão, foi muito fraca.
— Você colocou isso no meu?
— É claro.
Após um tempo falando sobre as coisas ridículas que colocamos um no currículo do outro, paramos em uma lanchonete para comer algo. Paro o carro e no instante que olho para frente vejo algo que faz meu sangue ferver. Minha irmã parece estar conversando e rindo com um garoto, e de repente ele se inclina pra beijar ela. Algumas pessoas passam na frente e não consigo ver. Meu instinto é ir até lá e perguntar por que esse cara está tocando na minha irmãzinha. Sinto uma mão segurando firme meu braço.
— Calma, Ian... — Luise tenta segurar meu braço com as duas mãos.
— Mas você viu...?
— Sim, sim, eu vi.
— Não posso deixar...
— Calma, Ian! Respira!
Tento controlar a respiração, a raiva que sinto desse desconhecido é tão grande...
— Mas ele...
— Ian! — finalmente olho pra Luise.
— Ela já é crescida!
— Não é não!
— Ah é? Quantos anos ela tem?
— 17 anos.
— Viu só? Não é mais novinha.
— Pra mim é!
— Foi só um beijinho Ian!
— Mas não...
— Com quantos anos você deu seu primeiro beijo?
— Isso não vem ao caso.
— Quantos anos?
Não respondo. Tinha sido com 11 anos, em uma festinha da escola. Mas eu não ia dizer isso pra Luise. Iria quebrar meu argumento. Que na verdade eu já nem tinha.
— Ela conta tudo pra mim... — me sinto ferido, e paro de lutar. Luise solta meu braço mas permanece atenta.
— Talvez... O cara ainda não seja tão importante pra ela.
— Mas ele encostou aquela boca suja na da minha irmã!
— Bem... Não exatamente. — ela ri.
— Foi na bochecha, Ian.
— Sério?
Olho pra frente. Eles continuam conversando enquanto tomam sorvete.
— Então...
— Ela balançou a cabeça e ofereceu o sorvete dele. Não foi um beijo de língua seu ciumento.
— Mas começa assim.
— Relaxou?
— Ela não me contou...
— Ah... Tem que ter paciência. Ela deve te contar em algum momento. Mas se você reagir da mesma forma que reagiu agora, ela não vai te contar mais nada.
— Não é uma tarefa fácil.
— Olha, Ian. — olho pra ela — Eu também não gosto dos caras com quem a Karen fica. — balanço a cabeça, confirmando — E você acha que eu gostava quando você estava com a Maggie? Então, você pode até ficar com raiva. Mas você não pode agir como um urso feroz prestes a arrancar a cabeça do coitado.
— Entendi.
— Que bom. Agora quero batatinhas.
Dou risada da situação, me sentindo mais leve. Entramos na lanchonete. Para a irmã mais nova, Luise era realmente a mais inteligente. Jamais deixaria minha irmã passar tempo demais com a Karen, e não tenho nada contra a Maggie, mas com certeza não vejo problemas em deixar a Cloe com a Luise.
Pedimos uma grande porção de batatas fritas e alguns salgados também. Ao sairmos entramos novamente no carro e dirijo até minha casa.
Cloe noa recebe em casa. Me pergunto como ela chegou aqui tão rápido. Ela estava no parque e veio pra cá... O cara tem carro? Eu não ouso perguntar, ela certamente iria ligar os pontos e perceber que eu já tinha visto ela mais cedo.
— Tenho uma novidade!
Luise olha pra mim e sinto o nervosismo vir.
— Conta pra gente? — Luise diz e me sento no banco do balcão da cozinha.
— O que é? — eu tento sorrir.
— Me inscrevi em um curso de inverno!
Eu abro a boca e sinto um alívio.
— Nossa! Que fantástico, Cloe! Que curso você escolheu?
— Culinária? — eu chuto.
— Não mesmo. Você sabe que provavelmente eu queimaria a escola no primeiro dia.
— É verdade. — damos risada — Mas talvez até lá você consegue aprender a cozinhar um ovo.
— Nossa!
Rimos mais uma vez.
— Eu escolhi arte.
— Boa escolha. — digo.
— Eu não sabia que você curtia arte, Cloe. — Luise diz.
— Acho que vai ser divertido.
Passamos um bom tempo conversando sobre as aulas e sobre os materiais. Cloe está bem animada e parece bom estar em um curso durante as férias. Levo Luise para casa e esperamos pela ligação no dia seguinte.No dia seguinte, estou almoçando com a Cloe. Decidi fazer um almoço britânico, para recordar as nossas raízes. Até porque, o inverno estava começando, precisamos de mais energia.
— Isso tá maravilhoso! E eu ajudei a fazer! — Cloe sorria enquanto comia a carne.
— Você foi ótima no seu papel de olhar os legumes cozinharem.
— Fui uma boa assistente, não?
— Foi sim.
Eu sentia vontade de perguntar sobre o tal cara com quem ela estava no dia anterior, mas eu me seguro e apenas falamos do curso e do almoço.
Mais tarde, recebo a ligação do hospital. A voz fina da secretária avisa que fomos aceitos na vaga e que deveríamos ir no dia seguinte para uma entrevista coletiva para testar nossas habilidades. Ao terminar a chamada, mando mensagem para a Luise, embora eu saiba que ela já deve ter recebido a ligação.
Eu: Você também foi aceita?Luise: Sim! Entrevista coletiva amanhã, né?
Eu: Sim, apenas formalidades.Luise: Tô feliz que conseguimos.
Eu: Também tô. Nós nos vemos amanhã, ok?
Luise: Viu.No dia seguinte, Cloe segue para o curso enquanto eu me arrumo para buscar a Luise. Chegamos no hospital e aguardamos na sala de espera.
— Ansiosa? — pergunto a ela.
— Um pouco.
— Agora vai ser parcialmente verdade.
Ela me olha confusa.
— Apesar de ser falso, precisamos aprender algumas coisas. Não queremos machucar ou matar ninguém.
— Ah. É isso. — ela sorri — De boa.
— Vai ser divertido.
Uma mulher aparece e nos chama para a outra sala. Lá há muitos instrumentos e materiais, e alguns profissionais para nós ensinar. Temos uma aula básica sobre algumas coisas e sobre o que teremos de fazer, de como cuidar dos pacientes e como entender cada função das máquinas. Ao terminar a aula, somos direcionados para outra sala, onde a Estela Jones nos espera. Vejo um brilho nos seus olhos, animada por mais uma vez estar com a Luise, acredito, que ela só parou para conversar com a gente por esse motivo.
— Creio que já terminaram a primeira aula. — afirmamos com a cabeça — Muito bem. Estou esperando a pré avaliação, mas acredito que vocês foram bem.
Ela para um instante para ver algo na tela do computador. Uma tecla é acionada e a impressora começa a funcionar. Alguns papéis são impressos e a Estela se levanta para pegar. Ela se senta e lê os papéis. Ela faz uma expressão séria ao olhar para nós.
— Acabei de ler a avaliação de vocês — ela abre um pequeno sorriso — Vocês foram muito bem, as avaliações estão ótimas. Vocês começam amanhã.
— Obrigado. — digo.
— Meus parabéns. Amanhã vocês terão um superior que vai ajudar vocês, ok? Mas antes, eu tenho que avisar: gostamos de ajudar os agentes em suas missões e damos todo o apoio possível, mas em troca, gostamos de lembrar que aqui é uma instituição séria e que realmente cuidados de pessoas aqui. Então tenham responsabilidade. Dito isso, aguardo vocês amanhã.
— Nós entendemos, muito obrigada.
Saímos da sala contentes. A primeira parte do plano está feita.No dia seguinte. Luise chega na minha casa já bem arrumada.
— Eu adoro seus looks são muito lindos Luise! Eu os adoro! — Cloe se anima.
— Ah obrigada Cloe. Eu acho seu cabelo maravilhoso!
— Que fofo vocês duas! — me aproximo.
— O Ian tá como sempre.
— Cloe, eu tô indo trabalhar, quer uma carona pra o curso?
— Sim, por favor e obrigada. Vou só pegar meu casaco.
— Eu adoro sua irmã!
— Ela é uma fofa né?
Vamos todos para o carro. Cloe se senta no banco da frente e Luise no banco detrás. Deixo a minha irmã no lugar do curso e a Luise se senta na frente.
Torcemos para ter sucesso nesse próximo passo: encontrar uma criança que se enquadre no padrão.
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Muito bom, amigo
Science FictionLuise e Ian sempre foram bons amigos. Nada mais que isso. Após relacionamentos fracassados, ele busca apenas boas noites, e Luise sequer procura alguém. Mas um bom amigo é para todas as horas, não é mesmo? Este livro está conectado com: Não quero ni...