Capítulo 28

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      — Em cerca de trinta minutos este lugar será entregue ao caos! — a voz grave da chefe do trauma anuncia a todos presentes na entrada do hospital — Ainda não temos ideia da gravidade da situação, todos aqui serão necessários. — ela olha para cada rosto na multidão — Todas as cirurgias que não forem urgentes serão adiados. Depois que os pacientes chegarem vocês não terão tempo para nada! Por isso, quem quiser beber água, vão logo, quem quiser ir ao banheiro, vão logo, quero que o máximo de macas estejam aqui, precisamos do máximo de suprimentos.
       Ela termina de anunciar e a multidão vai se dissipando. Alguns saem pelos corredores e outros começam a preparar as mesas. Alguns dos médicos e internos vão para frente do hospital esperar pela chegada das ambulâncias. A médica estava errada, o caos chegou antes mesmo dos pacientes.

      Quando desejei que o dia fosse produtivo, eu jamais imaginaria que algo do tipo fosse acontecer. Luise tinha acabado de chegar e seguimos para o hospital deixando a Cloe na academia no caminho. Assim que estacionei, uma notificação me fez olha o telefone e ficar perplexo. Um grande acidente envolvendo vários veículos tinha acabado de acontecer. E foi quando corremos em direção a entrada.

      — É melhor eu ir ao banheiro logo. — Luise murmura e sai.
      Eu por outro lado resolvo tomar um gole de água e voltar para me preparar.
      O lugar está movimentado, mesas são preparadas, maçãs trazidas e há uma tensão no ar. Na tela acima na parede, um canal de notícias fala sobre o acidente, parecem estar tentando chegar ao local.
       ~ Até onde sabemos, tudo começou com a batida de um ônibus, não temos informações do número de feridos ou se há mortos...
      — Já chegou alguém? — Luise aparenta estar calma e focada.
      — Estão chegando agora.
      Antes que ela possa fazer mais alguma pergunta, ouvimos o barulho da ambulância e ficamos em prontidão. A primeira vítima chega aflita enquanto os médicos tentam acalma-la. Rapidamente ele é levado para uma das estações e começa a ser atendido.
      Ao passar, posso ver o motivo de tanta gritaria e aflição, sua perna está em uma posição estranha e sangra muito.
      O próximo paciente parece não estar tão ruim, não há vejo nenhum corte ou machucado, mas ele está muito quieto.
      — Algum enfermeiro? — olho para a direção da voz e corro até lá — Preciso de mais compressas! — pela ansiedade em sua voz parece ser uma das internas.
      Rapidamente pego o que ela pediu e entrego. Chegando mais perto posso ver o paciente, está desacordado e com um corte no abdômen. A garota, apesar de aparentar ser nova, se vira muito bem e rapidamente o sangramento é estancado.
      
     As horas voam a medida que pacientes são tratados e outros chegam. Vez ou outra, procuro a Luise com o olhar, o tempo todo ela ajuda e toma o controle da situação, mas sei também, que a ruga em sua testa expressa preocupação.
     Quando damos conta de atender a todos, olho para o relógio e tomo um choque, já são quase sete horas da  noite. E em nenhum momento pudemos parar para almoçar.
      Aproveito a recente pausa e vou ao banheiro lavar o rosto. Um Ian cansado me encara de volta. Apalpo meu bolso e lembro que meu telefone está no quarto. Então vou até ele e o pego.
      Mas minha preocupação está na Carter mais nova, que apesar de não gostar muito de comer, pode estar muito fraca neste momento. Ando pelos corredores, procurando pela Luise, e após andar por um tempo, encontra ela no quarto de um paciente.
      — Como está aí? — entro no quarto.
      — Tô terminando, só conferindo...
      Aguardo em silêncio na entrada, até que ela se afasta da maca e se aproxima de mim.
     — Já terminou? — pergunto.
     — Por ora, sim. Só tenho que olhar eles de vez em quando.
     — Vem comigo. —  começo a andar.
     — Para onde?
     — Comer alguma coisa.
     — Tudo bem. — ela nem discute.
 
      Caminhamos até o carro e dirijo em direção a um restaurante que fica perto do hospital.
      — O que vamos pedir? — ela pergunta.
      — Não batatas, com certeza. — respondo e ela dá uma risada sarcástica.
      Lemos o menu e em poucos segundos uma garçonete vem nos atender.
      — Posso ajudar?
      — Claro, vou querer o número doze, e você Luise?
      —  Hmmm... o trinta e sete.
      — Boa escolha, trarei em breve.
      — Então... Como você está? — admito que fiquei preocupado com ela.
      — Awn... Você ficou preocupado comigo? — ela aperta minha bochecha — Estou bem. — ela suspira.
     — Foi um dia bem cheio.
     — Sim, foi muita gente, vi algumas imagens, o acidente foi feio.
     — É estranho como tudo aconteceu.
     — Sim.
     A garçonete retorna com nossos pedidos e começamos a comer.
      — Não acha que tem algo a mais nisso? — Luise olha para mim.
      — Diga o que acha. — se ela desconfia, é porque deve ter algo.
      — Eu sei que acidentes acontecem a toda hora...
      — Mas esse tá muito estranho.
      — É, não faz sentido pra mim.
      — Vamos fazer assim. Vamos terminar nossa comida e dar uma olhada no local antes de voltar para o hospital, o que acha?
      Ela balança a cabeça, afirmando e continua a comer.

Muito bom, amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora