Capítulo 23

23 9 81
                                    

Ian.

     Sinto um gosto ruim na boca e a dor na minha costela começa a me acordar. Luise está na minha frente no meu quarto, e isso é um pouco estranho. Tento alcançar meu telefone atrás dela, mas seu olhar transmite pânico.
     — O que aconteceu? — ligo o  abajur.
     — Nada. A Cloe disse pra te acordar. — ela se afasta da cama.
     — Eu dormi demais? — me sento.
     — Um pouco. — ela olha pra mim e fica tímida — Ahem... Bom, estamos te esperando lá em baixo, tchau.
     Ela sai tão rápido do quarto que me pergunto o que a assustou. Quando olho para baixo acho a resposta, meu pênis está ereto e levantando a coberta. Levanto e vou direto para o banho, aos poucos ele se aquieta. Será que ela pensou que eu estava excitado? Nah, ela deve saber que ereções durante a noite são normais... Ou será que não sabe? Decido não me preocupar com isso a não ser que o assunto surja. Terminado o banho, visto uma roupa limpa e desço as escadas, ouço risos das meninas na cozinha e me aproximo.
     — É, eu sei! — Cloe gargalha ainda mais alto.
     — Sabe o que Cloe? — encontro a mesa arrumada e um cheiro de queimado.
     — Ah, não é nada. — ela mexe as mãos e me entrega um prato — Por que não come?
     — Você que fez? — observo a mesa.
     — Eu tentei e não deu certo, aí a Luise me ajudou.
     — É, eu fiz a maravilhosa mágica de colocar o pão na torradeira. — os olhos dela brilham enquanto ela ironiza.
     — Mas tô sentindo cheiro de queimado. — levanto uma sobrancelha.
     — É... — Cloe parece querer disfarçar algo.
     — Então... — Luise olha para o teto.
     — Ai! Me desculpa maninho! Eu acabei... Queimando alguma coisa sim... — seus ombros caem e ela vai até a pia, levanta uma frigideira que está com o que parece ser ovo queimado.
    — Sua panela já era, Ianzinho.— Luise faz cara triste.
    — Você... — semicerro os olhos.
    — Eu vou lavar! Prometo.
    — Tá tudo bem. Não tem como ficar bravo com você.
    — Awnnn — ela vem até mim e me abraça — Então... Já que você está de folga hoje... O que acha de um almoço ou jantar... com o James e eu, e você... — ela parece esperar minha reação.

    Fico em silêncio por alguns segundos. Não sei o que pensar, não tenho a menor vontade de ficar perto do cara que pode estar beijando minha irmã. Por outro lado, pode ser interessante para evitar que ele planeje segundas intenções. Tenho medo de que esse idiota possa engravidar minha irmãzinha e a abandone. Ou magoe ela.
     — Tudo bem.
     — Ah que bom!
     — Jantar, a noite. — confirmo.
     — Vou falar com ele! — ela sai dando gritinhos animados e depois volta — Estou indo para o curso. — Cloe me abraça e sai saltitando.
     — Você aceitou isso muito fácil... — Luise olha pra mim com desconfiança.
     — Só um jantar.
     — Sei...
     — Já tomou café?
     — Já.
     — Vamos trabalhar?
     — Ah... Eu não sei se quero... — ela brinca.
    — Te dou batata frita.
    — Deus ajuda, quem cedo madruga!

     — Hmmm... — Luise mastiga mais uma batatinha — Deve ser uma pessoa só.
     Ela digita algo no laptop com apenas uma mão, enquanto a outra pega mais uma batata.
     — Você pode ter razão. — bebo um gole de café — Se fosse mais pessoas fazendo isso, o número de crianças que sumiram seria bem maior.
     — Deve ser alguém bem poderoso também... Sabe, pra fazer alguém ver um ser humano... — suas sobrancelhas se juntam quando ela pensa.
     — Com certeza... Não é alguém inexperiente, é alguém que sabe muito bem o que faz.
     Penso um instante sobre o assunto.
      — Não conheço ninguém que faça isso.
      Conheço algumas pessoas que podem ter poderes relacionados a telepatia e coisas do tipo. O Josh é o mestre no que se diz respeito a mentes, nunca vi alguém tão poderoso quanto ele, e todos os inimigos temem ele. Suas filhas até conseguem conversar mentalmente umas com as outras, mas nada comparado ao o que o pai consegue fazer.
      — Só pode ser alguém novo... Alguém que não vimos. — nossos raciocínios seguem a mesma linha.
      — Faz sentido eles terem escondido alguém tão bom. E o Josh já deve ter uma boa ideia de quem seja...
      — Mas de onde será que essa pessoa faz isso?
      — Acho que perto da criança, não tão perto a ponto de ser vista.
      — Entendi. Se fosse de forma remota, essa pessoa poderia ter feito mais vítimas.
     — Exatamente. E seria bem mais poderosa também.
     — Com licença... — Cloe chega com um copo de água e uma caixinha na mão — Hora do remédio, Ian.
     Pego o comprimido e coloco na boca, em seguida tomo um gole de água.
     — Toma tudo, Ianzinho. — Luise brinca.
     — Bom menino. — Cloe afaga meu cabelo.
     — Bom. Já são quase meio dia, tenho que ir. — Luise digita algo antes de fechar o laptop.
     — Almoça com a gente. — convido.
     — Não precisa...
     — A qual é... Você nunca almoçou com a gente. Fica, vai! — Cloe insiste.
     — Tá bem... Deixa eu só falar com meu pai. — ela fecha os olhos, deve estar mandando uma mensagem telepática.
     — Vou preparar a mesa. Fica com ela. — digo para a Cloe e vou para a cozinha.

Muito bom, amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora