Capítulo 20

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     — Aqui está o Brandon! — ela volta com um garoto loiro que parece muito com ela.
     Há algo diferente nela, soltou o cabelo. Dou um sorriso para eles e pego a ficha. O garoto não tem poderes, é uma visita de rotina, isso é bom.
     — A mãe dele saiu, eu tô de babá.
— Melissa esclarece enquanto se senta no sofá com o garoto, ela cruza as pernas enquanto olha pra mim.
     — Então, Brandon? Como está se sentindo? — tento chamar a atenção do garoto.
     — Muito bem. — ele brinca com um soldadinho de brinquedo.
     — Vi aqui que ele fez uma cirurgia de transplante de coração faz um ano... Já fez as revisões? — Luise lê a cópia da ficha.
     — Sim, se não me engano ele fez uma seis meses depois. — Melissa mexe no cabelo delicadamente.
     — Ele tem tomado os medicamentos certinho?
     — Sim, minha irmã tem cuidado de tudo.
     — E como tá o coração novo, rapaz? — tenho que falar alguma coisa.
     — Ele é muito bom, faz tum tum tum tum.
     Esse comentário faz a gente rir um pouco.
     — Posso te examinar agora? — Luise pega o estetoscópio, o Brandon balança afirma com a  cabeça e se aproxima da Luise. Ela põe o aparelho no ouvido e ausculta o peito do garotinho — Hmm parece muito bom! Pode virar? Isso... Deixa eu ver... — Melissa lança outro olhar pra mim e retribuo com um sorriso — Perfeito! Seu coração está muito bom.
     — Eu não sabia que você trabalhava em um hospital.
     — Sou voluntário.
     — Que interessante. E você só atende crianças? — seu sorriso é provocante, apesar de a Luise estar com a cabeça abaixada anotando na ficha posso ver um sorriso — Desculpe, eu não quis soar como se estivesse dando uma cantada... Eu... É...
     — Tudo bem. — dou um sorriso pra tranquilizar — É sim, eu só fico com as crianças.
     — Ah... Entendi. — ela lambe os lábios e sinto que a Luise está prendendo o riso.
     O silêncio só não domina a sala, porque o Brandon brinca com o soldadinho. Melissa e eu trocarmos outros sorrisos. Limpo a garganta e guardo os papéis que tenho em uma pasta.
     — O Brandon tem que fazer a revisão de um ano depois. Precisa marcar, ok?
     — Claro. Vou falar com minha irmã.
     — Bom, nós terminamos aqui. — Luise se levanta e eu também.
     — Ah... Certo, vou acompanhar vocês até a porta.
     — Tchau Brandon. — Luise se despede, ele sorri e acena.
     — Tchau, e fica bem. — aceno pra ele, que acena de volta.
     Caminhamos nós três até a porta e nos dirigimos para o carro. Pelo sorriso da Luise, já sei que vou ser bombardeado de piadinhas.

     — Então...? — ela parece conter o riso.
     — O que?
     — Ficou excitado?
     — Como? — quase engasgo ao falar.
     — Deve ter sido difícil... — ela quase solta o riso.
     — Não tô entendendo.
     — Sabe... Ela cruzando as pernas e lambendo os lábios... Não sei como você aguentou... — seus olhos estão marejados com o esforço.
     — Sério?
     Ela se rende ao riso e gargalha até começar a ter dificuldade pra respirar. Apenas mantenho meu olhar na estrada. Desde que eu contei em um jogo de verdade ou desafio que mulheres que cruzam as pernas ou lambem os lábios me deixam excitados ela começou a me zuar e não parou mais. Vez ou outra, ela volta ao assunto. Quando contei na época, ela disse que ia lembrar disso pra sempre, infelizmente, para mim,  ela é uma mulher de palavra.
     — Não. — eu suspiro — Eu não fiquei excitado.
     — Foi por que ela só cruzou uma vez? Ou não lambeu os lábios direto?
     — Só não tava no clima mesmo.
     — Mas ela te conheceu do circo?
     — Longa história.
     — Que inclue pernas cruzadas e...?
     — Não... — estamos perto do parque e algo chama minha atenção, diminuo a velocidade do carro — Aquele alí é o Nathan?
     — Onde? — ela segue meu olhar e se inclina para ver — É sim...
     Ele estava brincando. Mas há algo errado na cena, de repente sinto o mesmo que senti quando estava assistindo as filmagens. Paro o carro e coloco a mão na maçaneta. Olho pra cena e me concentro, procurando o erro.
      — Que fofinho ele... — Luise se derrete com os risos.
     Ele parece correr pela grama, não vejo a mãe dele por perto. Ele está correndo e olha para trás, ele está brincando sozinho, correndo de algo que não estamos vendo. Mas ele parece estar vendo. Sem pensar muito eu saio do carro e vou em direção ao Nathan. Um carro quase me atropela, dou um passo para trás na hora exata e evito um acidente. Ouço o grito da Luise e o motorista para o carro e começa a xingar.  Apenas ignoro tudo isso e continuo andando.
     — Ian! — Luise grita de novo.
     Nathan se esconde atrás de uma árvore e posso ouvir sua gargalhada.
     — Nathan! — chamo ele quase sem fôlego.
     Ele não parece me ouvir a princípio, então me aproximo mais e chamo de novo. Toco seu braço e ele olha pra mim com os olhos semi fechados.
      — White? — ele agora olha pra mim, ele olha em volta parece estar procurando algo, mas então balança a cabeça e olha pra mim de novo.
     — Está se divertindo?
     — Catê!
     Luise chega perto de nós, ela está pálida como papel.
     — Oi! Como você está?
     — Muito bem!
     — Olá! — a mãe dele chega perto — Está tudo bem?
     — Sim, só estávamos de volta ao hospital, então a gente viu o Nathan e viemos dar um oi.
     — Ah, muito bem.
     — Daqui a pouco nós temos que fazer exercícios hein? — brinco com o cabelo dele.
     — Vou chegar cedinho!
     — Isso aí! — Luise arruma o cabelo dele.
     — Temos que voltar agora. — digo — Tchau pra vocês.
     — Tchau senhora Ocher, Nathan. — Luise sorri, mas sei que por dentro ela está me espancando.
     — Tchau, tenham uma ótima tarde.
    
     — O QUE DEU EM VOCÊ???
     Assim que entramos no carro e fechamos a porta, Luise esbraveja comigo. Sei que ela tá assustada agora, sai correndo feito um louco e quase fui atropelado.
     — Te explico em casa.
     — Não! Preciso de explicação agora!
      Respiro fundo. Aqui não é o lugar mais seguro para falar da missão. Mas não posso mesmo deixar ela sem uns explicação agora.
     — Não posso falar disso aqui. Mas acho que descobri algo importante.
    Suas sobrancelhas estão unidas, o que significa que ela está furiosa.
     — Você quase foi atropelado!!
     — Eu sei. Não foi proposital. Eu esqueci de olhar os dois lados antes de atravessar a rua.
    Ela suspira exasperada.
    — Não foi por querer.
    — Você me deu um susto enorme!
    — Eu sei, me desculpa.
    — Quase me matou do coração!!
    — E eu sinto muito por isso.
    — Nunca mais faça isso!
    — Pode deixar.

Muito bom, amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora