Um desejo e uma carruagem

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[Edward]

O sorriso de Sophie durante o espetáculo da ópera me fazia querer repetir aquela noite todos os dias. Era encantador vê-la radiante, feliz, sorrindo, sem os vincos de algum tipo de preocupação e remorso que frequentemente lhe maculavam a pele do rosto.

Eu olhei de soslaio para a dama que nos acompanhava, lady Amelia, que tinha as mãos entrelaçadas em cima do colo. Parecia estar atenta à apresentação, mas definitivamente não transmitia a mesma euforia de Sophie.

O último ato da ópera se aproximava e eu não precisei verificar as horas no relógio de bolso para que William batesse à nossa porta como havíamos planejado.

– Perdoem-me interrompê-los. – Ele primeiramente espiou para dentro, entrando com rapidez em nosso camarote. – Precisaremos sair antes do final do espetáculo.

As duas damas olharam para trás, cada qual com uma expressão distinta no rosto, ambas, porém surpresas pela notícia.

A face de lady Amelia corou quando seus olhos azuis miraram a figura de meu irmão. Sophie, por outro lado, olhou-me de soslaio antes de indagar:

– Por qual motivo deveríamos sair tão cedo? O último ato ainda nem começou.

– Os amigos de seu irmão, lordes Hugh MacPherson e George Avoy acabaram de sair de seus camarotes e creio que teremos alguns minutos antes que retornem a seus assentos. – William informou.

– Não estou compreendendo, milorde. – Sophie franziu as sobrancelhas.

– Creio que eu tenha entendido a preocupação de meu irmão. – Tomei a palavra. – Ele deseja evitar que encontremos os cavalheiros na saída do espetáculo. Quer nos poupar de qualquer tipo de situação embaraçosa em um possível encontro.

– Mas não haveria razão...

– Eu não contaria com isso, milady. Seu irmão não nos acompanhou como previsto e como mesmo deixou claro, encontraria um modo de saber de nós. E eu particularmente acredito que tenha tido tempo de enviar algum recado para os dois homens para que pudessem nos vigiar, quem sabe até nos seguir até sua casa. – Falei em tom persuasivo.

Os lábios de Sophie se abriram, a expressão dela um tanto contrariada. Julguei que iria replicar minhas palavras, mas ela se deteve. No fim, tinha consciência de que o irmão seria capaz de ter pedido que os amigos fizessem qualquer uma das duas coisas.

Lady Amelia desviou o olhar de meu irmão para encarar Sophie antes de se pronunciar:

– Se sairmos agora, perderíamos o ato final. E suponho que lady Sophie gostaria de assistir ao espetáculo integralmente.

Os olhos de Sophie encontraram os meus.

– Estou certo de que seu desejo seria ficar, mas também acredito que ela já conheça o final da história. – Argumentei.

Sophie fez que sim com a cabeça.

– Mas milady não conhece o desfecho de Macbeth, estou certo? – William perguntou a lady Amelia, que piscou os olhos de um jeito ansioso, o rosado da pele voltando.

– Não. Mas... Se lady Sophie concordar, não me importo de não assisti-lo. – Ela pareceu mais dizer por obrigação que por vontade própria.

– Posso lhe oferecer um empréstimo da obra da biblioteca de nosso pai, acaso tenha curiosidade de conhecer o destino dos personagens. – William lhe ofereceu um sorriso gentil.

Lady Amelia abriu o leque de seda e se abanou vigorosamente, ao responder:

– Creio que posso pedir um exemplar emprestado a lorde Clifton.

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