– O que pretende fazer hoje? – William me perguntou assim que se esparramou no pequeno sofá de meu quarto.
Eu terminava de me vestir, dando o laço na gravata. Havia dispensado a ajuda do valete naquela manhã para poder estar a sós com meus próprios pensamentos. Que pairavam apenas em uma pessoa: Sophie. Mas então, William bateu à minha porta para conversarmos depois da noite de ontem.
– Irei fazer uma visita a Sophie, claro.
– Edward, está certo quanto a seus... sentimentos? – Eu me virei para meu irmão, que se aprumou, ficando ereto no móvel. – Acaso não está se precipitando e confundindo algum tipo de euforia por finalmente ter dado vazão a seus instintos de homem?
– Não, William, de maneira alguma. Sophie... ela... me intriga desde que a vi pela primeira vez. Eu lhe confessara na época, não se recorda?
– Sim, eu me lembro. Mas é que não é incomum que fiquemos fascinados por alguma dama depois que a conhecemos tão intimamente.
– Não é algo fugaz como está imaginando.
– Às vezes penso que se você tivesse se envolvido com outras damas veria que reagiria da mesma forma por elas.
Eu franzi o cenho. Não conseguia me imaginar me deixando levar por outras damas. Deitando meu corpo por cima do corpo de outra mulher, meus dedos se afundando em outro cerne úmido, minha boca tomando outros seios.
– É diferente, William.
– Como poderia ser se ela é sua primeira... conquista?
Estalei a língua, começando a desgostar do tom de descrença dele.
– Pensei que ao aceitar me ajudar em todas estas coisas que fizemos estes dias, estava ciente de minhas intenções.
– E eu estava. – Eu vi sinceridade em seus olhos. – Porém, imaginava que fosse um anseio que naturalmente nos embriaga certas vezes. Não que você começasse a pensar em lhe propor casamento.
– Eu dei a entender à sociedade que estava a cortejando, seria uma evolução natural, não acha?
– Certamente. E sei que não seria um canalha de voltar atrás em sua decisão, mas ainda assim... Está longe da idade em que usualmente os cavalheiros se casam.
– Nosso pai também se casou cedo demais aos olhos da sociedade. Talvez estejamos todos condenados a viver um amor que nos arrebate antes dos trinta anos.
– Bem... – William esfregou a nuca, parecendo incomodado.
– Nunca se apaixonou por alguém?
Meu irmão meneou a cabeça, reflexivo.
– Creio que não. Já tive muita estima por uma ou outra dama, mas não ao ponto de me ver rendido por ela, ainda que tenha pensado estar apaixonado pela primeira mulher com quem me deitei.
– Só porque eu não me deitei com mais de uma dama não significa que eu esteja iludido. – Fiz cara feia.
– Eu não quis ofendê-lo, irmão.
– Não acredito que eu tenha que estar com mil e uma damas para saber quando encontrei a mulher certa.
Os lábios de William se fecharam em uma linha fina, discordando silenciosamente. Porém, ele era pacífico demais para querer entrar em um debate.
– Um dia também viverá a mesma sensação da qual estou sentindo. – Falei.
– Para ser honesto, nunca pensei no amor como uma grande pretensão em minha vida.
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Flor de East End
RomanceA noite pareceu promissora para o jovem Edward Walker: ele decidira descobrir os prazeres carnais que até então lhe eram desconhecidos aceitando o convite a uma incursão a Whitechapel, a área de Londres mais decadente e contrastante com sua vida de...