04- Lily

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Quando minha mãe disse que chegaríamos rapidinho no lago para o tal piquenique eu não acreditara, mas fora menos de duas horas de viagem até chegarmos. O lugar era fantástico, lembrava muito mesmo Salt Lake e dava vontade de correr. Como se eu tivesse um velho Parker fixo em algum lugar me esperando após a corrida, mesmo sabendo que era só um passeio, eu me sentia em casa.

John tinha uma toalha xadrez vermelha guardada no carro, então ele nos forneceu assento. Nosso piquenique não era composto de frutas nem bolos, nem nada do tipo; eram comidas industrializadas, como salgadinhos e bolo inglês enlatados. Isso não me dava a menor vontade de comer, não parecia um verdadeiro piquenique. O quê me fazia rir, a sorte era que Markus parecia estar entendendo o motivo da risada e ri também, causando olhares estranhos dos adultos, que estavam bem contentes com punhados de salgadinhos.

- Mãe, acho que vou correr agora.- Disse após comer um mínimo pedaço de bolo inglês enlatado, só para não fazer desfeita.

- Tome cuidado para não cair no lago.- Disse ela.

- Não sou mais...

- Eu sei... Não é mais criança mas ainda é minha filha. Markus, não quer correr também?

- Na verdade, senhora McLary, eu nunca gostei muito de exercícios.

- Não se preocupe, Lily irá pegar leve com você. Não irá? E deixe de lado essa bobagem de me chamar de senhora. Mary é o suficiente.- Minha mãe e sua mania jovial.

- Não.- Respondi rindo.- Mas se quiser tentar me acompanhar... Fique à vontade.

- Então, se é assim... Tentarei.

Ele se levantou e alongou um pouco as longas pernas pálidas reveladas pela bermuda brega, não pude deixar de soltar uma gargalhada.

- Não ria das minhas panturrilhas.

- Não são as panturrilhas.

- É o quê?- Perguntou fazendo cara de bravo.

- A perna toda.

Gargalhei alto junto com minha mãe e John, Markus também segurava o riso, mas tentava fingir que não havia gostado da brincadeira. Comecei a correr devagar, para deixar que ele se acostumasse.

Mas depois de duas voltas no lago enorme, ele já estava vermelho, suado e exausto, enquanto eu me preparava para aumentar o ritmo.

- Vamos, lá senhor Markus.- Disse rindo.

- Eu não aguento...

- Aguenta sim, deixa de ser menininha!

- Se eu fosse uma menininha estaria correndo mais do quê estou correndo agora?

- Certamente. Quer dizer que você é ainda menos que uma menininha... é Markus.

- Bobinha.

No fim, ele agüentou mais duas voltas, enquanto eu continuei a correr sem nem sentir falta do barulho irritante dele arfando.

O resto do piquenique passou bem rápido, entre conversas dos adultos e apenas olhares meus para todos os cantos menos para o retardado à minha frente, enquanto ele me lançava olhares indiscretos e desconfortáveis, confesso.

...

Atirei- me como uma alienada na cama e adormeci sendo miserável e me segurando para não chutar a droga da janela do velho Parker porque Ella era pequena demais.

Havíamos saído da área rural de Denver, agora havia mais cidades e prédios que árvores. A parada para almoço seria em um dos Mc Donald, pena que eu não me sentia nada faminta devido ao piquenique algumas horas antes, havia comido pouco mas já era de bom tamanho para minha altura gigantesca e meu corpo desprovido de músculos e gorduras. Mas eu tinha que dar um jeito de me entupir com Hamburgers; nunca se sabe quanto tempo ainda iria demorar para passarmos por outro Mc Donald.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora