23- Lily

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- Minha vez de te levar em um lugar.- Eu disse, assim que saímos da loja de suéteres, vestindo- os pro baixo da capa de chuva e dos guarda- chuvas. Tudo estava absolutamente normal entre nós. Pudera, havia sido apenas um beijo na testa. Mesmo que tivesse me feito sentir arrepios e derretido meus joelhos que quase despencaram. E de certo despencariam se isso não fosse vida real e se não fosse tão pitoresco e clichê a moça desmaiar nos braços do rapaz.- Aposto que você já conhece, mas tudo bem...

- Certo. Espero que me surpreenda.

- Eu nunca surpreendo.

- Se “nunca” for sinônimo de “sempre”.

E não andamos três quadras até chegarmos no lugar onde eu compraria o presente dele. Obviamente não seria algo tão caro como fora esse suéter, até porque eu não tinha tanto dinheiro comigo, mas seria algo que o faria pensar em mim quando usasse. Até porque eu não o tiraria da cabeça depois desse beijo, e queria que fosse recíproco e ele também não me tirasse.

- Chegamos.- Eu disse, assim que, pela segunda vez no dia, entrávamos por uma porta e eu tirava a capa de chuva e ele colocava os guarda- chuvas no porta guarda- chuvas.- Já conhecia?

- Sim, mas nunca havia entrado aqui.-Ele olhava para os lados, como eu já fizera quando entrar aqui pela primeira vez, tentando absorver tudo da loja ao máximo possível, gravado cada centímetro dela com os olhos.

Era a loja de discos mais fantástico que eu já vira viajando por todo os Estados Unidos. New Orleans a tinha e eu ficara absolutamente apaixonada quando entrara aqui algumas semanas atrás. As paredes eram todas coloridas e nelas haviam pôsters emoldurados dos mais antigos aos mais novos álbuns de todas as bandas de rock de mais sucesso, em um canto da loja, haviam réplicas impressas desses pôsters a venda. Junto aos CDs dos cantores e bandas, haviam biografias dos artistas, caso um fã obcecado entrasse ali, já encontraria tudo que quisesse em um só lugar.

Ao lado de poltronas pretas, haviam tocadores de CDs e discos com fones enormes azuis claros. A pessoa poderia ouvir sua escolha e decidir se realmente era aquilo que ela queria.

Não haviam atendentes ajudantes, a pessoa entrava, perambulava pela loja o quanto quisesse, escolhia o CD que queria e se dirigia ao balcão, onde uma moça toda tatuada, com metade da cabeça raspada e maquiagem extremamente escura, a garota, porém, belíssima, o atendia. A moça sempre fora uma espécie de inspiração para mim, era perfeita e sabia tudo sobre tudo. Antes das meninas da escola e até do Lucas, ela fora a primeira pessoa simpática que fizera amizade comigo. Simplesmente porque somos parecidas.

- Eu posso escolher o meu presente?- Ele perguntou, investigando uma prateleira repleta de CDs do Queen.

- Claro que não! Você escolheu o meu, portanto, eu escolho o seu. Não foi você que disse que era a regra do Natal?

- Também era regra do Natal beijar na boca a pessoa que parou debaixo do visco com você, quero que saiba.

- Que se ferre.

- Uh, certo.- E nós rimos.

- Você pode escolher um e ouvi- lo enquanto eu escolho seu presente.- Eu disse.

E ele foi, pegou aquele CD do Queen e se sentou em uma das poltronas pretas, colocando os fones azuis na cabeça. Era incrível como aquele tom de azul contrastava com o ruivo dos cabelos dele, era incrível como a pele pálida dele contrastava com tudo e como as lábios dele – que já haviam tocado minha testa! Ah, meu Deus! – era absurdamente pequenos. E quando ele olhou para mim, sorriu e abanou, foi que eu percebi que estava parada no meio da loja o olhando igual uma demente. E aí eu resolvi me mexer.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora