07- Lily

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Estranho mesmo foi que, ao chegarmos em New Orleans, minha mãe não procurou um descampado para estacionar nosso trailer, e sim o apartamento na área urbana, pagou com um cheque e na mesma hora, pudemos nos instalar em nossa nova casa, ou oque você entender por "dar um jeito de tirar as camas do trailer, o sofá, a TV, os armários e a micro- geladeira". Depois, ao entrar nos quartos, com a ajuda de John e Markus, que estavam instalando nossas camas – não foi nada legal ter aquele idiota no meu quarto novo, mas ao menos ele arrumou minha cama - descobrimos que o apartamento era mobiliado com armários e que o banheiro também era completo.

Havia uma lavanderia no térreo e você só precisava depositar suas roupas na máquina e voltar duas horas depois para pegá- las na secadora, haviam funcionários e, bem, você só pagava trinta dólares mensais, oque era quase nada contando o fato de que minha pensão (sim, pais separados é mais legal do que parece) era mais que suficiente para pagar dez anos da lavanderia. Então levei nossa roupa suja e a depositei na máquina enquanto minha mãe estacionava o trailer na maior vaga do estacionamento, que era destinada para carga e descarga de qualquer coisa, tanto faz.

Quando questionei minha mãe sobre limpar ou não limpar o trailer ela disse que não pois talvez não o usássemos mais. Fiquei boquiaberta com essa revelação, mas decidi deixar para conversar aquilo com ela mais tarde.

A segunda coisa mais estranha foi que, logo depois de termos arrumado oque podíamos no apartamento, minha mãe me levou à uma escola e me matriculou nela. Isso mesmo que você leu; agora eu freqüento a escola. É meu pior pesadelo. Provas, deveres, pessoas, professores, regras... É muita tortura para uma só pessoa.

Minha mãe me deu trezentos dólares e a lista de materiais escolares, que havia ido buscar na escola e me mandou, sozinha numa cidade desconhecida comprar minhas próprias coisas, ás vezes eu queria que minha mãe fosse tão normal quanto as outras e me proibisse de sair em lugares desconhecidos.

No fim, levei meu celular, acessei o Google Maps e encontrei o shopping mais próximo, foi bem fácil, na verdade. E se minha mãe pensava que eu fosse comprar tudo que estava na lista, ela se enganou; gastei quase todo o dinheiro em coisas que estavam no topo da minha lista havia algum tempo, como por exemplo, livros.

E aí voltei para casa, me apertando num maldito ônibus com sacolas de duas toneladas cada, mas finalmente cheguei em casa, e inteira!

...

Mal havia chegado, Mary já fizera minha infelicidade me mandando buscar as roupas na lavanderia. Consegui apenas trocar minhas roupas por algumas caseiras e virar o mendigo residencial de sempre antes de ter que ver pessoas, de novo.

Entrei no elevador, com medo de acontecer a mesma coisa do banheiro público de hoje de manhã, mas pelo visto aquilo não acontecia sempre, ainda bem, tudo correu como sempre ocorria nos elevadores; as portas abriram e eu saí para o térreo, invicta, com os pulmões clamando por ar ar. Okay, essa última parte não acontecia sempre, mas acho que aconteceria de agora em diante.

Andei até uma porta bem retirada do saguão que dizia "LAVANDERIA", entrei e procurei pela atendente.

- Posso ajudar, mocinha?- Ela falou ensaiada demais, gostaria de poder contrariá- la e dizer que de mocinha eu já não tinha mais nada, mas sufoquei as palavras e sorri tão fingidamente quanto ela. Em seu crachá dizia "Jessie pode ajudar?", seu cabelo era preto e caía pelos ombros, emoldurando seu rosto de menina com os olhos azuis e a boca enorme e avermelhada que provavelmente me causaria inveja se eu já não estivesse conformada com a minha própria.

- Pode sim.- Tateei nos bolsos da calça jeans - pelo menos havia colocado lá antes de sair, alguém viu um ladrão invisível enfiando a mão no meu bolso e roubando meu papel? Eu sei que essa pergunta não faz sentido. - o papel com o número que correspondia à maquina em que estavam minhas roupas, o entreguei, parcialmente amassado, à ela, que continuou sorrindo e tirou de uma secadora meu lote gigante de roupas limpas e secas, acenei com a cabeça algo que poderia significar um "obrigado" se não parecesse mais um "estou acenando afirmativamente com a cabeça não sei para quê". E finalmente voltei para minha casa. Ah, e fui pelo elevador, que funcionou perfeitamente bem, de novo!

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora