12- Lily

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- Vendeu?

- Não.

- E por que demorou tanto?

- Porque arranjei um emprego. Não podemos mais viver apenas da pensão do seu pai. Principalmente se agora a Funerária não estiver em seus melhores dias. Precisaremos ter outra fonte de renda, Lily.

- Se estivéssemos viajando e morando no Velho Parker não precisaríamos.

- Mas não estamos. E eu não te entendo.

- Você nunca entende. Esse é o ponto alfa que ainda me faz suportar esse mundo.

- Okay, Lily Melody. Não vou discutir com vossa pessoa. Estou cansada demais.

- Onde está trabalhando?

Ela desfez o coque que prendia seus cabelos perfeitos e largou as  chaves sobre a mesa da TV. Usava uma saia até os joelhos, das cores da bandeira e uma blusa branca escrito “Mary McLary pode ajudá- lo?”, sério que o uniforme vinha no primeiro dia ou será que ela já estivera arranjando esse emprego pelas minhas costas havia algum tempo?

- Em uma doçaria.

- Por isso cheira à balas de café?

- Acho que sim.

Apenas assenti discretamente e voltei à leitura. eram poemas interessantes demais para serem abandonados por tão pouco. E quanto à escrever a aventura? Não era uma boa hora. O livro não me dava poder para absolutamente tudo, já sabemos disso e abandonei o papel e a caneta dentro da caixa com o restante das aventuras. Só havia escrito duas palavras antes de perceber que minha cabeça estava mais repleta que parque de diversões em férias de verão e desistir; “New Orleans.” e esse era o título. E aí eu voltei para a leitura na sala e fiquei feliz ao perceber que Lucas tinha bom gosto.

- De onde arranjou esse livro?

- Biblioteca da escola. Livro obrigatório.- Resolvi mentir já que se dissesse “um amigo me deu porque disse que era bom e porque pensou que tinha péssimo gosto poético” seria o mesmo que dizer “arranjei um namorado no segundo dia de aula e ele me deu um presente! Quero que me pergunte coisas!” na cabeça da minha mãe e eu não queria falar sobre Lucas porque ele ainda parecia vazio ao meu conceito porque não falava quase nada.

- Hum.- Ela deu de ombros, suspirou e foi ao banheiro, provavelmente tomar banho.

E eu terminei o livro enquanto ela tomava banho.

Terminei apenas para poder conversar com Lucas amanhã porque certamente eu o leria várias e várias vezes até não conseguir suportar olhar a capa do livro, e sabia que isso demoraria para acontecer o suficiente para que eu decorasse os poemas até o limite possível de decoração. Terminei o livro apenas para perceber que Lucas era tão vazio que me dava vontade de falar mais com ele, ou seja, ele não era vazio. Era repleto de sentimentos. Apenas era inteligente o bastante para reprimir- se em seu casulo de palavras e montar um mundo com castelos de livros e damas de papel para que fossem suas amigas íntimas ou uma futura namorada que quisesse ter e para poder ser feliz sem ser julgado, porque ele seria senhor de seu próprio reino e nariz, como parecia ser, já que não se importava em doar seus pertences para recém conhecidos.

E eu comecei a me admirar com a pessoa escondida atrás daquela camiseta simples da Iron Maiden que ele usava por cima do uniforme simplesmente porque não se importava, mais ou menos como eu, a diferença é que eu nem usava o uniforme. Porque eu realmente, realmente não me importava.

E assim tomei minha primeira decisão pela cabeça do Lucas; eu seria correta; me retrairia até o mínimo. Encontraria formas de observá- lo durante as aulas que tivéssemos juntos e fazer praticamente o mesmo que ele. Eu seria uma versão feminina do meu  mais novo amigo, oque significava que agora usaria o uniforme debaixo de camisetas de bandas porque eu não me importava um pouco menos do que não me importo agora, construiria meu mundo em meu casulo de palavras, construiria meu castelo do mesmo livro, centenas de cópias do livro e criaria cavalheiros de papel para mim. Cavalheiros de papel mais parecidos com o Lucas e menos parecidos com o Markus.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora