Nem bem haviam secado as lágrimas me dirigi à sala do diretor. É claro que eu precisava de um plano, e é claro que eu não tinha, mas estava confiante de que algo surgisse à minha mente durante o caminho.
Eu tinha de dar um jeito de o diretor me mostrar as imagens das câmeras de segurança do ginásio sem mencionar que era algo tão pessoal, algo que ele chamaria de um “problema fútil” de romance adolescente. Meu namoro com Markus era tudo, menos fútil. Era a única coisa da qual eu tinha certeza. Ou tive, pelo menos.
É claro que só ver as imagens do ginásio não bastariam para saber quem havia mandado mensagens do celular do Markus para o meu, mas já era um começo. Se depois eu conseguisse falar com Markus direito e saber onde ele estivera antes do vestiário, seria fácil tirar o diretor da sala e olhar as imagens das câmeras por mim mesma, sem ter que inventar uma mentira pela segunda vez.
Resolvi que diria que meu celular havia sido roubado da minha mochila no ginásio e queria ver quem havia sido.
Certo. Agora era só não vacilar no meio da fala.
Bati na porta e ouvi um “entre” abafado lá de dentro. Hora do show, pela segunda vez no dia.
- Com licença. – Eu disse e percebi que minha voz ainda parecia chorosa. Eu devia parecer desesperada e ele pensaria que era por causa do celular. Que espécie de imagem de adolescente tecnologicamente viciada eu não passaria? – Diretor, eu tenho um problema.
Vários, na verdade.
- Qual o problema? Você está bem? Estava chorando?
- Sim. O caso é que meu celular desapareceu da minha mochila enquanto eu estava no ginásio e eu queria saber se o senhor poderia olhar as imagens das câmeras... Pode?
- Sumiu? Tem certeza que não deixou em outro lugar? É complicado encontrar imagens específicas, mesmo que sejam de pouco tempo atrás...
- Eu tenho certeza que estava na minha mochila. Minha vida inteira está naquele celular e eu preciso dele de volta. Por favor...
Ele suspirou e assentiu, inclinando- se atenciosamente para o computador.
- Venha até aqui.
Eu me posicionei ao lado dele, que demorou alguns bons dez minutos para encontrar as imagens do instante exato.
Localizei a minha mochila e Lucas falando com Sue, vi a hora que Victória me chamou e eu fui colocar o energético na garrafa dele e assim que eu levantei e cheguei lá, uma garota veio do outro lado do ginásio correndo e abriu minha mochila.
Enquanto eu enchia a garrafa do Lucas (coisa que eu espero que o diretor não perceba), a menina mexia no meu celular, teclando rápido. Com certeza estava mandando uma mensagem. Cheguei mais perto da tela do computador e cobri toda a visão do diretor da cena, que devia estar amando minha bunda do lado da cara dele.
A menina. Eu conhecia.
Óbvio que eu conhecia.
Era Emily.
Emily que sempre tivera uma queda por Lucas. Emily que era uma das minhas melhores amigas.
- E aí? Viu alguma coisa?
- Vi, sim. Vi tudo. Muito obrigada. Diretor, mais um favor enorme... O senhor pode mandar essa gravação em especial para minha mãe para ela resolve esse problema?
- Mando. Se vocês não meterem a polícia nisso, é claro. É um problema simples que pode ser resolvido uma vez que você sabe quem...
- Sim, sim, claro. Manda agora, por favor.
Assisti enquanto ele enviava um email à minha mãe, só para ter certeza que mandaria mesmo.
Perfeito.
Agora só tentar falar com Markus.
...
Corri até em casa e imediatamente abri o email da minha mãe no computador dela.
O vídeo estava lá, passei para meu celular e enviei à Victória, contando tudo que havia acontecido. Ela me ligou no mesmo instante.
- Eu não acredito” Que vadia desgraçada!
- Eu sei. Mas não deve ser totalmente culpa dela. Lucas sabe ser muito persuasivo quando quer. Ainda mais se você gostar dele. Se você quiser conversar com ela, faça isso.
- Vou dar um tapa na cara dela e só depois conversar. Mas e aí? Como você vai fazer para olhar as imagens do celular do Markus sendo usado?
- Você vai me ajudar. Tipo, agora.
- Como assim?
- Eu vou falar com ele, nem que eu tenha que entrar pela janela do quarto dele e perguntar onde ele estava antes de ver aquela cena no vestiário e aí nós vamos voltar naquela escola e você vai distrair o diretor enquanto eu pego as imagens.
- Ai, meu Deus... Tá... Pelo bem de vocês.
- Isso. Preciso salvar meu namoro.
E desliguei. Precisava de Markus. Quer dizer, falar com ele... E ficar com ele... E beijar ele e dizer o quanto o amava e pedir pra ele esquecer todo o resto.
Pensei em mandar uma mensagem, mas ele havia me bloqueado em todas as redes sociais, inclusive minha mãe também, todos os números quando eu tentei ligar. Então eu levantei do sofá e fui até a casa dele.
Bati na porta e ninguém atendeu. Então eu bati de novo e de novo e de novo e ninguém atendeu mesmo assim.
- Vai embora, Lily.
- Não. Preciso perguntar uma coisa, não vim pedir desculpa nem nada porque eu não fiz coisa alguma.
Ele respondia do outro lado da porta e estava me matando não poder olhar em seus olhos e beijá- lo.
- O que você quer?
- Onde você estava antes de ir para o vestiário e...
- Ver você beijando meu pior inimigo e o cara que podia ter arruinado a sua vida?
- Eu já expliquei que foi à força e vou provar que foi um plano dele.
- Essa eu duvido.
- Onde você estava, Markus?
- Na biblioteca. Agora sai da minha porta.
Aquilo teria me feito chorar se eu não estivesse tão motivada. Mandei uma mensagem imediatamente para Victória me encontrar na escola.
O caminho foi rápido, já que eu fui correndo de novo e sequer cansei porque agora seria fácil.
Victória já estava lá e já tinha uma ideia de desculpa para distrair o diretor em mente, graças a Deus.
Ela bateu na porta dele e praticamente gritou que alguém precisava de ajuda no pátio. Ele saiu às pressas da sala e correu atrás dela. Imediatamente eu entrei na sala e comecei a vasculhar o computador.
Realmente era difícil encontrar as coisas lá, ainda mais se você não sabia como fazer isso.
Quando encontrei as gravações do dia, já estava ouvindo a voz do diretor e Victoria desesperada no corredor, voltando para cá. Sabia que ela seguraria ele, mas paralisei. Depois ouvi as vozes se distanciando de novo e voltei ao trabalho.
Enviei de novo as imagens pro email da minha mãe e resolvi assistir em casa, é claro.
Saí de lá e voltei para casa, sem nem me despedir nem agradecer Victória, que ainda deveria estar no sufoco lá. Depois eu agradeceria.
Abri as imagens no computador de casa e vi que quem havia mexido no celular de Markus era o próprio Lucas enquanto Sue distraia Markus perguntando sobre algum livro aleatório. Como se ela soubesse ler.
Salvei tudo no meu celular e fui até a casa dele de novo. Dessa vez não bati, a orta estava destrancada e eu entrei rápido.
Markus estava deitado no sofá, olhando para o teto, uma foto nossa aberta na galeria do celular dele. Quando me viu apagou a tela.
- Você de novo?
- Eu tenho as provas e, me desculpa mas, você vai ter que me ouvir.
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Se As Estrelas Contassem Histórias
Teen FictionVocê já imaginou se morasse em um trailer? Se você e sua mãe viajassem o país inteiro sem nenhum propósito e de repente ela decretasse um destino certo sem mais nem menos e vocês tivessem de atravessar o país para chegar lá? Agora imagine que o trai...