21- markus - Parte II

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Todos estamos sentados na sala; eu, Izzy, Susy, Lily, Jason, Julian, Michael e Victor. É a terceira vez que flagro o olhar de raiva de Victor sobre mim. Eu não sei oque está acontecendo entre nós, só sei que não é nada bom. Peach (esse é o nome do ser escuro sobre o colo de Lily) está ganindo porque Izzy ligou no Animal Planet e está passando um programa sobre Gatos Endiabrados (“Meu Gato Endiabrado”) e Peach já desenvolveu uma certa rivalidade com alguns gatos da senhora do 807 que deslizam sorrateiramente pelos corredores do prédio, longe dos olhares atentos do síndico. Aquela mulher deve ter uma espécie de linguagem secreta com a qual consegue dizer coisas aos gatos e fazê- los passarem despercebidos pelo síndico e nunca serem descobertos. Meu pai, que costuma ter de parar para falar com ela na volta do trabalho – a senhora sempre tem uma novidade ou fofoca nova sobre os vizinhos e adora dividi- las com o cara bonitão do andar de cima – e descobriu que a senhora já vive há oito anos no edifício e nenhum gato dela nunca foi descoberto, a não ser pelos vizinhos, que sabem muito bem guardar segredos, pelo que parece. Já que se não guardarem, a velha espalha boatos maldosos deles por New Orleans inteira. Quanta coisa útil não se aprende em algumas semanas por aqui; nunca denuncie os gatos da Madame Willians.

- Estou depressivo, pessoal.

- Não começa, Victor. Se suas palavras não forem melhor que o silêncio, cale- se.- Susy diz. Ela parece estar em uma sincronia perfeita com o celular 24 horas por dia.

- Ui, bruta. Desse jeito você aumenta a depressão dele... Nos conte, por que toda essa depressão?- E entrelaçou o braço no de Victor (aquelas coisas que os garotos fazem quando fingem que há algo mais do quê amizade entre eles) ao que Isabelle entortou a boca para Lily, que riu baixinho.

- Pensei que Lily fosse me beijar. Mas, nada... Ela só quer fingir que não existe nada entre nós...- Ele sorriu, e piscou para todos que o olhavam. Lily não olhava, ela revirava os olhos e sorria. Eu trincava o maxilar e focava o olhar na clavícula magra do volume negro que ainda grunhia no colo dela.

- Ai, é verdade, sinto muito... Nunca assumi de verdade que sou louca por ele...- Lily me fez olhar para ela. Sério, eu pensei ser verdade até ela piscar para todos nós e olhar significativamente para mim. Ou talvez eu que tenha imaginado que tinha algo de significativo naquele olhar dela. É que era tão claro, parecia me tirar da escuridão e me colocar diretamente sobre um sol irradiando força, calor, fé e esperança de tudo dar certo. Era simplesmente o olhar de Lily Melody, que, literalmente, parecia carregar uma melodia, ao contrário do olhar repleto de malícia de Jessie, que parecia ser mais como uma âncora pesada caindo sobre o meu olhar; me atirava na escuridão, na calamidade mais pecaminosa do meu ser. Não era assim, era diferente. Lily era Lily, Jessie era Jessie. Forças totalmente opostas; como matéria e antimatéria. Só que elas não se aniquilariam caso se tocassem, porque Lily tinha classe e nunca tocaria em um fio de cabelo de Jessie. Mesmo que houvessem motivos – como, por exemplo, Lily me amar e aí Jessie chegar lá e me beijar na frente dela assim que ela se declarar para mim, eu sei, um pensamento tanto quanto absurdo e impossível.

- Eu sabia! Vem cá, vem ser feliz do meu lado!- Victor estendeu os braços, colocando eles, acidentalmente ou não, entre o olhar de Susy para a tela do celular, ela pestanejou e mordeu o pulso dele, que gemeu e removeu o braço. Lily largou Peach no chão, que correu para o meu colo – eu me orgulho disso, o cachorro dela gosta de mim, o cachorro dela gosta de mim! – e se jogou no abraço de Victor. Não fiquei nada feliz, apenas trinquei ainda mais o maxilar e me concentrei em acariciar Peach com vigor. Ele parecia estar gostando. Na verdade, não sei como se apegara a mim, acho que fui eu o único que levou a sério dar banho no pobre coitado algumas horas antes.

Chegamos no apartamento e Susy disse “Ei, vamos dar banho no Peach na banheira?!”, todos amaram a ideia e eu imaginava que, realmente, aconteceria uma banho canino naquele banheiro, mas oque aconteceu foi bem o contrário; um banho humano coletivo. Isabelle conseguiu se atirar encima do cachorro na banheira, Jason logo encima dela, aí os dois começaram a se bater lá dentro e eu tive que remover o bicho. Quando os dois resolveram sair, eu coloquei ele lá dentro. Como tinha bastante espuma, nenhum dos jovens atacados conseguiu viver em paz com ela começaram a se atirar uma quantidade considerável de espuma um no outro, e eu estava muito feliz sequinho dando banho no cachorro quando este resolveu dar um ataque e começou a pular na água, querendo morder a espuma que voava solta pelo lugar, resultado; água encardida de cachorro fedido voou em mim. Mas eu não desisti do cachorro descontrolado, controlei ele e terminei o banho. Quando o enrolei na toalha disponível no banheiro – que deveria  ser de Mary, desculpa, Mary – e saí do banheiro, eles ainda se jogavam espuma. Depois de alguns minutos, que eu utilizei muito bem secando o pelo curtinho do cachorro com um secador que Mary me emprestou e o penteando com um condicionador muito bom, também de Mary, para o deixar cheiroso para Lily, todos saíram do banheiro e foram trocar de roupa; os meninos no quarto de Mary, que ficou comigo se familiarizando com o novo membro da família, e as meninas no quarto de Lily, óbvio, ela junto.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora