Choveu na noite de sábado, e em minha casa o clima estava chuvoso. Entenda isso como quiser, porque é uma metáfora e metáforas são confusas o tempo todo.
Lily está deitada na minha cama. Não sei direito como isso foi acontecer...
Há alguns minutos atrás eu não conseguia dormir. Não entendia o porquê de uma insônia ter me afetado bem no dia em que estava realmente cansado, porque estava realmente cansado. O caso é que 50% dos motivos da insônia afetar as pessoas é a mente agitada. Se minha mente estava agitada? Não diria agitada, diria que ela estava ocupada. Lotada, melhor dizendo. Um nome composto vagava pela minha mente, fazia acrobacias nos meus pensamentos e bagunçava tudo. Esse nome não tem o direito de fazer isso. Ela não saía da minha mente, ela era Lily Melody McLary. Ela era quem me dava vontade de sair na sacada e ficar debaixo da chuva horas a fio, ela era quem me dava vontade de colocar uma música no último volume para tocar, acordando todos os vizinhos, era ela a garota que me dava vontade de invadir o apartamento dela e dizer, naquele exato instante, à 1 hora da manhã, tudo que sentia. Acho que ela era quem me dava motivos para viver com humor ensolarado nesse apartamento chuvoso. Não me pergunte por que meu pai não havia ido dormir ainda; ele estava com a TV ligada em alguma série chata sobre agronomia e blá, blá, blá, provavelmente ele também tinha vontade de sair para a sacada e ficar horas a fio na chuva apenas porque Mary lhe dava vontade de fazer isso. Ou talvez ele já tinha adormecido no sofá.
Meu celular fez aquele incrível barulho de mensagem que conseguia me arrancar do sono mais profundo e do devaneio mais intenso; era uma mensagem da Jessie. Só pensar em abrir a mensagem me dava ânsias. Não sei em que parte da festa de ontem comecei a sentir plena repugnância até pela sombra da garota, acho que assim que comecei a passar o restante da festa com Lily, ela me lançava olhares repletos de sensualidade o tempo todo que beijava o namorado que – por acaso e por algum milagre que antes consegui agradecer com plena sinceridade – chegara no meio da festa, me fazendo sair de perto dela, e me aproximar de Lily. Obrigada Stuart. Realmente. E não era só quando beijava ele que ela me lançava olhares, que antes eu repugnava acima de tudo, a todo momento ela virava para mim com o rabo dos olhos e eu desviava o olhar, quase sempre revirando os olhos.
Não sei direito, estava tão confuso. Parecia uma garotinha apaixonada. Até ontem à noite, até me aproximar da Lily, eu era perdidamente desejoso por Jessica, a queria mais que tudo. Após ficar perto dela, após me perder em seu olhar, após querer beijá- la mais do quê quero oxigênio, desisti da outra. Acho que, de tanto tentar e lembrar que a amo, de tanto lembrar que quero ser popular, acabei me esquecendo de tudo pra me concentrar só na fragrância do perfume que a garota de nome composto usava; perfume barato. Só sabia de uma coisa sobre o perfume dela, era que, misturado com o cheiro natural da pele, ficava perfeito. O cheiro mais perfeito que alguém já poderia sentir na vida. Era viciante. Era doce. E incrivelmente forte. Quase que inocente demais. Era, definitivamente, o perfume perfeito para ela; ou, pelo menos, conseguia expressar tudo que ela era em apenas um aroma. Cada vez me era mais fácil admirar o perfume. Fosse qual fosse.
Levantei da cama, sem calçar os chinelos e coloquei uma camiseta mais fina, pude ver, no espelho, o quanto eu era desprovido de músculos e o quanto minhas pernas eram estranhas. Ela tinha razão sobre o quanto elas eram ridículas.
- Markus? Ainda não dormiu?- Meu pai disse, assim que passei pela sala. Ele estava sentado no sofá, com o celular sobre a almofada, digitando alguma coisa, usando aqueles óculos em modo de leitura; na ponta do nariz. Vai ver estava falando com Mary. Para ele o Whatsapp era bem útil, já para mim, só causava transtornos e barulhos de mensagem no meio da noite.
- Não. Mas e você?
- Eu vou em alguns instantes... Estou apenas... Fazendo... Algumas pesquisas...
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Se As Estrelas Contassem Histórias
Teen FictionVocê já imaginou se morasse em um trailer? Se você e sua mãe viajassem o país inteiro sem nenhum propósito e de repente ela decretasse um destino certo sem mais nem menos e vocês tivessem de atravessar o país para chegar lá? Agora imagine que o trai...