11- Lily

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Cheguei à escola, finalmente.

Não estava tão suada quanto estava com raiva do Markus. Por que diabos ele tinha que me encher o saco logo no começo da manhã?! Além do mais, acho que a droga da jaqueta voou e ele viu meu ombro. E no meu ombro havia uma droga de uma alça de sutiã preta que se destacava contra minha pele pálida. Só de saber que agora ele sabia de que cor era meu sutiã e que eu usava sutiã, minhas bochechas ruborizaram ainda mais e eu devia estar parecendo a Jolie morena, sabe aquela dos caderninhos que dava propaganda na TV há muito tempo atrás? Essa aí.

As garotas que queria como amigas me notaram pela primeira vez, afinal eu estava vermelha e havia chegado correndo na escola de jaqueta e camisa xadrez, totalmente coberta e não estava suada. Elas sorriram para mim e finalmente me senti parte de New Orleans, sorri de volta sem mostrar os dentes e continuei andando até a porta da escola, onde e deparei com um Markus sentado no chão, tão solitário quanto eu. No dia de ontem ele tivera as mesmas matérias que as minhas nas mesmas drogas de turma, esperava que hoje fosse diferente. Seu olho ainda estava meio roxo, oque me fazia ter uma super vontade de rir, agora estava passando de roxo para preto depois passaria para verde e desapareceria, e nesse dia que desaparecesse não haveria mais nada em Markus que eu gostasse. Fora o sorriso que era meio estranho e me fazia sorrir por dentro. Que raiva eterno desse garoto.

Sentei em frente à porta da sala de aula onde teria literatura e fiquei olhando pela janela. Era um belo amanhecer. As pessoas costumam observar o céu apenas no começo e no fim do dia, mas eu observava durante o dia inteiro, e em nenhum momento ele deixava de ser interessante. Era incrível observar o céu. No momento ele tinha várias cores, vários tons, as nuvens de chuva, cinzas, carregadas de água que flutuavam em direção ao nascente tinham um reflexo rosa, que deixava- as levemente arroxeadas, o sol tinha um tom laranja- amarelado e o céu estava azul e rosa, contrastando perfeitamente com as nuvens que provavelmente resultariam em uma bela tempestade mais tarde. E eu adorava tempestades.

Ouvi uma confusão de vozes ao meu lado. Virei a cabeça e me deparei com aquele grupo de meninas que queria como amigas –precisava de um apelido, não podia usar uma frase tão grande para pensar nelas, afinal, recentemente,pensei muito nas ditas cujas - , elas riam e se empurravam para a minha direção, uma empurrava a outra dizendo "vai você!" e a outra respondia dizendo "não! Vai você, tenho vergonha!", e elas riam ainda mais. Parece que ninguém queria nem chegar perto de mim. Parei de olhar para elas e novamente tentei focar a atenção no céu Mas confesso que aquela confusão da qual eu queria muito poder participar algum dia chamava mais minha atenção que um monte de nuvens dispersas num céu com um sol laranja. Olhei para os ladrilhos do chão, somente para ter algum lugar para olhar enquanto deslocava minha atenção para elas.

Porém nenhuma delas veio falar comigo. Apenas fiquei esperando o sinal tocar ouvindo as vozes se aproximarem cada vez mais e pararem logo à minha frente. Elas já não falavam mais de mim mas mesmo assim senti minhas bochechas corarem e uma vontade irreprimível de perguntar sobre oque falaram de mim. Mas sabia que, se fizesse isso e elas respondessem que estavam falando mal, minha vontade irreprimível seria a de chorar, e se elas dissessem que era algo bom, minha vontade seria dar gargalhadas. E aí passaria de maluca por iniciar uma conversa de maneira tão desajeitada e por começar a rir do nada! Legal, eu não podia fazer nada. Só esperar e esperar elas virem falar comigo algum dia. Talvez elas falassem. Algum dia teriam que falar, não é? Deve ser. Melhor eu esquecer isso e entrar logo na sala antes que ganhe uma advertência por atraso. Que seria bem injusta, por sinal.

O professor não tinha cabelos. Sério. Ele tinha uma bela e lustrosa careca pálida e o pouco cabelo que tinha parecia formar uma boca feliz em sua feliz careca. Mas ele não era nada feliz. Era magro. Magérrimo. Marrento. Mal- cheiroso. Mutante. Medíocre. E seu nome era Michael. Ele cheirava à repolho cozido com sal e vinagre (nunca senti o cheiro disso mas quando ele passa pela minha classe, oque faz com freqüência extrema, eu sinto o seu cheiro e imagino um monte de repolho dentro de uma panela de pressão). Eca. Hoje ele está usando uma blusa branca social com calças jeans surradas. Acho que eu ele usa essa roupa todos os dias. Só acho, não que o cheiro indique algo.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora