29-Lily

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Markus sentado no meio do corredor, olhos fixos no relógio de pulso e paralisado. Quando me viu, ele apenas me encarou e ficou calado, os olhos dele estavam em mim mas eu não consegui encará- lo como gostaria, apenas lançava olhares de canto de olho para ter certeza de que ele continuava me olhando. Continuava. Era como se fossem infinitos os arrepios pela minha barriga.

- Então...!- Eu exclamei, de repente. Engraçado como Vitória e Emily demoravam para subir, não é mesmo?

- Então.- Ele respondeu. Segurou um sorriso e eu ruborizei. Eu o estava fazendo rir! Sou uma besta.

- O quê faz aí, com seu relógio?

- Sabe, Lily.. O relógio é quem está comigo.

- E o quê seu relógio faz aí, com você?- A frase soou estranha e eu franzi as sobrancelhas.

- Espero minha mãe voltar. Ela saiu para comprar incensos e elefantes brancos de porcelana mas ainda não voltou. Pensei que você nunca mais fosse falar comigo.

- Ah... é que... Não é todo dia que se vê alguém sentado no corredor olhando um relógio como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Resolvi perguntar.

- Está esperando alguém?

- Vitória e Emily.

- Elas vem?

- Passar a tarde comigo, vem sim.

O elevador fez barulho e as portas abriram, Emily e Vitória saíram lá de dentro rindo com estardalhaço. Olhei uma última vez para Markus, ele me olhava, em seguida desviou os olhos para o relógio. Seria a última vez que ele me olharia.

- Oi, Lily? Que cara é essa?- Emily perguntou, sorrindo. E então eu percebi que estava com uma cara assustada. Não soube direito o porquê, acho que era o nervosismo de falar com Markus pessoalmente depois de tanto tempo com os olhos dele tão grudados em mim.

- Ahn, nada. Tudo bem?

- Sim. Ah oi Markus! Nem te vi aí! Que passatempo interessante esse seu!- Emily e Vitória riram muito da piada. Um tanto clichê, devo admitir, ri sem mostrar os dentes e ele olhou para a cara delas, sorriu e continuou olhando o relógio. Desde que elas pisaram no corredor, ele não me encarou mais. Essa era a discrição quê eu precisava aprender.- Vamos Lily? Não vejo a hora de te mostrar isso aqui!- Ela deu batidinhas na mochila que carregava e de um gritinho empolgado. Vitória apenas sorriu com desdém.

- Vamos, sim. Adeus, Markus.

- Adeus. Até a madrugada. Leve cobertores, esqueci de escrever.

Ele não me olhou, falou com os olhos fixos no relógio e eu segui as meninas até em casa. Teria de responder a um questionário depois dessa última frase dele, sobre cobertores e madrugada.

- Então...! Vai nos contar ou não?- Vitória pergunta, se jogando em meu sofá e tentando acertar a senha do meu celular. Acertar aquela senha seria o mesmo que acertar o número da loteria. A senha era “gramática”.- Qual é a senha, Melodia?

- A senha não interessa. Contar o quê?

- Hum... “Não interessa” não entra no campo de inserção... Contar tudo sobre madrugada e cobertores. O quê vocês vão fazer? Pequenos Markus?- Essa foi Vitória largando meu celular e roendo uma unha enquanto tira os tênis e os joga sobre o carpete da sala.

- De quê diabos você está falando? Lily conhece os métodos de prevenção, não conhece, Lily?- Emily admira alguns quadros da minha mãe dispostos no canto da sala. Alguns deles ela dará a John no aniversário dele, já que ele finge que adora os quadros...

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora