- Ele só me perguntei o porquê de eu o detestar.- Respondi pela quinta vez o assunto da conversa para minha mãe, que não acreditava nunca que era só isso que havíamos conversado.
- Você o detesta, Lily Melody?- Minha mão disse meu nome gritando com uma voz aguda de estourar os tímpanos. Ergui os pés pra cima do banco da frente, ganhando uma repreenda com o olhar da motorista. Enfiei a milésima jujuba dentro da boca e pense em uma resposta eufemista enquanto fazia careta.
- Sim.
- Por quê? Ele parece ser um cara muito bacana.
- Ah, é, sim.
- Então por que o ódio?
- Porque ele só é bacana quando está de boca fechada.- Ela riu e eu finalmente consegui engolir o maldito bolo de jujuba que tinha entalado em minha garganta.
- Você não o acha nem um pouco bonitinho? Quer dizer, até eu, na minha idade já avançada, o achei bonitinho.
- Ele me enoja, mãe.- Respondi amassando o saco vazio de jujuba. Precisava de mais alguma coisa para manter minha boca fechada, se quisesse cortar o assunto. Quem sabe de boca cheia ela não me fizesse responder – ela detesta quando eu falo de boca cheia.
- Sinal que você está atraída por ele e não quer assumir.- Filosofou a Srta. Mary.
- Possa crer, mãe, se eu sentisse algo que não fosse nojo por ele, eu com certeza assumiria. Nunca escondi nada nem de mim mesma.- Disse enquanto me movia pela parte da cozinha do trailer, pescando no armário uma barra de chocolate branco.
- Lily, tente olhar pra ele como se nunca tivessem aberto a boca para trocar palavras.- Ela sugeriu enquanto esperava um sinal de trânsito abrir, me encarando mordiscando o doce.- Pare de comer tanto, daqui a pouco vai ter uma overdose de açúcar.
- Se morre disso?
- Morre.
- Então eu morreria feliz...
- Não mude de assunto.
- Ah, mãe... Sei lá... Eu nunca sentiria nada por ele.
- Não me refiro à sentimentos. E sim à simplesmente achar bonito. Adolescentes atuais não conseguem mais achar alguém bonito sem amá- lo?
- Conseguem. Mas eu não sou uma adolescente atual. Eu nasci com os Beatles.
- É sério.- Minha mãe estava começando a perder a paciência, até eu tinha o bom senso de parar de mudar de assunto quando ela demonstrava impaciência.
- Mãe, é sério mesmo, eu não o acho bonito. Nunca acharia. É isso.- Será?, meu subconsciente me detona. Ainda bem que só eu o ouço.
- Okay. Vamos esquecer esse assunto por hora.
- Sim, se "hora" significar "para sempre", vamos esquecer com certeza!
Ela riu. Finalmente o clima pesado evaporou e saiu pelo teto solar do velho Parker.
Sentei no pequeno sofá da sala/cozinha e acabei com a barra de chocolate. Tudo que eu queria era engordar alguns quilos, por que eu não podia?!
Desliguei minha parte racional e me preparei para adormecer. Talvez assim eu esquecesse aquele sorriso tão lind... ridículo da minha cabeça.
- Filha, só mais uma dúvida... E aquele sorriso dele? Achei bem sincero. E bonito...
- Arghhhhhh!- Grunhi me sufocando com uma almofada e arrancando uma gargalhada frenética da minha mãe.
...
- Ei, Bela Adormecida. Hora de acordar.
- Já se passaram cem anos?- Disse grogue.
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Se As Estrelas Contassem Histórias
Teen FictionVocê já imaginou se morasse em um trailer? Se você e sua mãe viajassem o país inteiro sem nenhum propósito e de repente ela decretasse um destino certo sem mais nem menos e vocês tivessem de atravessar o país para chegar lá? Agora imagine que o trai...