05- Lily

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- Ele só me perguntei o porquê de eu o detestar.- Respondi pela quinta vez o assunto da conversa para minha mãe, que não acreditava nunca que era só isso que havíamos conversado.

- Você o detesta, Lily Melody?- Minha mão disse meu nome gritando com uma voz aguda de estourar os tímpanos. Ergui os pés pra cima do banco da frente, ganhando uma repreenda com o olhar da motorista. Enfiei a milésima jujuba dentro da boca e pense em uma resposta eufemista enquanto fazia careta.

- Sim.

- Por quê? Ele parece ser um cara muito bacana.

- Ah, é, sim.

- Então por que o ódio?

- Porque ele só é bacana quando está de boca fechada.- Ela riu e eu finalmente consegui engolir o maldito bolo de jujuba que tinha entalado em minha garganta.

- Você não o acha nem um pouco bonitinho? Quer dizer, até eu, na minha idade já avançada, o achei bonitinho.

- Ele me enoja, mãe.- Respondi amassando o saco vazio de jujuba. Precisava de mais alguma coisa para manter minha boca fechada, se quisesse cortar o assunto. Quem sabe de boca cheia ela não me fizesse responder – ela detesta quando eu falo de boca cheia.

- Sinal que você está atraída por ele e não quer assumir.- Filosofou a Srta. Mary.

- Possa crer, mãe, se eu sentisse algo que não fosse nojo por ele, eu com certeza assumiria. Nunca escondi nada nem de mim mesma.- Disse enquanto me movia pela parte da cozinha do trailer, pescando no armário uma barra de chocolate branco.

- Lily, tente olhar pra ele como se nunca tivessem aberto a boca para trocar palavras.- Ela sugeriu enquanto esperava um sinal de trânsito abrir, me encarando mordiscando o doce.- Pare de comer tanto, daqui a pouco vai ter uma overdose de açúcar.

- Se morre disso?

- Morre.

- Então eu morreria feliz...

- Não mude de assunto.

- Ah, mãe... Sei lá... Eu nunca sentiria nada por ele.

- Não me refiro à sentimentos. E sim à simplesmente achar bonito. Adolescentes atuais não conseguem mais achar alguém bonito sem amá- lo?

- Conseguem. Mas eu não sou uma adolescente atual. Eu nasci com os Beatles.

- É sério.- Minha mãe estava começando a perder a paciência, até eu tinha o bom senso de parar de mudar de assunto quando ela demonstrava impaciência.

- Mãe, é sério mesmo, eu não o acho bonito. Nunca acharia. É isso.- Será?, meu subconsciente me detona. Ainda bem que só eu o ouço.

- Okay. Vamos esquecer esse assunto por hora.

- Sim, se "hora" significar "para sempre", vamos esquecer com certeza!

Ela riu. Finalmente o clima pesado evaporou e saiu pelo teto solar do velho Parker.

Sentei no pequeno sofá da sala/cozinha e acabei com a barra de chocolate. Tudo que eu queria era engordar alguns quilos, por que eu não podia?!

Desliguei minha parte racional e me preparei para adormecer. Talvez assim eu esquecesse aquele sorriso tão lind... ridículo da minha cabeça.

- Filha, só mais uma dúvida... E aquele sorriso dele? Achei bem sincero. E bonito...

- Arghhhhhh!- Grunhi me sufocando com uma almofada e arrancando uma gargalhada frenética da minha mãe.

...

- Ei, Bela Adormecida. Hora de acordar.

- Já se passaram cem anos?- Disse grogue.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora