Não que eu não soubesse daquela droga toda de encontro e blá, blá, blá, mas assim que meu pai chegou, não perguntei nada sobre o resultado, só vi que ele estava meio chateado e nem se despiu, apenas ligou a TV e ficou assim por um bom tempo, sendo tão miserável quanto eu fiquei sendo durante a tarde toda. Éramos parentes, afinal.
Minha mãe espalhava incensos pela casa e fazia biscoitos. Da última vez que ela parara de cuidar o forno para espalhar incensos (ainda antes de estar viciada, na nossa casa antiga), os biscoitos haviam virado carvão. Mas eu e meu pai comemos mesmo assim porque nós a amávamos ainda mais do que amamos atualmente e não queríamos deixá- la triste.
Fui até o quarto e olhei a pequena obra de arte que Stuart Johnson deixara em meu olho pela manhã. A cor roxa ainda não me abandonara e o olho inchava lentamente. Talvez no dia seguinte ao invés de um olho eu tivesse uma berinjela na cara.
Stuart Johnson era do time de basquete, namorava a garota mais popular da escola, acho que o nome dela era Jessica, não lembro agora, apenas a vi parada ao lado dele no começo da aula, recreio e na hora da saída. Ela era linda e loura. E seus olhos eram verdes. Consequentemente, Stuart também era popular e não dava a menor chance dos alunos novos se socializarem e entrarem para seu grupo fechado de amigos riquinhos e populares. Muito menos eu, que não tinha a menor vocação, por isso nunca entraria no time.
A pergunta principal é; por que diabos ele meteu a mão na minha cara. A resposta é simples, sorri ousadamente para Jessica e depois disse que ela era muito bonita. Bem na frente do namorado dela. Sim, eu sou patético.
Não é à toa que aquela menina me detesta, a Lily. Bom, eu também a detesto. Ela é feia, tem o corpo magro demais, parece uma tábua plana e não usa roupas que poderiam criar alguma ilusão de ela ter algo. Talvez ela nem use sutiã porque aquele dia no lago, quando ela deitou no chão, pude ver seus seios minúsculos sobre a camiseta enorme xadrez, e não parecia que ela usava sutiã. Eu sei, sou muito depravado. Ah, e quando ela me abraçou quando a tirei do banheiro público, não senti o relevo que deveria ter que indicava que ela usava a droga do sutiã. Eu sei, sou muito, muito depravado. Ela é grossa, não é delicada como a Jessica e não usa roupas da moda. Não a imagino namorando nenhum cara que seja normal mentalmente, ou um que enxergue.
Vi que ela riu de mim quando entrei na sala com o olho roxo, fiquei até bravo com meu pai quando cheguei em casa e ele confessou que havia subornado com charme a diretora para nos colocar nas mesmas turmas de todas as matérias porque via futuro entre nós. Aí entendi o porquê daquela droga de sorrisinho durante a manhã quando ele disse "", ele sabia que realmente ficaríamos na mesma. Valeu, pai.
Sentia falta de morar na minha casa grande, a que morava com meu pai, minha mãe não viciada e minha irmã.
De repente, tudo mudou; minha irmã fugiu com o noivo, meu pai não aprovava os dois permanecerem juntos porque o moço não podia oferecer um futuro bom à minha irmã, mas ela fugiu com ele, estavam morando na California e todo mês ela mandava um e- mail falando sobre o quanto ela estava sendo rica ao lado do cara. Nossa, eu sempre detestei o cidadão. Meus pais se separaram e minha guarda ficou com minha mãe, que ficou viciada em maconha. Ela quase sempre chegava drogada em casa e repetia coisas sem sentido tendo intermináveis crises de riso bobo em seguida, depois ela chorava e eu tinha que levá- la no hospital antes que começasse a me bater e quebrar tudo que havia em casa, em uma dessas crises eu dei um forte tapa na cara dela, ela até parou de quebrar todos os objetos de vidro que via pela frente mas acho que porque entrou em choque por levar um tapa do próprio filho, incrível que em meio à tanta maconha o cérebro dela ainda pudesse processar duas palavras- chave para ela sacar a situação; filho- tapa- filho- tapa- filho...
Aí meu pai ficou sabendo que todo dia ela ficava chapada e conseguiu minha guarda na justiça, me tirou de casa e disse que iríamos morar aqui em New Orleans. No começo me animei, achei legal que minha mãe finalmente fosse para a clínica se reabilitar, voltar ao normal, àquela mãe que fazia biscoitos, que era rippie e espalhava incensos pela casa toda, mas assim que entrei no carro me arrependi totalmente, não conseguia tirar da cabeça a imagem de minha mãe em uma clínica qualquer sendo tratada como uma drogada qualquer por uma pessoa qualquer com uma frieza já normal por cuidar de todos os outros drogados. Fiquei bem mal, pra falar a verdade.
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Se As Estrelas Contassem Histórias
Teen FictionVocê já imaginou se morasse em um trailer? Se você e sua mãe viajassem o país inteiro sem nenhum propósito e de repente ela decretasse um destino certo sem mais nem menos e vocês tivessem de atravessar o país para chegar lá? Agora imagine que o trai...