14- Lily

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- Meu nome é Vitória Burton. Prazer em conhecê- la.- A menina pálida de cabelos escuros estendeu a mão em minha direção, em um gesto simpático. Hesitei antes de aceitar o cumprimento, mas resolvi dar uma chance à ela, quer dizer, deixei que ela me desse uma chance porque em tais condições que me encontrava, eu não tinha direito de dar chance para ninguém porque eu nem sequer as tinha. Apertei a mão dela em resposta.

- Eu me chamo Lily McLary. Prazer.- Tentei sorrir mas meu melhor sorriso de canto de boca não chegava nem aos pés do sorriso de canto de boca dela, mesmo assim, acho que poderemos nos tornar grandes amigas, afinal, ela é uma das integrantes daquele grupo de meninas que poderiam ser minhas amigas. Ela era pálida como eu, desengonçada como eu, magra como eu e tinha as feições parecidas comigo, a única coisa em nós que não era igual ou parecida era a cor do cabelo e o penteado em que ambos ser armavam; o dela era preto, inebriante e fúnebre, o meu era castanho escuro, enquanto o cabelo dela se juntava em um coque desengonçado, o meu se juntava na tradicional trança desengonçada. E ela, apesar de não se vestir bem e ser quase idêntica à mim de corpo e gestos, ela era mais bonita.

Estava parada à minha frente, se certificando se eu realmente era sua dupla de biologia, e por sorte, eu realmente era. Aí, do nada ela soltou minha mãe e saiu, sem dizer palavra alguma. E depois ela voltou trazendo sua classe, é claro, estava tão feliz por finalmente talvez ter uma amiga nova que começara a me desesperar por qualquer coisa que a pessoa fizesse que incluía; a) me deixar sozinha b) parar de sorrir c) não falar nada e d) me deixar sozinha.

- Então, você prestou atenção no assunto do qual teremos de falar?- Ela perguntou, descontraída enquanto enrolava o dedo indicador, com uma unha excepcionalmente grande pintada de azul e o dedo decorado com dois anéis, em um fio solto do coque.- Será que você pode dar conta sozinha?

- Acho que...- Como assim? Ela não me ajudaria no trabalho? Teria de fazer tudo sozinha para dar uma boa impressão? Droga, eu pretendia nem fazer, deixar tudo por conta da minha dupla...- Acho que posso, sim.

- Ótimo.- Ela abriu a mochila e tirou lá de dentro um tablete de chiclete, o fone de ouvido e o celular. Detalhe; não era permitido mexer em celulares, muito menos escutar música, em ambiente de sala de aula. Mas era óbvio que eu já havia feito aquilo. Não havia quem nunca havia feito em uma aula chata de Literatura ou Inglês. Não nos importamos com as regras, somos jovens, adolescentes e inconseqüentes.- Quer chiclete? É menta...

- Não, obrigada.

E foi isso, ela abriu o caderno e começou a desenhar alguma coisa feia, em seguida passou a folha de papel para o lado, para uma das amigas, que riu e olhou para mim, recomeçando a rir. Deveria ser algo de mim... Passei a mão no rosto discretamente, poderia estar com algo na cara, alguma sujeira ou uma espinha vermelha e ridícula na ponta do nariz ou no meio da testa, mas não percebi absolutamente nada, se é assim, deveria ser de algo que havia feito, oque é ainda pior pois não poderia desfazer. Respirei fundo e adquiri toda a coragem de todas as pessoas do Universo, se havia um namorado em um encontro de café da manhã agora usando sua coragem para pedir a mão da namorada, a menina não casaria me breve, pois a coragem do rapaz em pedir havia sido completa e absolutamente surrupiada.

Simplesmente olhei na cara de Vitória Burton.

- Algum problema comigo?- Perguntei, me arrependendo logo em seguida.

- Com você? Ahn... Nada, viajou, foi?- Ela retirou um dos fones o escondendo debaixo do suéter xadrez.

- Por que olhou para a minha cara e riu?- Perguntei, esquecendo do arrependimento pela primeira pergunta feita à Vitória e relembrando dele em seguida ao fazer a segunda pergunta à outra menina, encarando- a igualmente.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora