O dia seguinte ao da festa amanhecia, era um sábado, e eu percebi recém agora que não dormira nada a noite toda. Por quê? Simplesmente porque Lily Melody não saiu da minha cabeça um só instante. Ainda lembro de quando a detestava. Não faz muito tempo, e agora me pergunto como pude passar de um sentimento tão expressivo quanto esse para o mais profundo amor. Sim, eu estou a amando. Cada hora da festa sem poder tocar nela foi um sacrilégio de passar. Depois, na loja de quadrinhos, nossa distância voltou a aumentar e meu coração batia tão forte que parecia que saltaria do peito a cada vez que ela se aproximava e perguntava se eu queria aquela revista que ela me sugeria. Eu queria poder dizer, naqueles momentos, que eu queria quem estava segurando a revista, mas suspeito que ela ainda não goste de mim da forma que eu gosto dela, e estou disposto a mudar isso. E vou. Quero fazer ela sentir por mim a mesma necessidade de ficar perto que eu sinto por ela, desde que a vi, aquele dia, na praça com o Lucas – eu não a havia seguido, estava na sorveteria, apenas, e na volta os vi - , com a cabeça deitada no colo dele, como eu quisera, a partir daquele momento, que ela fizesse comigo. Talvez ela amasse aquele outro idiota, e isso era preocupante, afinal, nada seria mais doloroso do quê amá- la e não poder ficar ao lado dela.
A preocupação que ela tinha no olhar assim que voltei, por causa do Lucas que havia vomitado, havia visto o negócio inteiro do bar, quando ela segurara os cabelos dele e a testa... Queria ser eu no lugar dele, confesso. Só para ter as mãos dela em mim. Sei que é uma necessidade estranha e muito emergencial, mas não posso evitar senti- la. É involuntário. Porém, foi legal quando ela aceitou ir comigo na loja, depois da festa, e se aproximou um passo de mim. Pareceu, por um instante apenas, que ela tinha a mesma necessidade de chegar perto de mim que eu tinha por ela. Ah, como eu queria poder matar nossas vontades, se fosse assim...
Levantei da cama, procurando coragem pelo mundo para enfrentar meu pai, que deveria estar muito estressado comigo por ter ficado até tão tarde na rua ontem.
Coloquei os chinelos e saí pela porta do quarto, no rumo da cozinha.
Procurei pela presença da minha mãe por algum lugar da sala ou da cozinha, mas só encontrei Mary McLary sentada em nossa mesa, ao lado de meu pai, sorrindo como nunca.
- Bom dia, Markus! Já fiz seu café e algumas panquecas.- Ela disse, simpática como sempre.
- Oi, Mary... Pai, cadê a mamãe?
- Passou a noite na clínica. Ontem, quando você não esteve em casa, ela teve uma crise e... Bem, passou mal. A levei para lá, terá de ficar dois dias naquela droga de lugar. Acho que você deve ir visitá- la durante a tarde.
- Pode convidar a Lily, se quiser. Acho que ela não tem absolutamente nada para fazer...- Foi a melhor ideia que essa mulher deu na vida! Escondi meu sorriso.
- E Mary passou a noite aqui?- Perguntei à meu pai. Ele ruborizou, abaixou a cabeça e sorriu para Mary, que estava ainda mais vermelha que ele.
- Sim, estamos namorando agora. Ela não vai morar aqui, apenas passou a noite porque eu pedi. Estava com a cabeça quente e preocupado com sua mãe... Posso conversar com você depois, sobre isso. Tentar explicar.
- Não precisa explicar, pai. Relaxa! Você tem todo direito de se apaixonar novamente.- Tentei agir com normalidade ao fato de saber que meu pai havia transado com a vizinha e dera sinais claros disso. Não que eu fosse o tipo de garoto inocente que não sabe que o pai transa, mas ele nunca dera sinais tão evidentes disso em toda minha adolescência e resto de vida. Sentei- me na mesa e comi, praticamente em silêncio, apenas respondendo as perguntas que me faziam, as panquecas que ela fizera. Ela era boa cozinheira, seria uma boa madrasta. Mas... eu e Lily seríamos irmãos?!
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Se As Estrelas Contassem Histórias
Teen FictionVocê já imaginou se morasse em um trailer? Se você e sua mãe viajassem o país inteiro sem nenhum propósito e de repente ela decretasse um destino certo sem mais nem menos e vocês tivessem de atravessar o país para chegar lá? Agora imagine que o trai...