A semana passou feito um furacão; dias iguais, aulas iguais, pessoas iguais, aborrecimentos parecidos...
Minha mãe passava mais tempo enfurnada no quarto falando com John ou pintando quadros – esse era o mais novo passatempo dela, já que ela pintara um para o John no começo da semana e ele amara, ela decidira adotar a pintura como hobby. A casa inteira já tinha pegadas de tinta e eu estava surtando com toda aquela desorganização intensa da bancada da cozinha. Acho que estava adquirindo algum espécie de Toque. Lucas também tinha isso. Como eu descobri? Fazendo dupla com ele todo santo dia; ele gostava de deixar os papéis simetricamente arrumados sobre a classe e detestava canetas sem tampa fora do estojo. Algumas dessas manias eu sugara para mim, não sabia como.. Ele não me contara nada sobre a ligação. Na verdade, só falava comigo quando eu lhe perguntava algo, e como decidi deixar o assunto da ligação de lado, ele não falou dela.
Eu ainda levava o livro dele no bolso interno da jaqueta. Continuava sendo meu amuleto. Apesar de estar passando mais tempo com Markus e de estar absoluta e completamente apaixonada por ele, ainda sinto algo pelo Lucas. Algo como uma forte amizade. Não amor.
- O quê achou?- Minha mãe surgiu do quarto, deixando pegadas em amarelo até a sala.
- Romero Britto?!- Perguntei, em voz aguda; ao invés de desenvolver um estilo próprio, minha mãe parecia estar imitando o famoso pintor brasileiro. No quadro dela havia uma flor abstrata. E não era um abstrato bonito. Eu sei que, como filha, eu deveria apoiar minha mãe no que quer que ela quisesse fazer, mas... Sei lá, ela pintava muito mal. Muito mal mesmo.
- É! O quê você achou?
- Legal... Use menos cores. Está ofuscando minha visão.- Disse enquanto colocava a mão sobre os olhos e os semi-abria.
- Isso é porque você vive nas trevas.
- Ah, sim... Filha de Hades, aqui!- Disse, erguendo a mão direita, a que não estava segurando o controle remoto. Sério, parecia que não havia programas decentes em nenhum dia da semana, não só no sábado. E, ou estavam acabando as pilhas daquele controle, ou minha posição atirada no sofá não colaborava muito...
Minha mão voltou ao quarto, e eu torci para que ela pisasse nos mesmos lugares, para não emporcalhar tudo ainda mais. Porque eu teria de limpar, mais tarde.
O interfone tocou e eu me perguntei qual era o espírito condenado ao Tártaro que resolvera encher meu saco sexta à tarde.
- Oi.- Disse, sem vontade, enquanto mantinha os olhos fixos em uma cobra que estava sendo apresentada no Discovery Channel. Cobra interessante...
- Correio. Entrega especial, você pode abrir?- Jurava que conhecia aquela voz; Victor. Mas deveria ser a saudade começando a criar fantasias na minha mente...
- Ahn...- Foi o tempo de apertar o negócio para abrir o portão.- Okay.
Assim que eu bati o interfone, a campainha da porta soou e eu fiquei me perguntando se minha mãe havia comprado mais quadros pela internet – já que, ultimamente, era a única coisa que ela comprava. Abri a porta e alguém voou sobre mim, me derrubando no chão e colando os lábios na minha testa. Tive vontade de bater na pessoa. \e teria batido. Se não fosse Victor.
- Ah, meu Deus! Lily, você está tão gata!- Julian disse, enquanto todos se jogavam sobre mim e Victor. Nossa, que situação linda. Ninguém calou a boca, de tanto gritar... Minha mãe saiu do quarto, apressada, achando que alguém podia estar assaltando a casa, mas quando viu quem era, acabou rindo de tudo aquilo.
- Menina, você deveria cuidar melhor a quem autoriza subir... E se fosse um estuprador, seqüestrador, saqueador te passando a conversa de carteiro?- Victor disse, assim que todos desabaram para o meu lado esquerdo e ficamos todos deitados no chão.
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Se As Estrelas Contassem Histórias
Novela JuvenilVocê já imaginou se morasse em um trailer? Se você e sua mãe viajassem o país inteiro sem nenhum propósito e de repente ela decretasse um destino certo sem mais nem menos e vocês tivessem de atravessar o país para chegar lá? Agora imagine que o trai...