26- Lily- Parte I

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Eu esperava que tudo fosse voltar a ser normal no dia seguinte; que eu o olhasse algumas vezes por instinto e que ele sempre estivesse me olhando, que eu visse algo implícito que eu nunca entenderia nos olhos dele e que a gente só se falasse em alguma necessidade urgente.

Não foi normal até certo ponto.

Quer dizer, eu o olhei mais vezes do quê preverá e ele sempre correspondia aqueles olhares, e agora parecia que tudo de misteriosos e implícito em seu olhar multiplicara- se pelo infinito.

E eu não falei com ele e ele não falou comigo até a quarta aula, quando fui forçada a fazer dupla com a Angelina, que senta atrás dele. E ele fez dupla com, ninguém mais, ninguém menos que, Lucas em pessoa.

- Será que podemos sentar lá na frente? Eu duvido muito que conseguirei enxergar algo daqui...- Tentei mais de uma vez persuadir Angelina, mas ela tinha uma espécie de queda do monte Everest pelo ser que sentava na frente dela - sim, eu tive ciúme quando vi aquilo nos olhos dela quando ela aproximou o pescoço como se dissesse para ele "me morda!" quando fingiu que veria algo em seu caderno, mas foi legal porque ele virou o rosto para frente e se manteve a uma distância segura do pescoço cheiroso e pálido de Angelina - e não queria sair dali nem que Johnny Depp a esperasse ao lado do quadro negro.

Sim, se Johnny Depp me esperasse ao lado do quadro negro eu doaria minha casa.

- Eu não entendo oque você acha que a professora vai escrever no quadro agora sendo que está absolutamente tudo no livro! Por favor, foco no exercício!

É difícil manter foco em alguma coisa quando aqueles olhos castanhos, enormes e imprevisíveis estão sobre mim o tempo todo. Ele está sentado de lado na cadeira, de modo que alterna aquele olhar misterioso para mim e um olhar estreito para Lucas.

Estamos trocando olhares, eu e ele. E não é nada fácil porque ele sempre ganha e ri daquele jeito encantador no fim. Isso me deixa derretida e com todos os pelos da nuca eriçados.

- Oi, Lily.- Lucas virou para trás e sorriu para mim. Markus revirou os olhos e virou de costas. Pelo jeito ele não se auto destruía, como eu fazia quando ele falava com outras meninas.- Eu gostaria de ter te convidado para sair ontem à noite. Mas acabei tendo uns probleminhas em casa com meu irmão e não deu certo.

- Ah, tudo bem.- Eu tentei ser simpática. Ainda bem que ele não pudera pois eu estava com Markus na noite passada.- Olha, você está usando!- Apontei para o suéter de L que ele vestia sob um casaco maior.- Eu também estou.- E aí abri meu casaco e mostrei que vestia o meu suéter.

- Eu não sabia se você ia usar de verdade! Que bom que está usando!- Ele riu e passou a mão nos cabelos ruivos. Parecia uma garota fazendo aquilo nos cabelos - já que os dele eram maiores que o normal - mas era charmoso. Mais ou menos como Markus fazendo aquilo nos cabelos negros...

- Ei.- Uma voz que veio da direita me despertou dos devaneios a respeito de cabelos negros. E o dono da voz era o dono dos cabelos negros. Angelina ergueu os olhos do caderno e olhou bem para a cara dele, como que encantada, ele olhou para ela por um momento e depois para mim de novo.- Aceita subir de novo comigo, hoje à noite?

- Eu... Eu... Acho que... Pode ser.- Me dei por vencida. Lucas olhou nos meus olhos. Eu viajei dos olhos de Markus para os dele e me arrependi em seguida. O caderno merecia minha atenção. Pelo menos ele não me causava confusão sentimental, apenas nos neurônios com aquelas questões de inglês...

- L de Lily.- Lucas continuou nosso assunto de antes de sermos interrompidos por Markus e o último iniciou uma conversa com Angelina, que o observava maravilhada. Lucas sorriu com o canto direito da boca e aquelas pintas que ele tinha na bochecha subiram juntos. Mas não era um sorriso normal; era mais como um "tudo bem, eu estou bem".

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora