13- Lucas

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Eu sabia que ela não precisava de ajuda em pré- cálculo, mas não podia saber porque ela estava ali e não queria que ela fosse embora tão imediatamente por minha culpa, só percebi que ela cuspia uma baforada de hálito de menta na minha cara quando sorria ou falava alguma coisa e me perguntei se meu hálito também cheirava bem assim ou se estava cheirando à gambá morto. Mas ela ainda não havia se distanciado consideravelmente, como algumas pessoas faziam quando seu hálito fedia, então pensei que estava tudo okay dentro da minha boca e nenhum gambá havia realmente morrido lá dentro. E se tivesse, quem havia tirado o cadáver? Eu que não fora.

Pedi que ela esperasse lá fora e pesquei meu caderno de pré- cálculo encima da cama, não queria que ela entrasse, há coisas dentro da minha casa que poderiam assustá- la.

- Podemos ir.- Disse assim que fechei o enferrujado portão marrom- ferrugem.

- Para a praça?

- Para a praça.

E nós fomos para a praça caminhando cautelosamente em meio ao trânsito movimentado de fim de tarde. Já estava começando a anoitecer e estava esfriando consideravelmente, ou talvez o clima entre nós não estivesse tão quente quanto deveria, ou talvez devêssemos ter posto casacos, apesar de ela parecer não sentir frio algum, pois estava com aquela jaqueta jeans que talvez não tirasse por nada.

- O quê você faz em New Orleans, além de estudar loucamente?- Ela perguntou durante a caminhada, estávamos à menos de seis metros da praça onde fingiria que ela não sabia pré- cálculo e a “ensinaria” e ela fingiria que realmente aprendia, quando ela mesma já sabia que era ótima em pré- cálculo. Melhor até que eu, seu suposto professor.

- Eu trabalho. Em uma lanchonete. Do meio dia às cinco da tarde. E você?

- Estou vivendo minha última grande aventura. Que suponho que será bem comprida...

- Vai se suicidar, ou algo do tipo?

- Não!- Ela riu um pouco, talvez me achando um grande idiota agora. Mais do que provavelmente já achava.- Apenas vou parar de viajar com minha mãe. Ela decidiu fixar raízes.

- Uau... Que droga para você.- Esperei que não tivesse soado tão falso quanto imaginava que tivesse porque, na verdade, queria ter dito “isso é fantástico! Poderei continuar gostando de você!”, mas assim discordaria dela e ela me acharia duas vezes mais idiota por ser tão insensível com a tristeza dela por se fixar.

- Sim. É realmente uma droga.

Agora chegamos na praça. Ela é mais arborizada do quê realmente gostaria, e muito mais alegre do que eu gostaria; há crianças correndo e gritando pela extensão toda do parquinho acoplado à praça, há idosos desocupados e aposentados que resolveram sair do conforto de suas casas para praticar exercícios físicos em aparelhos de ginástica próximos ao parquinho e há adolescentes sentados em um banco há três bancos de distância de nós que resolveram começar a se embebedar cedo demais e alguns deles também fumam alguma coisa, atraindo olhares de reprovação dos idosos saudáveis e dos pais das crianças alegres do parquinho. Como se estes nunca tivessem passado pela adolescência. Talvez não devessem se preocupar tanto, somos racionais da maneira mais irracional possível.

- Quer ficar em silêncio e ser, secretamente, admiradores daqueles idosos musculosos?- Eu disse tentando puxar assunto com a menina calada ao meu lado.

- Gosto de copos- de- leite brancos.- Talvez ela ignorasse falas sem sentido que procurassem apenas encontrar um assunto chato que não tivesse continuação. Mas ela não percebia que talvez dizer que gostava de flores brancas também não tinha possibilidade de continuação na minha percepção.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora