Já haviam se passado dois dias desde que Revoltado Markus abandonara nosso convívio para sempre. Quem lhe batizara com esse apelido fora Victor, é claro, que cada vez mais parecia amar sua ausência. Sobre mim, não posso dizer o mesmo.
Peach não se apegou a ninguém mais que não fosse eu e ele. E quando eu digo que ele não se apegou a ninguém, quer dizer que ele sai pela casa tentando morder todos os viventes. Até minha mãe. Se bem que por minha mãe ela tinha um pouco mais de respeito, com certeza devido ao banho no qual ela ajudou.
Ele foi tão fofo dando banho no Peach... Não consigo nem pensar sem sorrir.
Mas ele era um idiota esnobe que ficava bravo com tudo, até com um simples abraço que eu dera em Victor, como se eu realmente amasse o último. Puxa, ele era meu melhor amigo – ok, talvez ele tivesse aquela certa paixão exagerada pela brincadeira de namorados e tal, mas ele era meu amigo – e, sério, eu nunca dei liberdade a ele para distribuir beijos pelo meu rosto ou me abraçar de jeitos estranhos. Mas, de repente, tudo mudara, como se ele fizesse parte de uma aposta e quisesse provar para quem apostara que sim, conseguia fazer oque quisesse comigo porque eu ainda tinha a ideia de melhores amigos na cabeça.
Novidade; ele não podia!
Faz dois dias que venho mantendo uma certa distância dele; não deixo que ele me abrace nem sente do meu lado durante as programações. Tenho certeza que ele percebeu, que se ferre. Ele tem uma grande parcela de culpa sobre Markus ter dado o fora.
Eu me sinto consideravelmente mais confusa, é como se um tsunami de emoções, um furacão de vontades e sentimentos tivesse se apossando de mim, começando por dentro. Ao mesmo tempo que, eu sentia uma profunda raiva de Markus por não perceber que o único a quem eu amava de verdade era ele, sentia esse amor louco e extravagante. Ao mesmo tempo que eu tinha vontade de socar a cara dele por ser tão cético, tinha vontade de beijar ele, principalmente aquele furo estranho e lindo que ele tinha no queixo.
Sem sucesso, eu ainda tentava ter uma ideia para escrever aquela última aventura, guardada com todas as outras, tão esquecida quanto o conteúdo de física da semana antes das férias.
O Natal estava se aproximando, e, ao contrário de todos os anos desde que as viagens começaram, o passaria em uma casa de verdade, não no Velho Parker. Aliás, que saudade daquela droga de trailer. Talvez mais tarde eu fosse lhe fazer uma visitinha... Ao contrário de todos os Natais também, eu sentia alguma certa melancolia. Não estava entendendo o porquê, afinal, tudo estava como deveria e como era perfeito; meus amigos, uma casa, minha mãe voltando para casa com cheiro de bala de café e quadros razoavelmente belos espalhados pela sala. Só havia aquela dor no fundo do meu coração que era mais perceptível do quê eu gostaria; a falta do Markus. Vai ver esse tosco garoto era a causa da melancolia, mas eu sufocava essa evidência; não dava sinais de ser ele, na verdade, não dava sinais nem de estar melancólica.
Susy estava sentada ao meu lado no sofá, consideravelmente quieta desde que começou a consultar o horóscopo – na verdade, eu era quem havia mandado ela calar a boca porque ela queria ler, de todas as maneiras, meu horóscopo e nada no momento me faria tão mal quanto isso porque qualquer coisa que dissesse lá lembraria ainda mais Markus e isso seria péssimo – eu não fazia a menor ideia de onde estava Isabelle, mas algo me dizia que estava procurando um livro entre os meus que agradasse seus gostos literários, pelo menos isso era a última coisa que eu a havia visto fazendo. Victor organizava sua mala para não confundir as calças com as do Jason nunca mais e Jason estava deitado no sofá compenetrado em contar pela terceira vez quantas ripas tinha o forro. Michael estava sentado olhando pensativamente para a tela do celular – jogando Candy Crush – e Julian lia uma cartela sobre regras de xadrez, já que esse era o objetivo de inverno dele; aprender xadrez.
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Se As Estrelas Contassem Histórias
Teen FictionVocê já imaginou se morasse em um trailer? Se você e sua mãe viajassem o país inteiro sem nenhum propósito e de repente ela decretasse um destino certo sem mais nem menos e vocês tivessem de atravessar o país para chegar lá? Agora imagine que o trai...