28- Lily

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Tratei de sair de casa cinco minutos mais cedo para não dar de cara com ele no corredor como todo dia de manhã, minha mãe não me acompanhou porque não sabia da minha mudança de rotina. E se ela perguntasse, diria que é até bom mudar a rotina às vezes. Desacostumar o interior e etc...

Corri mais rápido que o normal até a escola e não parei para cumprimentar alguns dos meus novos amigos – incrível quantos amigos se pode fazer em três semanas cujas você não está com a cabeça nas nuvens de paixão.

Apenas subi até a porta da sala de aula que ultimamente tem estado aberta e entrei na sala de aula, me dirigindo até a janela que ficava logo acima da minha classe, já que eu sentava ao lado da parede, naquela aula em dupla com Emily.

Vi ele entrando pelo portão dez minutos após longa espera. Ele direcionou sua cabeça para cima e me viu, e então logo desviou os olhos e ficava olhando a intervalos de cinco minutos. Dois intervalos depois o sinal bateu e ele subiu tão rápido quanto eu e, quando três ou quatro pessoas chegaram, ele surgiu atrás, pela porta. Ele me encarou. Segurava uma garrafa de H2O e, definitivamente, me encarava. Olhei de volta, ele ruborizou, desviei os olhos e de canto de olho vi que ele ainda olhava.

Sentei na minha cadeira e tirei os materiais da bolsa e vi que ele me imitava, só que ele sentava do outro lado da sala, oque era muito melhor para observá- lo. Não que eu ficasse fazendo isso toda hora, porque eu não fazia, é claro...

Emily chegou e sentou- se ao meu lado silenciosamente. Era bom quando ela resolvia ficar calada, e ficara ainda mais calada desde que lhe contei sobre Lucas, já que ela também fora enganada. E já que ela tinha uma queda do monte Everest oculta por ele.

- Oi.- Ela finalmente disse, sorrindo amarelo. Era incrível como, depois de três semanas, a pessoa ainda não superara uma mudança repentina de escola de seu grande amor. Sim, Lucas saíra da escola, até porque ele tivera que sair da casa da tia e voltar para sua mansão na California.

- Oi.

- Tudo bem?

- Ótimo. Nunca esteve melhor.

- Uau, tudo isso é bom humor?

- Parcialmente.- Eu ri e ela me acompanhou.- O quê vai fazer esta tarde?

- Cinema, shopping, você sabe, qualquer coisa à toa...

- Hum... Se quiser me chamar, estou disponível.

- Certo. Vou ver um programa legal para nós duas e te ligo.

- Ótimo.

E acabou o assunto. Geralmente nossas conversas não eram exatamente oque se poderia chamar de longas. As conversas longas eram reservadas para Vitória, que, sinceramente, estava começando a se tornar minha melhor. Talvez mais do que Susy ou Izzy.

Virei para o lado e vi os olhos de Markus pousados sobre mim. Ele mexeu no cabelo sedutoramente e olhou para o caderno, me deixando desnorteada e levemente decepcionada, esperava observá- lo por algum tempo e tentar transmitir algo pelos olhos que eu não conseguiria dizer nem escrever. Pelo jeito fora um péssimo plano.

...

A aula toda passou com essas trocas de olhar fugazes, um fugindo do outro e ele ganhando na maioria das vezes essa competição. Fora um plano pior do que péssimo porque eu não suportava olhar no fundo daqueles olhos que diziam tanta coisa e pareciam ter uma certa tristeza no fundo.

A aula de gramática não trouxe inspiração, talvez isso só rolasse de verdade com ele ou talvez fosse besteira.

E quando eu cheguei em casa, após uma corrida revigorante com uma mochila pesadíssima – porque todas as pessoas que pegaram empréstimos de meus cadernos resolveram devolvê- los hoje – eu pensei que talvez fosse a hora de escrever.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora