08 - Lily

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O despertador tocou, me alertando que já era hora de enfrentar o primeiro dia de uma longa carreira escolar. Primeiro ano do ensino médio, sem preparação alguma de qualquer ano anterior, que eu não tivera, apenas a noção básica de tudo que eu havia estudado pela internet por alguns meses. Era assustador pensar naquilo, todos me encarando, esperando que eu fosse uma colega nova fantástica e inteligente, todas as características que faziam alguém ser logo querido em algum lugar, quando na verdade a principal característica que fazia alguém parcialmente sociável eu já não tinha, logo de cara, as pessoas não iriam me querer por perto porque eu não a tinha; beleza.

Me olhei no espelho do banheiro percebendo, pela primeira vez de muitas no dia, o estado deplorável em que me encontrava; meus olhos verdes com enormes bolsas embaixo, olheiras de sono e de tanto chorar por falta dos meus amigos e de nervosismo com o dia de hoje. Duas espinhas tamanho família na minha testa, que eu pretendia esconder com alguma centelha de franja.

Tomei um banho demorado e frio demais para a temperatura. Vesti calças jeans rasgadas e desenhadas de caneta esferográfica azul - não, a lavanderia não teve sucesso em remover as manchas mais difíceis, mas até que a peça havia ficado legal toda riscada - a jaqueta jeans de aviador por cima de uma camiseta dos Smiths, consegui fazer minha franja da maneira mais arranjada possível escondi com perfeição minhas espinhas. Apenas enfiei os matérias das aulas daquele dia, escritas no bilhete junto com a lista de materiais e vários livros para o caso das aulas serem um tédio ou para o caso de eu não encontrar companhia no recreio - a segunda opção era a mais provável, já que teria de prestar muita atenção nas aulas caso quisesse recuperar minha falta de ensino - , coloquei minhas botas e saí pela porta do apartamento. Minha mãe não me levaria pois estava dormindo desde ontem, cheguei até a conferir sua respiração para saber se ela realmente dormia ou se já tinha passado dessa para uma melhor, para alívio geral da população, ela apenas estava dormindo, mas já deveria estar em coma induzido à essas horas.

Encontrei John saindo com Markus, a cara dos dois parecia bem cansada, deveriam estar tendo problemas com a mãe dele que já deveria estar morando com os dois. Foi também nessa hora que descobri que eles moravam no 334, do nosso lado, vizinhos de novo.

- Lily! Bom dia! Saindo para a escola?- John perguntou, tentando ser simpático enquanto esfregava os olhos que continham olheiras tão grandes quanto as minhas, porém o lápis e o rímel escondiam um pouco das minhas. - Quer carona?

- Oh, não! Prefiro não incomodar...

- Onde você estuda?

- Saint James Scorpett.- Ditei o nome da escola em entonação de pergunta, lendo no papel que dizia minhas salas, minhas matéria, e o resto todo. Que droga de nome é esse?

- Então não será incômodo nenhum! Você e Markus estudam na mesma escola! Isso não é legal? Poderão virar amigos, espero que fiquem na mesma turma!- Ele disse animado. Só ele não percebia que isso seria uma espécie de catástrofe nuclear para nós dois.

...

A escola era normal, ou tão normal quanto pode ser para alguém como eu, que só conhecia escolas pelos filmes que passavam na micro TV do velho Parker.

As paredes, todas pintadas do mais sem graça verde musgo que se vendia por ali, todas descascadas, provavelmente corroída por anos de alunos com dedos inquietos e falta de pintura, bancos brancos (ou talvez teriam sido na época remota e antiga do meu avô) dispostos por todo o pátio, repleto de árvores à cada três metros cúbicos, haviam algumas flores amarelas num jarro perto da porta de entrada, as únicas coisas que tiravam um pouco do verde- branco monótono do lugar. Havia um porteiro velho com óculos redondos parecidos com o do Harry Potter ao lado do portão, provavelmente supervisionando se nenhum aluno sairia correndo, fugindo de uma possível e provável aula chata de química com uma professora velha e ainda mais chata.

Se As Estrelas Contassem HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora