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Então era isso, Ricardo havia mesmo sumido.

Quando me dei conta disso, o chão evaporou-se dos meus pés, meu estômago embrulhou e as lágrimas caíram copiosamente pelo meu rosto, me fazendo soluçar.

Alguém — tia Lena talvez? — me levou até um dos bancos, na primeira fila, e eu joguei o corpo, desolada. 

Olhei para o lado direito, perto do altar, onde Ricardo estava meia hora atrás, sorrindo para mim de maneira radiante.

Sim, ele sorria!

Puxei a respiração por diversas vezes seguidas, tentando... tentando...

Entender!

Meu noivo havia sumido. 

Deus! Como isso é possível?

   — Larinha — ouvi a voz de Linda chamar ao longe, meu ouvido zunia, disperso —, fala alguma coisa.

Olhei para ela, muda.

Ela estava abaixada, de frente para mim, me encarando com seus enormes e assustados olhos, minha tia imitava sua postura, segurando firme minha mão; Guga, sentado ao meu lado, me abraçava de maneira protetora. Mais adiante avistei tio Fernando, enfiado embaixo dos bancos, procurando pela peruca. Papai e Július discutiam alto, enquanto Carmem e o padre tentavam, em vão, intervir.

E Ricardo? Onde estava Ricardo?

— Ir- res-pon-sá-vel! — escutei papai gritar. — Seu filho é um irresponsável!

   — Não ouse chamá-lo assim! — meu sogro esbravejou, indignado.

   — Meus filhos, nós estamos na casa de Deus.

   — Deus o escambal! — Július rosnou para o padre.

É um pesadelo, só pode ser pesadelo!

As lágrimas rolavam, silenciosamente, e meus pensamentos se afogavam em lembranças. Nelas encontrei Ricardo, roubando-me um beijo em meio àquela multidão.

Levei a mão ao peito, inconsolável, enquanto revivia nossos momentos. Porque fomos felizes, fomos sim. E agora... Agora tudo foi embora — meus sonhos, meus planos, meu chão... — como ele foi. 

   — Beba, querida, vai te deixar mais calma.

Olhei para o lado. Era Dávila, me estendendo um copo d’água gelada, peguei e bebi no automático, depois devolvi para ela.

   — Larah, fala alguma coisa — tia Lena pediu —, por favor.

   — Ela está em estado de choque, mãe.

Ricardo... onde está você?

—... Cancelado! — a voz de papai invadiu meus tímpanos — O casamento está cancelado!

Não.

   — Não! — gritei, me levantando.

Alguém me segurou por trás.

   — Pirralha, fique calma — Guga pediu, tentando me conter.

   — Não! — repeti, esperneando-me. — Não, não, não!

Carmem caminhou até mim, furiosa. Chegou perto, ergueu meu queixo com suas unhas grandes e bem pintadas e sorriu, com desdém.

  — Pode parar o teatro — ela disse toda mandona —, você sabia que isso iria acontecer. Você sabia!

Eu?

   — Como você pode ser tão cruel? — Tia Lena questionou.

Deixei escapar um soluço.

O Noivo Sumiu - em busca de respostasOnde histórias criam vida. Descubra agora