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Permaneci em silêncio o caminho quase todo, a cabeça recostada na janela, a mão no pingentinho, lágrimas descendo por meu rosto.

Senti uma dor incômoda no peito, uma sensação de perda.

Bela não disse nada, mas vez ou outra segurava em minha mão e fazia carinho.
Não sarava o coração partido, mas me lembrava de que, apesar de tudo, eu ainda a tinha comigo.

  — Se eu estivesse nessa viagem com Lucas — comecei, enxugando as lágrimas —, nós já teríamos dado carona a um casal de estranhos, ido à uma praia famosinha, seríamos roubados e até presos. Teríamos batido de frente algumas vezes e feito as pazes logo em seguida. Daria tudo errado, mas as coisas se ajeitariam depois, porque isso é nós.

  — Ah, flor...

  — Tudo bem, Bela. Eu vou guardar essas lembranças pra sempre. Lucas foi a parte mais bonita da minha história como mulher.

  — Ele deve ser muito especial.

  — Ele é. Eu quero que ele seja muito feliz, que tenha uma família bacana como sempre desejou, e que nunca volte à merda de um hospital outra vez.

  — Como ele é?

  — Divertido, sexy, charmoso, convencido e muito, muito inteligente. Lindo também, tem os olhos azuis e quando sorri, duas covinhas se afundam em suas bochechas.

  — Você está descrevendo um mocinho desses romances que costuma ler — minha amiga brincou.

Sorri.

  —  Poderia ser, só perderia para o Ian Clarke.

Foi a vez dela de rir.

  — Bela.

  — Oi, flor.

  — É muito egoísmo querer que Lucas seja feliz, mas comigo?

  — Um pouco. Mas somos seres humanos, ser egoísta faz parte de nós. Alguns mais que outros.

  — Eu me sinto mal por pensar assim.

  — Não se culpe por querer ficar ao lado do homem que ama.

  — Como você sabe que eu o amo?

  — Porque só o amor da sua vida faria você roer as unhas.

Eu ri.

Nem tinha me dado conta disso.

  — Chegamos — Bela anunciou, estacionando o carro em frente de casa.

  — Eu nunca pensei que voltar pra casa seria tão doloroso.

  — Quer mesmo ir praí? Podemos ir ao seu apartamento.

  — Eu preciso. Estou com saudade da minha família, mas... É, você sabe com quem eu queria estar agora.

  — Se isso é uma cantada, flor, saiba que eu gosto de pirocas.

Eu ri alto.

  — Obrigada, Bela. Por isso e por tudo.

Bela me encarou e sorriu.

  — Estou sempre aqui.

Aquiesci e desci, ela foi embora.

Me aproximei e bati na porta.

Papai foi quem abriu, ao me ver, me abraçou bem apertado.

  — Que falta você fez. O que aconteceu, boneca?

  — A rota ficou difícil — murmurei —, e seus braços foram meu caminho de volta.

  — Boneca — lamentou —, esse velho careca sempre estará aqui.

O Noivo Sumiu - em busca de respostasOnde histórias criam vida. Descubra agora